segunda-feira, abril 25, 2005

Um domingo em família

Personagens:
Eu
O meu sobrinho mais novo, Simão, de quatro anos

Cenário:
Parque da Cidade: lagos a espelharem o pôr-do-sol; o mar ao fundo; o cheiro intenso da vegetação misturado com a humidade da maresia; patos, cisnes, gansos, gaivotas e outras aves de todos os tamanhos e feitios; peixes; cães; crianças, adultos, os últimos sobreviventes de um dia de passeio…

Acção:

Cena 1: Eu e o meu sobrinho Simão passeamos junto aos lagos − num companheirismo e cumplicidade que tem vindo a reforçar-se nos últimos tempos − com um saquinho com pão e tostas na mão. Aproximam-se de nós patos, cisnes, gaivotas, gansos… reclamando comida.

Eu: (apontando para um grande pato preto com uma listra branca que lhe desce do pescoço até ao papo) − Olha, Simão, está ali o Senhor Pato!
Simão: (procura-o com o olhar)
Eu: − Este, todo de preto com a gravata branca, vês? É um pato muito atarefado, trabalha tanto que nem ao fim-de-semana tem tempo para tirar a gravata!
Simão: (pensativo)…
Eu: − É meu amigo, o Senhor Pato, sabias?
Simão: (a sorrir, mas desconfiado) − Estás a enganar a mim, não estás?!
Eu: (piscando-lhe o olho para lhe confirmar a desconfiança, dou por mim a responder a mim própria, em pensamento: − Sei lá, … quem acredita que tem um gnomo como amigo, pode bem ter, também, um pato executivo…)

Cena 2: Na beira de um dos lagos está um imponente cisne aninhado.

Eu: − Aquele cisne está a chocar os ovinhos para nascerem os filhotes…
Simão: (com voz esganiçada, indignado) − Os cisnes não põem ovos!!!
Eu: (também indignada, que desta vez estava a falar verdade, verdadinha, explico) − Põem, Simão, os cisnes são aves como os patos e as galinhas… as galinhas põem ovos, não é?
Simão: (assentiu com cabeça e completou) −… e nascem os pintinhos.
Eu: − Isso mesmo (confirmei, continuando a explicação) − As galinhas, os patos, os cisnes e todas as aves põem ovos, e para os filhinhos nascerem têm de os manter quentinhos, por isso sentam-se em cima deles.
Simão: (entusiasmado por ter aprendido algo novo, mas essencialmente feliz por desfrutar deste nosso companheirismo, dá-me − com aquele seu ar de rato traquinas − a resposta que lhe parece mais gratificante para mim) − Ai, que tu sabes tanto! Tu sabes mesmo tanto!! Tu sabes tudo?!
Eu: (pensando que nada sei… e que quem me dera ter quatro anos, para achar que, quem sabe quem põe os ovos, sabe tudo, respondi) − Tudo, tudo, não, mas esta coisa dos ovos… eu sei.