Futuro Interrogativo
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Às vezes, pergunto-me se nos voltaremos a ver, se – algum dia – nos voltaremos a encontrar. Se voltaremos a estar sob os mesmos lençóis, a partilhar a mesma cama, daqui a muito tempo. Pergunto-me se ainda alinharás metodicamente o teu fato na cadeira do quarto, contra a qual repousará também, nessa altura, a bengala que te servirá de apoio.
Pergunto-me como serão as tuas mãos com rugas, o teu cabelo todo branco, o teu sexo com [ess]a idade. Como será a minha pele engelhada, os meus seios secos, os meus flancos descaídos, os meus glúteos mirrados. Sentiremos ainda prazer em nos tocar?
Pergunto-me se entrarei vestida no leito – como dantes – mas se, em vez da lingerie branca e pueril que me conferia um eterno ar de menina, usarei uma cinta e um corpete inestéticos que me suportarão a fraqueza dos músculos e do esqueleto.
Interrogo-me se ficaremos acordados a noite toda ou se a debilidade dos corpos nos fará ceder ao sono, às primeiras horas da madrugada. Se dormiremos a noite toda ou se a estranheza do lar nos manterá em vigília, em silêncio, com um medo senil do desconhecido. Se comeremos ovos mexidos e croissants ao pequeno-almoço, ou se colesterol e os diabetes nos exigirão dieta. Se nos voltaremos a despedir com um beijo nos lábios, à saída, já na rua, e cada um seguirá o seu caminho. Eu, para a minha casa vazia, viúva; tu, para os teus filhos e netos.
Pergunto-me como serão as tuas mãos com rugas, o teu cabelo todo branco, o teu sexo com [ess]a idade. Como será a minha pele engelhada, os meus seios secos, os meus flancos descaídos, os meus glúteos mirrados. Sentiremos ainda prazer em nos tocar?
Pergunto-me se entrarei vestida no leito – como dantes – mas se, em vez da lingerie branca e pueril que me conferia um eterno ar de menina, usarei uma cinta e um corpete inestéticos que me suportarão a fraqueza dos músculos e do esqueleto.
Interrogo-me se ficaremos acordados a noite toda ou se a debilidade dos corpos nos fará ceder ao sono, às primeiras horas da madrugada. Se dormiremos a noite toda ou se a estranheza do lar nos manterá em vigília, em silêncio, com um medo senil do desconhecido. Se comeremos ovos mexidos e croissants ao pequeno-almoço, ou se colesterol e os diabetes nos exigirão dieta. Se nos voltaremos a despedir com um beijo nos lábios, à saída, já na rua, e cada um seguirá o seu caminho. Eu, para a minha casa vazia, viúva; tu, para os teus filhos e netos.
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