É a Festa!
Detesto touradas e faço minhas as palavras da Vieira do Mar num dos seus últimos posts, pois não consigo conceber nenhuma razão, e muito menos cultural, para permitir torturar e fazer sofrer animais, sejam eles moscas, coelhos, touros ou crocodilos. Fraquejo, apenas, na estética e indumentária, sensual e barroca que, tenho de admitir, me agrada, mas não o suficiente para me fazer ceder nos meus determinados princípios.
Acontece que, no Domingo passado, dei comigo, excepcionalmente, divertida, incapaz de arredar pé da frente da televisão, a ver na TVI a 2ª Grande Corrida das Mulheres.
No início até pensei que se tratava de um “Caras Notícias”, tal era a quantidade de tias e tios, meninas e meninos, super giros, bronzeados pelo sol da Quinta (do Lago) e aloirados pelo salitre do mar do Ancão. Mas o que me prendeu mesmo foram os comentários patéticos, as frases absurdas dos comentadores e o facto de Deus parecer estar do lado dos toiros.
Primeiro, incutiu-os de uma preguiça e desinteresse tal que deixou as cavaleiras, elegantérrimas nas suas casacas perfumadas de Chanel, esvoaçando as suas belíssimas madeixas loiras, ridículas nos seus repetitivos oh oh oh oh toiro!, às voltas, feitas tontas, na arena.
Depois, os tais comentários, de chorar e bradar aos céus: que o touro vinha pouco entusiasmado (ora, pudera, quem não o faria se fosse para ser picado?!; que era distraído e se desinteressava, que não prestava atenção à cavaleira (pois, fazia ele muito bem!); que se sentia mais seguro voltando para a porta de onde saíra (claro, coitado, também eu me sentiria!). E, no fim da lide, vinha o balanço: que o touro não esteve bem, que não colaborara, que a cavaleira estivera melhor do que ele, como se de um espectáculo consciente e racional para os dois − animal e humano − se tratasse.
Seguiram-se as pegas: mais rapazes giraços, bem apessoados, surfistas de profissão, aposto, todos muito católicos, benzendo-se e rebenzendo-se antes de enfrentar a besta, não vá a Besta colhê-los. Se bem que nas touradas esta me pareça única parte justa, ou pelo menos a mais equitativa (mais de quinhentos quilos de gajos para quinhentos quilos de toiro mais cornos) não entra na minha cabeça − e, olhem, talvez seja por ser sensata, de gaja − qual o prazer de gingar apaneleiradamente em frente a um bicho, candidatar-se a deslocar umas costelas, partir um braço ou, quiçá, até morrer, para se sentir mais viril. Sim, porque é disso que se trata, bem vistas as coisas: um tipo armar-se em frente a um animal para se sentir mais macho, porque se fosse pela adrenalina ou aventura ficava-se pelas ondas do guincho. Não entendo, a sério! Armem-se em frente às namoradas ou mulheres, ponham as mãos nas ancas, exponham o peito e os genitais e gritem virilmente: Ei, choca! Oh oh oh oh vaca! Acho que faz mais sentido.
Mas o top dos comentários veio exactamente aqui, quando, após várias tentativas, o forcado falha mais uma. Diz, sábio, o comentador que o forcado não consegue abrir as pernas no momento da reunião com o touro, daí o seu insucesso. Pois, e quem abriria?! Eu, não! Bolas, era só o que faltava!
E, depois, foi um desfilar de emoção: um forcado com um braço partido; outro, sem sentidos; uma data de cavalos tocados pelo toiro; um caído no chão com a respectiva cavaleira; até no público, não resistindo a tantos nervos, alguém se sentiu mal!
Enfim, como diz o tal sábio comentador, é a festa, senhores, é a festa! Vai lá a gente mas é entender porquê.
Acontece que, no Domingo passado, dei comigo, excepcionalmente, divertida, incapaz de arredar pé da frente da televisão, a ver na TVI a 2ª Grande Corrida das Mulheres.
No início até pensei que se tratava de um “Caras Notícias”, tal era a quantidade de tias e tios, meninas e meninos, super giros, bronzeados pelo sol da Quinta (do Lago) e aloirados pelo salitre do mar do Ancão. Mas o que me prendeu mesmo foram os comentários patéticos, as frases absurdas dos comentadores e o facto de Deus parecer estar do lado dos toiros.
Primeiro, incutiu-os de uma preguiça e desinteresse tal que deixou as cavaleiras, elegantérrimas nas suas casacas perfumadas de Chanel, esvoaçando as suas belíssimas madeixas loiras, ridículas nos seus repetitivos oh oh oh oh toiro!, às voltas, feitas tontas, na arena.
Depois, os tais comentários, de chorar e bradar aos céus: que o touro vinha pouco entusiasmado (ora, pudera, quem não o faria se fosse para ser picado?!; que era distraído e se desinteressava, que não prestava atenção à cavaleira (pois, fazia ele muito bem!); que se sentia mais seguro voltando para a porta de onde saíra (claro, coitado, também eu me sentiria!). E, no fim da lide, vinha o balanço: que o touro não esteve bem, que não colaborara, que a cavaleira estivera melhor do que ele, como se de um espectáculo consciente e racional para os dois − animal e humano − se tratasse.
Seguiram-se as pegas: mais rapazes giraços, bem apessoados, surfistas de profissão, aposto, todos muito católicos, benzendo-se e rebenzendo-se antes de enfrentar a besta, não vá a Besta colhê-los. Se bem que nas touradas esta me pareça única parte justa, ou pelo menos a mais equitativa (mais de quinhentos quilos de gajos para quinhentos quilos de toiro mais cornos) não entra na minha cabeça − e, olhem, talvez seja por ser sensata, de gaja − qual o prazer de gingar apaneleiradamente em frente a um bicho, candidatar-se a deslocar umas costelas, partir um braço ou, quiçá, até morrer, para se sentir mais viril. Sim, porque é disso que se trata, bem vistas as coisas: um tipo armar-se em frente a um animal para se sentir mais macho, porque se fosse pela adrenalina ou aventura ficava-se pelas ondas do guincho. Não entendo, a sério! Armem-se em frente às namoradas ou mulheres, ponham as mãos nas ancas, exponham o peito e os genitais e gritem virilmente: Ei, choca! Oh oh oh oh vaca! Acho que faz mais sentido.
Mas o top dos comentários veio exactamente aqui, quando, após várias tentativas, o forcado falha mais uma. Diz, sábio, o comentador que o forcado não consegue abrir as pernas no momento da reunião com o touro, daí o seu insucesso. Pois, e quem abriria?! Eu, não! Bolas, era só o que faltava!
E, depois, foi um desfilar de emoção: um forcado com um braço partido; outro, sem sentidos; uma data de cavalos tocados pelo toiro; um caído no chão com a respectiva cavaleira; até no público, não resistindo a tantos nervos, alguém se sentiu mal!
Enfim, como diz o tal sábio comentador, é a festa, senhores, é a festa! Vai lá a gente mas é entender porquê.
REUTERS/Marcelo Del Pozo
1 Comments:
também eu, também eu... Mas foi a melhor tourada que vi e hei-de ver em dias de vida, muito provavelmente.
Num gramo touradas, mas, e em se calha a ver, torço sempre sempre pelo touro.
E, pois, num zapping, a horas mortas, passo por ali uma, duas vezes. Nisto, pega de caras! alto lá... [pega de caras é qualquer coisa... de atávico, que me remete para muito muito longe nos antigamentes. Fascina-me como representação da eterna luta (e superação) do homem contra a besta. é pena é que o bicho já esteja massacrado... Proponham-me um "espectáculo" só com pegas e sem farpas... e até era capaz de lá ir. Mano-a-mano, mãos limpas... uns contra o outro.
A "pega" é qualquer coisa de extremos, para lá de radical. As primeiras imagens que se conhecem de prácticas com bois selvagens surgem em Creta (salvo o erro, mas é numa ilha mediterrânica) e nestas figuram uns acrobatas a saltarem por cima e a evitarem, esquivando-se, de touros (ou lá o que eram os bichos e como lhes chamavam.).] O toureio a pé e sem lâminas é admirável.
E, a falta de melhor, ponho-me a ver. O bicho enorme e os outros... - eh! eh! vem cá! - e o "Gajo" foi. E é como contas... pinfas, uma duas, três a perder de conta, já vinham com "ajudinhas" e tudo. O "cabo" tinha a cara num bolo mas, infelizmente, era sangue do lombo do Bicho. Mas o bicho vingou-se. Impagável. Hilariante.
Entretanto, sai o bicho e entra outro. Este mais pequeno, 400 quilos de nervo. Entra uma cavaleira loura-castanha e Catra-Batunfas: 3 cavalos, três, precisou a senhora. O mais incrível é que a besta (estou a falar da senhora) debutante (se não era a segunda era a 3.ª corrida, disseram os locutores) é adepta "daquela" escola que gosta de fazer umas rábulas em que simulam humilhar os Touros, e vai daí, após falhar miseravelmente os 1.os dois ferros, ao 3.º (e num gosto do toureio a cavalo porque ele há nisso uma grande batota. Mas num posso explicar-me agora), mais mal do que bem conseguido e com o touro desvairado no seu encalço, pois, segura de sí, deu-lhe no focinho com a ponta da haste. e vai o Touro foi-lhe ao Cú'aválo. O cavalicoque até andou em duas patas. Foi o delírio nas bancadas, aliás, na minha cadeira. - Bem feita, bem feita... - gritava com todos os meus neurónios.
Bom. O cavalo está arrumado, bom para fazer cola, aquele tão cedo não enfrenta bicho nem coisa nenhuma. Fica a "numseicomosediz" e xanaxes pó resto da vida. Venha outro. E mais outro... Aquilo num era uma cavaleira, era uma cavaladeírissa. quantos recursos, bom deus... ali, para esbanjar. Era assim como uma espécie de Ferrári, sempre a ir às "boxes" e, estas, num falhavam. Toma lá mais um cavalo. O touro tocou em todos. Merecia-lhes as orelhas e dois rabos.
E a corrida das meninas cavaleiras num se ficou por aqui. Já só faltava pegar mais este... E foi o Diabo à solta.
ps. (foi como... num jogo da bola. Entusiasmam-me as equipas muito muito fraquinhas que nisto se agigantam e dão uma abada a qualquer um dos grandes. Até ao Benfica, lol (posso dizer lol?), o que me rio quando perdem com uns desgraçados quaisquer que penm no fundo da tabela.
psst. tens um blogue muito eclético. ameaço desde já voltar. Dúvido é que torne a fazer lençóis destes (mas nunca se sabe). Na altura quis imenso fazer um poste sobre esta tourada, mas depois...
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