domingo, fevereiro 19, 2006

O desaparecimento

E, assim, ao ver os cabelos dela rasgados, baços, mortos, no chão, Demiurgo entrou em pânico.
Percorreu as divisões da casa com a urgência das fatalidades, correu ao jardim com a aflição das desgraças, demandou por ela em voz tremida, alta, histérica, sem receio ou vergonha do ridículo. Inquiriu, senhor Lavrador e sua loira esposa, dona Retrivier, dom Tareco, dona Plátano, senhor Carvalho… Correu a vizinhança: o merceeiro Augusto, o vendedor de carros Almeida, o doutor Albuquerque. Desceu ao rio, perguntou a pescadores, transeuntes, estrangeiros… palmilhou-o até à foz: indagou moradores, jornaleiros, turistas. Nada. Ninguém havia visto Lunata desde aquele dia em que, curvada como uma velhinha, se havia trancado em casa para hibernar na sua tristeza.