terça-feira, maio 16, 2006

Resta saber se viveríamos felizes para sempre…

Depois de um serão desmotivante a tentar motivar formandos distraídos em conversas no MSN, entro em casa cansada, com vontade de me atirar para cima da cama e desligar-me do mundo, entrar naquele que é só meu − o da imaginação − em que só eu toco, e que manipulo a meu belo prazer.
Mais eis que, transposta a porta da entrada, deparo com um barulho estranho, desconhecido no meu habitat, um misto de chiar, com o do friccionar de tecidos hirtos, que atribuo-o, automaticamente, às calças que trago vestidas. Depois hesito, penso que não pode ser, que devo estar a ficar maluca, que tenho, pela certa, água nos ouvidos, que foi do fim-de-semana surreal que tive. Parece um grilo… mas ainda aprendiz de tenor, a precisar de aulas de canto… mas não, não pode ser, como chega ao meu andar um grilo?, de elevador não é pela certa e pelas escadas também não. Paro, escuto e olho, atravesso a casa de nascente a poente, fixo-me no barulho do autoclismo, nada, frio, friíssimo, sigo até à cozinha, morno, à porta que dá para a sala, quente, à outra porta, quentíssimo, a escaldar, e dou de caras com um grilo, um belo grilo, elegante, bem composto, de fraque preto e tudo.
Ah!, haviam de ver o efeito, dissipou-se-me logo a nostalgia, estampou-se-me um sorriso apatetado na cara, especialmente por que não ofereceu resistência, subindo-me para a mão com vontade, aceitando de bom grado a casa improvisada que lhe arranjei e atirando-se com gosto à única comida que na minha carnívora e bem nutrida casa, me pareceu adequada a tal ser: um pedaço húmido de maçã.
E eu que, há alguns meses, reflicto na possibilidade de partilhar a minha independência com um animal de estimação, namorando na rua os cães dos vizinhos, piscando o olho aos gatos vadios, a ver se me convenço, vejo-me agora a braços com a responsabilidade forçada de ter de cuidar de um grilo.
Uma coisa é certa: amanhã, comprar-lhe-ei alface; à tarde, arranjar-lhe-ei uma sombra; e à noite, quando regressar do trabalho, soltá-lo-ei no jardim de casa da minha irmã, para que seja feliz.
É que não quero ninguém a viver comigo preso. Se bem que − e digo-vos isto quase com a certeza − desconfio que veio com vontade de ficar e que se o beijasse com paixão, se transformaria num Príncipe.
Resta saber se viveríamos felizes para sempre…

1 Comments:

Blogger Lis said...

:-) e se ela (sim porque pode ser uma fêmea)fosse uma fada que se tivesse engando no caminho só para te salvar o dia? Tal como tu mesma o deves ter feito tanta vez, mesmo a esses formandos mais mensageiros que aprendizes...
Lis

10:21 da manhã  

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