domingo, junho 25, 2006

A Verdade

Em final de festa, arrasto duas amigas para um último copo em minha casa.
Na varanda, o meu grilo canta, como já é habitual, todas as noites. Curiosa, uma delas pergunta que barulho é aquele. Como nunca fui pessoa de esconder ninguém, conto-lhes, excitada, do grilo, e apresento-lhes o meu novo amigo.
Elas observam, acotovelam-se, riem-se, gozam. Na presença delas o grilo intimida-se e encolhe-se a um canto. Tento pô-lo à vontade, falo com ele, digo-lhe que são amigas de longa data, dou-lhe um toquezinho amigável para o encorajar. Elas continuam herméticas, soltando apenas gargalhadas. Não aprecio. Não gosto que se riam de quem (já) me é querido. Fico na defensiva, até que uma delas resolve falar:
− Isto não é um grilo! − assegura, divertida.
− Não? − interrogo, confusa.
Elas riem, novamente. Perguntam se tenho um livro sobre insectos. Dizem-me que não há grilos tão claros, nem a cantar de forma tão estranha.
− É castanho, e depois?! E qual é o mal de não ser um potente tenor?!, reclamo, já sem achar a mínima graça.
Insistem no livro sobre insectos, e eu insisto em não saber a verdade.
− Não, não tenho.
E mesmo que tivesse (já) não queria saber. Não me interessa. Para mim ele é um grilo, o meu querido grilo e ponto final.