domingo, janeiro 29, 2006

A [in]sustentável dor da ausência II

Hoje, Demiurgo voltou a não procurar Lunata. Embora sentir-se feliz lhe parecesse tarefa impossível, decidiu-se, mesmo assim, a contrariar a melancolia que se apoderara dela.
Pegou num camaroeiro que Demiurgo havia esquecido em sua casa e saiu para a rua, a caçar imagens. O frio cortava-lhe o rosto e a brisa gélida lambia-lhe, impiedosamente, os cabelos que, teimosos, lhe fugiam do gorro. Timidamente, segurando com ambas as mãos o cabo do camaroeiro, Lunata, lançou-o para a frente, agarrando na fina rede a sua primeira imagem. Curiosa, espreitou, a vê-la: era pequenina, escura, um pouco desfocada, até, sem qualquer beleza particular ou destaque especial, mas, logo, ao longe, avistou uma outra e, deixando para trás esta, correu a alcança-la. A segunda, também não era perfeita. Contudo, havia nela um fiapo de luz e uma nuvem de esperança que motivaram Lunata. E lançou-se numa busca entusiasmada, esquecida de sua melancolia, alheia ao frio, entretida com ângulos e enquadramentos, com luzes e sombras, e quando, por último, o dia findou, foi, mais uma vez, com espanto que notou que se havia olvidado de Demiurgo e de sua, tão dolorosa, ausência.