terça-feira, maio 30, 2006

Simão e Eterna Descontente, os Perversos (II)

Personagens:
• Eu
• Simão, 5 anos

Cenário:
Acabadinha de chegar do dentista, onde o preço da beleza me obrigou a arrancar o segundo dente para uma correcção ortodontica, de lábio bambo, nariz semi-anestesiado, boca maçada, a sentir-me um boxer desdentado, de focinho inchado e descaído, resolvo partilhar a minha infelicidade com alguém prestes a viver o mesmo drama:

Acção:
− O tio Zé Maria arrancou-me um dente, queres ver?
(Desviando, prontamente, a atenção do filme que o hipnotizava na televisão): − Quero! Mostra!
Abro a boca, com um rugido de dor, como um leão no circo, para o domador meter a cabeça.
(Debruçado sobre mim, espreitando o buraco do meu dente:) − Blac, que nooooojo!
− E os teus, que tal, já te caiu algum?
Naaa… ainda não.
(Entusiasmando-me): − Trouxe o dente comigo… ainda está cheio de sangue. Tem umas raízes enooooormes… queres ver?
(Mais entusiasmado ainda do que eu, de olhos a brilhar): − Siiim! E tem veias??!!