terça-feira, outubro 03, 2006

Em 1878 como, hoje, em 2006 (II)

E ficou, tristemente, reflectindo.
− É o que tenho junto para umas botinas de gáspea!
Eram o seu vício, as botinas. Arruinava-se com elas: tinha-as de duraque com ponteiras de verniz, de cordovão com laço, de pelica com pespontos de cor, embrulhadas em papéis de seda, na arca, fechadas − guardadas para os domingos!

E como perdera a esperança de se estabelecer, não se sujeitava ao rigor de economizar: … e satisfazia o seu vício − trazer o pé catita. O pé era o seu orgulho, a sua mania, a sua despesa. Tinha-o bonito e pequenino.
− Como poucos − dizia ela. − Não vai outro ao Passeio!
E apertava-o, aperrava-o; trazia vestidos curtos, lançava-o muito para fora. A sua alegria era ir aos domingos para o Passeio Público, e ali, com a orla do vestido erguida, a cara sob o guarda-solinho de seda, estar a tarde inteira na poeira, no calor, imóvel, feliz − a mostrar, a expor o pé!
"

[Em "O Primo Bazilio", de Eça de Quiróz, Edições Livros do Brasil, págs 74 e 83]

Como
eu, como ela e como ela, também Juliana, a criada, em “O Primo Bazilio”, de Eça de Queiroz, tinha um “fetiche” por eles:

Floral Satin Sandal by Monolo Blahnik

Assim, está visto, independentemente da época, da classe social, do rendimento, ou do nível cultural, do que nós, mulheres, gostamos mesmo, aquilo por que nós, verdadeiramente, perdemos a cabeça (desenganem-se os homens a pensar que é por eles!) são, sem dúvida, os sapatos!

1 Comments:

Blogger joaninha said...

Esses são mesmo giros!

8:27 da manhã  

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