quinta-feira, agosto 25, 2005

Simão, o hipocondríaco II

Personagens:
Simão, 4 anos
Tomás, 7 anos
Eu, xx anos (que a minha idade não interessa aqui para nada)

Cenário:
Na piscina de um Club de Golf “pinoca” da zona, o Simão e o Tomás brincam, com o entusiasmo habitual de duas crianças da idade deles.
Ao fundo, outras crianças brincam também, enquanto as respectivas mães, avós, e tias − sobretudo tias − tostam ao sol e põem as novidades das últimas férias no Algarve, em dia.
Eu durmo. Ou finjo, vigiando pelo canto do olho esquerdo, semi-cerrado, o movimento das “minhas” crias e pelo do direito a conversa das outras.

Acção:
De repente, o Tomás, em defesa de um empurrão traiçoeiro que o fez cair de "chapola" na água, agarra o irmão por trás, levantando-o do solo os míseros centímetros que a sua parca força permite, conduzindo-o à piscina. O Simão, fiteiro, observador atento dos habituais queixumes do avô materno, e com fortes dotes para as artes dramáticas, abre as goelas, leva a mão ao peito e numa voz histérica de pânico e aflição simulada, desata a gritar:
− Ai, o meu coração! Aiiii, o meu coração!!
A piscina inteira parou − se fosse noite, poder-se-ia ver a spotlight deslocar-se lentamente e centrar-se na estrela do espectáculo − e em silêncio, a audiência voltou o olhar para a criança.
Eu, com uma vontade enorme de me enterrar ainda mais na espreguiçadeira onde estava deitada e simular um sono profundo que me ilibasse daquele show, levantei-me num pulo para o fazer calar e com um sorriso amarelo esclareci:
− Ele ouve isto ao avô… − E ainda, para acalmar a plateia desconfiada que continuava paralisada − E aos pais que são médicos… Ele não tem nada, a sério.