terça-feira, abril 17, 2007

Rotinas

Todo o dia Lunata escreveu cartas. Cartas informativas, cartas de amor, cartas de despedida.
Selou-as, a todas, com a suavidade húmida dos seus lábios macios.
Endereçou-as a conhecidos, a Demiurgo, a amigos.
Empilhou-as, metodicamente, em montinhos cuidados.
Pousou a pena, tapou o tinteiro, soprou a vela.
Despiu-se às escuras, enfiou-se sob o frio dos lençóis e enroscou-se, instintivamente, como um bicho-de-conta.
Rezou, contou carneirinhos até cento e dois e apagou, assim, por mais uma noite, a estúpida monotonia dos seus dias.