quarta-feira, julho 07, 2010

Uma batalha perigosa

Às vezes, Lunata ainda se lembra de Demiurgo. Lembra-se do tempo em que o seu coração se amarrara num nó que parecia não querer desfazer-se, por causa dele. Lembra-se das noites sem dormir, da solidão (mesmo vivendo acompanhada), do medo da sua partida. Agora, a milhões de luas de distância − que é como se mede o tempo das fadas − não percebe porque arrastou tantos anos aquela dor. O que a prendeu tanto tempo àquele suplício, àquele sofrimento. Parece-lhe tudo uma tolice. Um episódio de adolescente, inexperiente, à mercê de hormonas impostoras. Mas na altura, Lunata teria sido capaz de morrer por ele. Teria sido capaz de arrancar as suas asas de fada e viver para sempre enclausurada na tristeza daquele amor. Lunata não acreditava que havia, para além dele, um futuro. Lunata não acreditava que, sem ele, poderia ser feliz. Vivia no passado, agarrada aos tempos que haviam sido bons, forçando-se a ignorar um presente miserável, enganando-se a si própria. Apanhava migalhas de felicidade no chão e tentava convencer-se que eram suficientes para alimentar aquela relação. Mastigava-as devagar para as fazer render, para fazer durar o seu sabor. Vivia com fome, em anorexia, pele e osso, mas sempre em negação.
Hoje Lunata é robusta e forte, elegante, e gosta de si assim. Hoje Lunata é feliz. Mas sabe que o amor é uma ratoeira e que, quando vem, com os seus perigos, é uma batalha arriscada que nem a experiência pode valer.

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