sábado, junho 04, 2011

A Insustentável Relatividade das Proporções

Eu sabia que ia ser assim. Já antes fora. Não contigo, com outros. Com todos. Os poucos que tive.
Há três dias que não telefonas. Há uma semana que não me vês. Há muito tempo que não dizes que me amas. É proporcionalmente inverso ao tempo que nos conhecemos a tua afeição por mim. No início, ligavas-me a toda a hora. Enviavas mensagens [tontas] durante todo o dia. Querias saber como estava, dizer onde estavas, o que fazias, o que faziam os que te rodeavam. Tudo era pretexto, argumento, para ouvires a minha voz. Eu, ao contrário, esquecia-me que existias, não fossem os sms a entrarem-me, constantemente, no telemóvel. Eras um espaço mínimo na minha vida, um fino contorno no meu mundo. Com o tempo, foste ganhando espessura, conquistando espaço, rompendo o círculo que te delimitava de mim, preenchendo o meu quotidiano. De uma linha passaste a uma grossa pincelada, um forte traço, borrando os meus sentimentos, conquistando os meus afectos. É proporcional ao tempo que nos conhecemos o meu amor por ti. Hoje, sinto [tremendamente] a tua falta quando não estás. Um dia contigo é pouco. Uma noite, uma migalha. Uma semana, nada. Quero mais. Quero tudo a que tenho direito, porque para mim − para nós, mulheres − o tempo num investimento afectivo é um factor que nos prende, nos amarra cumulativamente, a cada dia que passa, a quem com ele o despendemos.

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