quarta-feira, agosto 10, 2005

EROS E PSIQUE

… E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

DO RITUAL DE GRAU DE MESTRE DO ÁTRIO NA ORDEM TEMPLÁRIA DE PORTUGAL


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que a Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o seu Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


In "Fernando Pessoa, Obra Poética", Circulo de Leitores, 1986, pp. 261-262

2 Comments:

Blogger José Pires F. said...

Magnifico!
De Pessoa esperar cousa outra, seria um erro.

11:23 da manhã  
Blogger MRA said...

Olá,

passei por aqui e não posso de admirar as tuas fotografias, bem como as escritas.

Realmente a alma vestiu-se de castanho, já não nos chegava o fado (e há fados bonitos)agora é este castanho, estas cinzas, este desejo de um Sebastião molhado, enfim!

Obrigado pelas imagens fantásticas...

MRA

12:40 da tarde  

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