A Inveja
O calor hiperboliza-me a solidão e regresso a casa com saudades tuas, Meu Amor, com saudades das bebidas frias tomadas na varanda à luz da Lua, ao som do acasalar dos grilos.
Esperam-me duas centopeias na parede, gordas, grandes, cheias como o luar que nos iluminava, faz tempo. Miro-as e adivinho-lhes a felicidade no fresco dos frisos do tecto, na porosidade húmida do estuque. Tento ignorá-las mas descubro uma terceira, pequenina, minúscula, frágil… bebé. Enraivece-me aquela harmonia e encontro na invasão um pretexto para a destruição daquela família: cobardemente, começo pela mais pequena; seguem-se as outras: esborracho-as uma, duas, três vezes, vejo-lhes as cem pernas desprenderem-se do corpo, tremelicarem, impotentes, face à morte, face à inveja – esse pecado mesquinho – da minha hiperbolizada solidão.
Esperam-me duas centopeias na parede, gordas, grandes, cheias como o luar que nos iluminava, faz tempo. Miro-as e adivinho-lhes a felicidade no fresco dos frisos do tecto, na porosidade húmida do estuque. Tento ignorá-las mas descubro uma terceira, pequenina, minúscula, frágil… bebé. Enraivece-me aquela harmonia e encontro na invasão um pretexto para a destruição daquela família: cobardemente, começo pela mais pequena; seguem-se as outras: esborracho-as uma, duas, três vezes, vejo-lhes as cem pernas desprenderem-se do corpo, tremelicarem, impotentes, face à morte, face à inveja – esse pecado mesquinho – da minha hiperbolizada solidão.
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