Os novos amigos subindo-lhe à cabeça
Quando nessa tarde desceram, como era hábito, ao Jardim, Lunata estranhou Demiurgo. Notava-lhe um alheamento que não lhe era familiar, uma distracção que não se lhe apresentava comum, e – estes, sim, foram os sinais que mais a preocuparam – um sorrisinho irritante e umas respostas de gosto duvidoso que Lunata desconhecia ao amigo.
Era verdade que Demiurgo, a fazer jus à sua nobilíssima genealogia, era um snob, mas tal não significava que fosse convencido, nem muito menos tonto. Mas foi como tonto que se portou nessa tarde, rejeitando as sugestões e ideias dela, substituindo-as por opiniões de Pessoa ou Mann, não, deixa estar, eu pergunto ao meu amigo Fernando, dizia, ou ainda O meu amigo Thomas acha isso um disparate, sempre coroadas desse irritante e ignóbil sorrisinho.
Lunata afastou-se a pretexto de ir cumprimentar os peixes do lago, deixando Demiurgo sentado no banco ripado, entregue em pensamentos a esses seus novos (grandes) amigos. Pateta, exclamou. Amigos, qual quê! Mas onde estavam esses amigos quando, às portas da morte, delirava de febre?! Onde estavam esses amigos quando, eufórico, caçou a primeira imagem? Onde estavam esses amigos quando, todos os dias, àquela hora, desciam ao Jardim?
Ela, sim, era sua amiga. Os outros… os outros apenas pairavam pela sua cabeça.
Era verdade que Demiurgo, a fazer jus à sua nobilíssima genealogia, era um snob, mas tal não significava que fosse convencido, nem muito menos tonto. Mas foi como tonto que se portou nessa tarde, rejeitando as sugestões e ideias dela, substituindo-as por opiniões de Pessoa ou Mann, não, deixa estar, eu pergunto ao meu amigo Fernando, dizia, ou ainda O meu amigo Thomas acha isso um disparate, sempre coroadas desse irritante e ignóbil sorrisinho.
Lunata afastou-se a pretexto de ir cumprimentar os peixes do lago, deixando Demiurgo sentado no banco ripado, entregue em pensamentos a esses seus novos (grandes) amigos. Pateta, exclamou. Amigos, qual quê! Mas onde estavam esses amigos quando, às portas da morte, delirava de febre?! Onde estavam esses amigos quando, eufórico, caçou a primeira imagem? Onde estavam esses amigos quando, todos os dias, àquela hora, desciam ao Jardim?
Ela, sim, era sua amiga. Os outros… os outros apenas pairavam pela sua cabeça.
2 Comments:
...nunca existiram...
É tão difícil suportar a realidade quando um pretexto nasce para fugir dela.
beijo
Na "mouche", Ahraht!
Beijo
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