9 de Novembro de _ _ _ _
Hoje só queria voar...
Fugir para longe... longe até de mim.
Perder-me no espaço... eu e o azul... Só e apenas eu e o azul.
“— Quatro elementos, o quinto é Cristo, o sexto o nada, e o nada é o tudo e tudo é Deus.” — revelou-me ele ontem ao telemóvel às tantas da matina.
Conversa de esquizofrénicos... “— Como é que um “esquizo” pode ganhar tanta massa como eu?” — gozou. — “Que me chamem “esquizo” à vontade...” — permitiu por entre uma das suas típicas gargalhadas sarcásticas.
Hoje só queria voar... desintegrar-me no cosmos... virar partícula, pó.
Estou “crucificada” por uma cruz orbicular que vi um dia brilhar num peito... que fez o meu saltar a galope, como se quisesse definitivamente arrancar-se de mim.
A camisa branca, os botões de punho vermelhos, o pescoço inclinado a segurar a conversa que o prende horas a fio a um universo que desconheço, mas a que me comecei a habituar, os óculos de tartaruga a sublinharem a expressão carregada das sobrancelhas e o escuro dos olhos. Foi assim que me abriu a porta do quarto naquele dia... de boxers pretos, Versace, a “desarmar-me”... estávamos em Março, talvez. Depois o banho... as minhas mãos nas suas costas a medo, porque ele estava com os seus raciocínios e quando assim é não sobra espaço para mais ninguém, as minhas mãos em concha a mergulharem na banheira, a deixarem escorrer lentamente as gotas em forma de carícias e depois mais determinadas em tom de massagem. Estávamos em Março, mas hoje esse dia esteve tão presente que o sinto ainda. Depois mergulhou entre os lençóis, exausto, a televisão ligada a creditar informação em flashes consecutivos no quarto escurecido pelo cansaço e pela beleza da intimidade. “— Não estás muito vestida, rapariga?” — perguntou quando me requisitou para o seu lado, na cama, e eu respondi estendendo os braços para deixar que me roubasse a camisola de malha de seda de gola alta, e me envolvesse nos seus.
Estávamos em Março e ontem em Novembro e a voz dele do outro lado da linha a entrar-me pelo corpo adentro como naquele dia, ao ouvir: “Ainda te vou comer... Ainda te vou voltar a comer...” Que cruel é a paixão que nos devora e nos faz querer ser devorados até à exaustão!
Estávamos em Março hoje em Novembro e as palavras soam diferentes, mas o corpo reage igual, igualzinho, àquela voz, àquela "cruz", que um dia vi brilhar num peito, que beijei até me perder, que beijei para me perder...
Fugir para longe... longe até de mim.
Perder-me no espaço... eu e o azul... Só e apenas eu e o azul.
“— Quatro elementos, o quinto é Cristo, o sexto o nada, e o nada é o tudo e tudo é Deus.” — revelou-me ele ontem ao telemóvel às tantas da matina.
Conversa de esquizofrénicos... “— Como é que um “esquizo” pode ganhar tanta massa como eu?” — gozou. — “Que me chamem “esquizo” à vontade...” — permitiu por entre uma das suas típicas gargalhadas sarcásticas.
Hoje só queria voar... desintegrar-me no cosmos... virar partícula, pó.
Estou “crucificada” por uma cruz orbicular que vi um dia brilhar num peito... que fez o meu saltar a galope, como se quisesse definitivamente arrancar-se de mim.
A camisa branca, os botões de punho vermelhos, o pescoço inclinado a segurar a conversa que o prende horas a fio a um universo que desconheço, mas a que me comecei a habituar, os óculos de tartaruga a sublinharem a expressão carregada das sobrancelhas e o escuro dos olhos. Foi assim que me abriu a porta do quarto naquele dia... de boxers pretos, Versace, a “desarmar-me”... estávamos em Março, talvez. Depois o banho... as minhas mãos nas suas costas a medo, porque ele estava com os seus raciocínios e quando assim é não sobra espaço para mais ninguém, as minhas mãos em concha a mergulharem na banheira, a deixarem escorrer lentamente as gotas em forma de carícias e depois mais determinadas em tom de massagem. Estávamos em Março, mas hoje esse dia esteve tão presente que o sinto ainda. Depois mergulhou entre os lençóis, exausto, a televisão ligada a creditar informação em flashes consecutivos no quarto escurecido pelo cansaço e pela beleza da intimidade. “— Não estás muito vestida, rapariga?” — perguntou quando me requisitou para o seu lado, na cama, e eu respondi estendendo os braços para deixar que me roubasse a camisola de malha de seda de gola alta, e me envolvesse nos seus.
Estávamos em Março e ontem em Novembro e a voz dele do outro lado da linha a entrar-me pelo corpo adentro como naquele dia, ao ouvir: “Ainda te vou comer... Ainda te vou voltar a comer...” Que cruel é a paixão que nos devora e nos faz querer ser devorados até à exaustão!
Estávamos em Março hoje em Novembro e as palavras soam diferentes, mas o corpo reage igual, igualzinho, àquela voz, àquela "cruz", que um dia vi brilhar num peito, que beijei até me perder, que beijei para me perder...
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