sexta-feira, junho 23, 2006

Simão, o Hipocondríaco (III)

Personagens:
• Eu
• Simão, 5 anos

Personagens Fictícios:
• O Cliente
• O Sr. António (empregado do restaurante)

Cenário:
Um destes dias, em casa da minha irmã, preparo-me para jantar. O Simão faz-me companhia.
A certa altura, resolvemos brincar “ao faz de conta”: eu sou o cliente que vai ao restaurante jantar; o Simão é o Sr. António, o empregado do estabelecimento.
Depois de ter encomendado o prato − note-se, devidamente aconselhado pelo Sr. António −, preparando-se para o saborear, o Cliente, resolver fazer conversa com o Empregado.

Acção:
Cliente:
− Então Sr. António, como vai essa vida? Tudo bem com o seu filho?
Sr. António: − Não, o meu filho está muito doente!
Cliente: − Ai, sim? Não me diga! O que lhe aconteceu?
Sr. António: − Caiu. Partiu a cabeça e estes dentes todos − faz o gesto indicativo dos respectivos dentes. − Tem a cabeça toda… como é que se diz … com aquelas coisas brancas?!
Cliente: − Ligada? Ai, credo que horror, Sr. António!
Sr. António: − Tem de ser, senão o cérebro fica muito solto e todo baralhado.
Cliente: − Pois… isso de ter o cérebro solto deve ser, de facto, terrível.
Sr. António: − E dorme com uma almofada muito fofinha, e uma de gelo; outra muito fofinha e uma de gelo; mais uma muito fofinha e …
Cliente: − Bem, mas tirando isso, está tudo bem, não está? A sua esposa? − pergunto, tentando desviar o assunto daquela desgraceira.
Sr. António: − Está muito mal! Foi ontem ao hospital. Tem o baço muito mal.
Cliente: − O baço??? − levanto os olhos do prato, espantada com o termo, duvidando que um puto de cinco anos, mesmo com pais médicos e adorando ver o Dr. Hause, saiba o que é o baço. Tranquilizo-me ao ver que ele indica o braço.
Sr. António: − Está todo partido!
Cliente: − Ó Sr. António, no meio de tanta desgraça valha-me, aí, o senhor, que está com muito boa cara e fresco como uma alface! − exclamo, não desistindo do meu dever de lhe incutir optimismo. Mas ele arrumou comigo:
Sr. António: − Eu? Eu estou muito doente e, olhe, sou o único que não pode ir ao hospital porque tenho de tomar conta do restaurante!