quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Bipolar

Numa sazonalidade aleatória, imprevisível, alternava estados de espírito como quem muda de camisa.
Às vezes sentia-se eufórico, forte, confiante, capaz de subir montanhas, escalar o céu, ser, até mesmo, Deus; para depois, sem aviso, traiçoeiramente, os seus neurotransmissores bloquearem caminhos, ligações, impedindo a passagem dos impulsos nervosos, fazendo-o mergulhar naquele poço escuro, deprimente, angustiante, sem fim.
Mas, ele, o fim, chegaria um dia: uma semana, um mês, um tempo depois, numa subida vertiginosa − qual montanha-russa − de alucinada eloquência, de messiânica sabedoria, de fama e glória, de poder e virilidade que o embriagavam numa hiperactividade psicológica, numa festa neuronal que, invariavelmente, voltariam a desembocar numa dolorosa − e conhecida − ressaca.