quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Sobre os Direitos dos Animais

Chovem, quase diariamente, nas nossas caixas de correio, mails com petições contra os mais variados tipos de atrocidades infligidos, mundialmente, a animais.
A maior parte das vezes, apagamo-los, porque na nossa já tão complicada vida queremos é esquecer a desgraça e iludir-nos que o mundo corre, senão belo, pelo menos harmoniosamente, à nossa volta.
Nos últimos tempos, contudo, tenho reflectido sobre este assunto e visto vídeos e fotografias onde estas barbaridade estão documentadas. Digo-vos, não é fácil! Estas são atrozes, chocantes, repugnantes. A maioria das vezes, tenho dificuldades em as conseguir ver até ao fim!
A carnificina é variada:
Há quintas onde animais são mantidos nas condições mais degradantes – expostos na sua já curta vida ao frio, à fome, à sede e a falta de espaço – para acabarem mortos por electrocussão anal ou vaginal, para que a sua pele não fique danificada, muitas das vezes, não sendo esta fatal à primeira, acaba por ser arrancada ainda com eles vivos.
Já na romântica e requintada França há quintas de criação de gansos e patos para produção da famosíssima delicatesse “fois-gras” que são autênticas fábricas de tortura. Este, consegue-se através da alimentação forçada dos animais, sendo-lhes enfiados tubos pela garganta, duas ou três vezes por dia, e quantidades absurdas de ração e gordura bombeadas continuamente para o estômago destas aves, que lutam desesperadamente para fugir. Muitas vezes, os tubos perfuram as gargantas dos animais, causando-lhes hemorragias fatais e dores insuportáveis.
Na China, por exemplo, os animais são apanhados pelas autoridades de forma brutal, literalmente, engaiolados em compartimentos minúsculos onde mal se podem mexer e ficam imobilizados horas para serem abatidos de forma cruel, à paulada ou enforcados.
Também neste país, animais domésticos – mas também vacas, galinhas e coelhos… são jogados vivos nos recintos dos leões e tigres, em jardins zoológicos, e servidos como alimento. Funcionários do zoo incentivam os turistas a comprar estes animais para oferecer aos predadores e assim se divertiram a presenciar o repasto.
Tudo isto, já para não falar no uso de animais na industria do entretimento, na cosmética, na decoração, na experimentação e até na pornografia!
É evidente que é impossível a alguém civilizado ficar indiferente a esta barbárie e, aqui, é fundamental o papel das instituições de defesa dos animais na divulgação e sensibilização destes crimes. Contudo afasto-me destes organismos, geralmente nisto: é que na defesa de princípios inquestionáveis caiem, grande parte das vezes, em radicalismos extremos.
Comer carne é natural para nós, como o é para os tigres e leões e para todos os outros carnívoros à face da terra. O que é inconcebível é que os bichos que comemos tenham de sofrer para/ e ao morrer. Sendo nós, os humanos, especialmente, mestres na tecnologia (e no Direito), porque temos de infligir vários choques até que a nossa presa morra electrocutada? Porque temos de lhe tirar a pele ainda viva? Porque temos de a deixar sangrar até morrer? Porque temos de a manter, nas suas já curtas vidas, em compartimentos minúsculos, amontoada com milhentas outras, nas condições mais adversas de higiene, rodeadas de fezes, urina e escuridão, vivendo na mais profunda infelicidade?
Em nome da economia de custos, dos costumes e da moda, entre outros, eu sei, mas com estes não posso compactuar.
É inconcebível que em pleno século XXI um artista plástico – o costa-riquenho Guillermo Habacuc Vargas – exponha um cão vadio numa galeria de arte e o deixe morrer à fome e à sede perante os olhos atentos de um público faminto de cultura. E que ainda para mais seja premiado por isso! (o artista foi escolhido para representar o seu país na "Bienal Centro-americana Honduras 2008")
É estapafúrdio que num país como o nosso, em nome da tradição, os organizadores da festa de Carnaval em Campia (Vouzela) metam um gato num cântaro de barro – onde, em pânico, fica fechado até à hora da festa – o icem num mastro forrado com palha, para, no fim do desfile, lhe lançarem fogo, que, ao queimar a corda, o deixa cair ao chão e, então, sair o pobre gato que corre desnorteado, tendo ainda à perna foliões mascarados que o perseguem com paus e tenazes na mão, tentando apanhá-lo. Repito, é surreal!
Há, ainda, outra questão porque me afasto do radicalismo destas organizações: é que compreendo que em muitos dos países onde isto acontece, a vida humana tem um valor diminuto, comparado com o que se lhe atribui nos países ditos civilizados, e não são respeitados nem os direitos humanos quanto mais os direitos dos animais! Nestes casos, assinar petições contra o boicote mundial dos seus produtos seria, para além de nada resolver em relação aos animais, contribuir para a degradação do seu já, muitas das vezes, miserável povo. E entre os animais e os humanos – por muito que algumas vezes me custe – ainda escolho, obviamente, os segundos.

Nota: Os vídeos e imagens supra mencionados podem ser vistos, por exemplo: aqui, aqui, aqui. Aconselho vivamente – quem for capaz – a vê-los. É completamente diferente ler sobre estas barbaridades de ver as imagens. Estas, contêm cenas chocantes de violência contra animais e, REPITO, não devem ser vistas por pessoas facilmente impressionáveis.

[também postado aqui]

5 Comments:

Blogger Pacheco-Torgal said...

"gostei" da oportunidade e acutilância deste post de que tomei conhecimento através do 31 da armada, contudo e contráriamente á autora do blogue, acho que exceptuando alguns poucos exemplares da raça humana (que se recomendam),a especie "animal" é em regra mais recomendável que a especie humana..

embora tenha sido um carnivoro militante até aos 40 anos, percebi no ano da graça de 2007, (após ter visto o filme Earthlings, um filme muito interessante e de visionamento obrigatório), o que é que isso significava em termos da vida de animais que eram mamiferos e vertebrados como eu..

embora ainda não tenha efectuado uma transição completa para o vegetarianismo, por esta altura do campeonato as únicas proteinas animais já só provem de peixes, quem sabe um dia chego lá...

faço votos para que continue a fustigar os seus leitores com este tema, pois que embora pareça um capricho do 1º mundo é na verdade um problema de uma magnitude assombrosa

que não se diga, que comermos carne é indispensável á nossa existência, que não é...e se o fosse, nunca o problema poderia passar por aí, pois que restaria sempre a questão de se saber porque raio nada se faz para minimizar o sofrimento das especies animais, como bem refere a autora do blogue

como compreender assim a existência de certas culturas asiáticas que defendem que o sofrimento do animal antes de ser consumido, torna a carne mais saborosa !?

10:37 da tarde  
Blogger Sofia Bragança Buchholz said...

Obrigada, pelo seu comentário, Fernando :-)

Estamos basicamente de acordo em tudo.

Em relação a comer carne ser indispensável à nossa existência, não o é, de facto. Mas faz parte da dieta humana há tanto tempo, que não pode ser exigido que desapareça. Mas também como diz, e muito bem, esse não é o problema. O problema é minimizar o sofrimento das espécies animais: das que consumimos, em particular; e das com que lidamos, em geral.

1:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já escrevia Vitor Hugo assim: "A civilização de um povo, vê-se no modo como trata os animais"
Ai se eles podessem falar ....

3:31 da tarde  
Blogger gatosecaes said...

e as coisas não parecem melhorar...
ás x penso que é uma luta perdida.
mas desistir não.
É bom andar pela net e descobrir que já somos muitos.

5:27 da tarde  
Blogger Pacheco-Torgal said...

a propósito de citações sobre esse assunto esta parece-me muito mais apropriada:

"In their behavior toward creatures all men were nazis. The smugness with wich man could do with other species as he pleased exemplify the most extreme racist theories the principle that migth is rigth"

Isaac Bashevis Singer (1904-1991)

8:03 da tarde  

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