Cuidado com o homem que não mexe o estômago de quando ri...
Ele pediu um café, enquanto ao longe olhava um televisor perdido, algures, entre muitos outros ruídos do local.
Estava velho, pensou.
As imagens na sua memória sobrepunham-se às do ecrã e relembravam-lhe o filme que melhor conhecia, aquele em que fora ele mesmo o actor principal. Esboçou um sorriso e apresentou-se em jeito de James Bond ao público que, naquele momento, se resumia a ele próprio: Boavida, Grande Cabrão, Boavida.
Lembrou-se dos amigos e das farras... Dos carros que todos os anos entravam na sua garagem, “limpinhos”, como gravatas de seda acabadas de chegar de uma Lavandaria 5 à Sec... Lembrou-se das gajas que comera com gosto, salgadas do mar, coradas do sol, misturadas com ostras e lagostas e que talvez o tenham comido a ele nas três mil “mocas” que lhe cobravam no fim... Lembrou-se com especial prazer daquele sublime duelo entre “aventais” e “bíblias” em que ele levara a melhor àquele tipo que todos julgavam imbatível... e riu-se. Riu-se dos governos a cair, dos ministros a tombarem um a um, qual pinos de Bowlling e ele sempre em pé, porque o maior truque nestas coisas é como em todas as outras, ser incógnito, não ter rosto. Ele era apenas um boa-vida, um grande cabrão boa-vida... Aquele a quem era permitido mijar em público, tirar as calças ao luar, berrar para aliviar o stress...
E riu-se. Escangalhou-se a rir, mas assustou-se quando reparou que apesar das contracções das gargalhadas o seu estômago não se movia. Ter-lhe-ia parado a digestão? Ter-lhe-ia parado o coração? Talvez nem o tivesse... Por um momento empalideceu. Levou a mão ao estômago e pressionou... devagarinho... Mas nada, nem um movimento só.
Nessa altura o café que pedira aterrou à sua frente. A mistura “adrenaleica” do cheiro da cafeína com a nota de cinquenta euros com que pagaria foi remédio santo: discretamente o gás do D. Pérignon que bebera ao jantar subiu pelo o seu esófago indo desaguar-lhe, quase silenciosamente, à boca.
Estava velho, pensou.
As imagens na sua memória sobrepunham-se às do ecrã e relembravam-lhe o filme que melhor conhecia, aquele em que fora ele mesmo o actor principal. Esboçou um sorriso e apresentou-se em jeito de James Bond ao público que, naquele momento, se resumia a ele próprio: Boavida, Grande Cabrão, Boavida.
Lembrou-se dos amigos e das farras... Dos carros que todos os anos entravam na sua garagem, “limpinhos”, como gravatas de seda acabadas de chegar de uma Lavandaria 5 à Sec... Lembrou-se das gajas que comera com gosto, salgadas do mar, coradas do sol, misturadas com ostras e lagostas e que talvez o tenham comido a ele nas três mil “mocas” que lhe cobravam no fim... Lembrou-se com especial prazer daquele sublime duelo entre “aventais” e “bíblias” em que ele levara a melhor àquele tipo que todos julgavam imbatível... e riu-se. Riu-se dos governos a cair, dos ministros a tombarem um a um, qual pinos de Bowlling e ele sempre em pé, porque o maior truque nestas coisas é como em todas as outras, ser incógnito, não ter rosto. Ele era apenas um boa-vida, um grande cabrão boa-vida... Aquele a quem era permitido mijar em público, tirar as calças ao luar, berrar para aliviar o stress...
E riu-se. Escangalhou-se a rir, mas assustou-se quando reparou que apesar das contracções das gargalhadas o seu estômago não se movia. Ter-lhe-ia parado a digestão? Ter-lhe-ia parado o coração? Talvez nem o tivesse... Por um momento empalideceu. Levou a mão ao estômago e pressionou... devagarinho... Mas nada, nem um movimento só.
Nessa altura o café que pedira aterrou à sua frente. A mistura “adrenaleica” do cheiro da cafeína com a nota de cinquenta euros com que pagaria foi remédio santo: discretamente o gás do D. Pérignon que bebera ao jantar subiu pelo o seu esófago indo desaguar-lhe, quase silenciosamente, à boca.
Ele voltou a sorrir...
Não ter coração qual quê!!!, exclamou para si próprio.
E, piscando o olho à Manuela Moura Guedes que agora aparecia na TV para creditar as notícias, assegurou: Mais do que coração, às vezes, na porra desta vida, é de estômago que a gente precisa!!!.
© Sofia Bragança Buchholz. Reprodução Interdita
Não ter coração qual quê!!!, exclamou para si próprio.
E, piscando o olho à Manuela Moura Guedes que agora aparecia na TV para creditar as notícias, assegurou: Mais do que coração, às vezes, na porra desta vida, é de estômago que a gente precisa!!!.
© Sofia Bragança Buchholz. Reprodução Interdita
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