domingo, outubro 29, 2006

Reabertura do Bar Aldebarã

Ao que parece, o vil, o danado, o malfeitor Pausânias Girassol não se contentou, apenas, com o desdém do entusiasmo alheio, com o desprezo da felicidade geral e do estado de graça que reinava pelo Aldebarã. E tinham propósito as gargalhadas fininhas, estridentes, de Mefistófeles que incomodaram hoje, a meio da tarde, os habitués do nosso bar. Propósito mau, ruim, mesquinho, diga-se. Quem o descobriu foi Demiurgo que, devido ao treino intensivo com namoradas que, chegado aos quarenta, parece querer coleccionar, se tornou especialista. Notou-lhes, aos lábios de Paulinho Assunção, de Manuel Jorge Marmelo e de Lucas Baldus, após o ósculo, um inchaço invulgar, uma vermelhidão arroxeada, uma secura, quase imperceptível mas inconfundível para um perito na arte de beijar. Analisou-os também em Machado de Assis, em Kafka, em Gregório de Matos e concluiu, douto na matéria, que não eram sinais de ardor ou desejo, o que denunciavam aqueles beiços. Intuitivo, correu a investigar o necessaire onde a misteriosa donzela do véu guardava as pinturas com que, beijo após beijo, retocava os carnudos e apetecíveis lábios. E encontrou. No vermelho e sedutor baton com que ela se alindava, vestígios − muito ténues, mas ainda assim maléficos − de Dieffenbachia picta Schott ou, ironia das ironias, a vulgarmente chamada, planta Comigo-ninguém-pode. [SBB]

Eles estão de volta com o Bar Aldebarã e eu, como já ia sendo hábito, não resisti a meter o bedelho, com o texto acima.


Nota: O Bar Aldebarã é um projecto e ideia única e exclusivamente da autoria e responsabilidade dos escritores Manuel Jorge Marmelo e Paulinho Assunção, sobre o qual eu, com o conhecimento e consentimento dos autores, volta e meia, divago.