quinta-feira, janeiro 17, 2008

Uma ASAE mais pedagógica e menos militar

É indiscutível a necessidade de uma entidade que regule o sector alimentar e a actividade económica. É, sim, discutível a forma como essa entidade actua e os limites da sua intervenção. O mal começa logo pela designação – “autoridade” – a fazer lembrar "apitos e ordens" ao estilo do caricato polícia dos desenhos animados do Noddy e da sua célebre frase: “Parados, em nome da lei!”.
Evidentemente que a falta de higiene na restauração ou o abuso dos direitos de autor, entre tantas outras coisas, têm de ser corrigidos. Isso não é questionável sequer. O que me parece exagerado, chocante até, é que essa entidade receba treino militar e actue encapuçada como se lidasse com os maiores terroristas à face da terra.
Só quem não conhece a realidade empresarial portuguesa pode pensar que os empresários nacionais (a sua grande maioria, pequenos e médios) são indivíduos preparados, cultos, informados. A maior parte deles mal sabe ler, quanto mais interpretar uma lei! A economia nacional move-se à custa de “self-made men” que corajosamente arriscaram o seu capital para abrirem a lojinha na esquina ou o cafezito do bairro. Os mais aventureiros, a fábricazeca. Não sabem o que é um balanço, um relatório de contas, nem percebem de recursos humanos ou de higiene e segurança no trabalho. Não pensem que com isto os estou a desresponsabilizar na parte por que devem ser punidos, se tal for o caso. Nada disso. Apenas quero chamar a atenção para a realidade que temos. Chamem-lhe medíocre se quiserem, mas é o que há.
Fechar metade dos cafés existentes no país (como se ouve, para aí, dizer o inspector da ASAE) parece-me assustador para uma economia já por si periclitante. Atulhar os já atulhados tribunais com processos a que não vão conseguir dar vazão, parece-me desastroso.
Por isso, parece-me muito mais correcta uma actuação da ASAE mais pedagógica, mais tecnicamente preparada, menos militarmente apetrechada, a fim de elucidar (quem sabe, até formar) e não simplesmente punir, os agentes económicos.

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