sábado, setembro 17, 2005

No Mundo da Lua

Faz tempo que não falo do meu mundo.
ATerrei tempo demais. Senti a gravidade arrastar-me, puxar-me para o solo e iludi-me com calor da Terra.
As cores também me enganaram: os verdes, os amarelos, os rosas, os azuis. Tudo cores de Verão.
E os cheiros, ah, os cheiros! salgados da maresia, quentes do vento sul, a temperarem-me os sentidos e a embriagarem-me a razão. Malditos! Impostores! Falsos!, partem no Outono e deixam-nos entregues ao frio e à brisa gélida do norte.
E, depois, há as andorinhas, os melros, os cucos, que cantam, marcando o tempo com a sua melodia. Os minutos que voam, as horas que passam, os dias que vão, e trazem com eles as gaivotas de voo picado sobre o cinza violento do mar.
Deixei-me levar pelas pessoas. De corpos despidos e rostos morenos. Bonitas, sensuais, simpáticas. Acreditei-lhes as palavras. Fáceis, passageiras, irreflectidas como os amores de Verão.
Mas hoje regressei a casa.
E sento-me aqui, neste branco que me é tão familiar. Neste silêncio que me acalma. Nesta ausência de gravidade que abençoo, nesta solidão que é só minha. Eu, e as partículas de pó… lunar.
Vou polir a Lua. E amanhã, verão, ela estará mais brilhante!


© Sofia Bragança Buchholz [por Eterna Descontente]