RE: Resposta de Lunata (muitos anos depois)
Guardava as tuas cartas, as tuas camisas, os teus camaroeiros, as tuas imagens, os teus livros (que já li todos!), os teus desabafos, os teus sentimentos, as tuas fraquezas, as tuas forças, os teus insucessos, as tuas vitórias, os teus desaforos (muitos desaforos!), as tuas humilhações (contidas, à espera de as poder soltar), as tuas outras (muito díspares) mulheres (que, em comum, só tinham a idade e o nariz encurvado, em bico), os teus filhos com elas (entre eles, o Constantino), os teus carros, os teus amigos (o teu rebanho!), os teus conhecidos, os teus inimigos (aqueles cromos!), o teu avô (quando perdeu as ovelhas), o teu relógio, os teus sapatos, as tuas sapatilhas, os teus sonhos (que coleccionava, mas que perdi a fé de vir a fazer parte da colecção), os teus mochos, a memória da tua comunhão solene (não fosse ela desvanecer-se), a minha lua e a ti a olhares por ela, duplamente, quando me ausentava e te pedia que a guardasses. Guardava-te a ti, as tuas memórias, a tua vida, o nosso amor e tudo, tudo o que acreditava que precisávamos para sermos felizes.
Hoje fechei-os a todos numa caixa parda de cartão que selei com fita adesiva. Resistente. Espero.
PS: Resta-me o alfabeto que é tudo quanto preciso.
© Sofia Bragança Buchholz, 2007. Reprodução interdita.
Hoje fechei-os a todos numa caixa parda de cartão que selei com fita adesiva. Resistente. Espero.
PS: Resta-me o alfabeto que é tudo quanto preciso.
© Sofia Bragança Buchholz, 2007. Reprodução interdita.
Etiquetas: Lunata
1 Comments:
Bom dia
Resposta à pergunta genérica do blog?
António
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