terça-feira, março 18, 2008

Jamais

Recordo os teus cabelos ébanos por entre as minhas mãos, curtos, hirtos, ásperos, entre os meus dedos, movendo-se em sentido contrário ao das minhas festas, fugindo – assim – às minhas carícias. Recordo os teus olhos azeviche, pequenos, profundos, cravados, como duas pérolas de ónix, fixados nos teus pensamentos, centrados em ti. Recordo as tuas palavras complexas, elaboradas, redondas, herméticas como o verbo dos sábios, dos magos, dos clérigos ou... dos charlatães. Recordo a tua crueldade, a tua frieza, o teu sarcasmo, o teu egoísmo, a minha ingenuidade, a minha estupidez, o meu amor incondicional, e jamais é a palavra que guardo para ti. Para o vazio que me deixaste, para a dor que me fizeste sentir. Para os longos momentos aguardados à tua espera, para as mentiras inventadas para te encontrar. Para as mentiras aceites, Meu Amor, para – efemeramente – te ter.