No Livro Aberto
Os Livros da Minha Vida
A tarefa de escolher “o” livro da minha vida torna-se complicada, pois são vários os livros que, ao longo da nossa vida, nos marcam.
Optei, por isso, por citar três livros que estão intimamente relacionados com diferentes fases da minha vida:
- Contos Exemplares de Sophia de Mello Breyner Andresen, é um livro ligado à minha adolescência. Elejo este livro pois reconheço locais e identifico personagens, uma vez que partilho com a autora − embora em tempos diferentes − vivências na Praia da Granja. Reconheço a “espécie de Clube de Verão” a que ela faz alusão no conto A Praia. O barulho do mar, o cheiro a maresia, as villas, o apitar dos comboios ao longe. Identifico mulheres como a “Mónica” (Retracto de Mónica), homens como o “Búzio” (Homero), o que me dá a sensação que aquele lugar, de certa forma, repete as suas histórias ao longo dos tempos.
- O Jardim de Cimento de Ian McEwan, está associado a uma fase posterior da minha vida. É um romance extremamente belo e com uma forte carga psicológica, que consegue ao mesmo tempo ser inocente e cruel, ingénuo e chocante. É a história de quatro irmãos (de dezassete, quinze, treze e seis anos) que ficam órfãos de pai e (posteriormente) de mãe. Com o pânico de serem separados e entregues a instituições, resolvem não comunicar a morte da mãe e enterrarem-na na cave, num baú, cobrindo-a com cimento. A partir daí ficam entregues a uma liberdade estranha e doentia, em que as regras, o tempo e o espaço são aqueles que eles conseguem definir. É um livro perturbador e excitante, onde o sexo, a morte, a dor, a perda, e os jogos solitários estão presentes ao virar de cada página.
- Por último, não um livro, mas um conjunto de livros, que no fundo se resumem a um autor: Fernando Pessoa, cuja obra “descobri” tardiamente e pela qual me apaixonei. É sem dúvida um génio da literatura portuguesa, e consegue, nos seus poemas, transmitir mensagens de uma densidade incomparável e única. O descontentamento sentido pelo o autor e a consequente busca constante que este desencadeia, são estados que também eu experimento uma vez que me defino como uma Eterna Descontente.
(Sofia Bragança Buchholz no Programa Livro Aberto - Os Livros da Minha Vida, Maio de 2004
A tarefa de escolher “o” livro da minha vida torna-se complicada, pois são vários os livros que, ao longo da nossa vida, nos marcam.
Optei, por isso, por citar três livros que estão intimamente relacionados com diferentes fases da minha vida:
- Contos Exemplares de Sophia de Mello Breyner Andresen, é um livro ligado à minha adolescência. Elejo este livro pois reconheço locais e identifico personagens, uma vez que partilho com a autora − embora em tempos diferentes − vivências na Praia da Granja. Reconheço a “espécie de Clube de Verão” a que ela faz alusão no conto A Praia. O barulho do mar, o cheiro a maresia, as villas, o apitar dos comboios ao longe. Identifico mulheres como a “Mónica” (Retracto de Mónica), homens como o “Búzio” (Homero), o que me dá a sensação que aquele lugar, de certa forma, repete as suas histórias ao longo dos tempos.
- O Jardim de Cimento de Ian McEwan, está associado a uma fase posterior da minha vida. É um romance extremamente belo e com uma forte carga psicológica, que consegue ao mesmo tempo ser inocente e cruel, ingénuo e chocante. É a história de quatro irmãos (de dezassete, quinze, treze e seis anos) que ficam órfãos de pai e (posteriormente) de mãe. Com o pânico de serem separados e entregues a instituições, resolvem não comunicar a morte da mãe e enterrarem-na na cave, num baú, cobrindo-a com cimento. A partir daí ficam entregues a uma liberdade estranha e doentia, em que as regras, o tempo e o espaço são aqueles que eles conseguem definir. É um livro perturbador e excitante, onde o sexo, a morte, a dor, a perda, e os jogos solitários estão presentes ao virar de cada página.
- Por último, não um livro, mas um conjunto de livros, que no fundo se resumem a um autor: Fernando Pessoa, cuja obra “descobri” tardiamente e pela qual me apaixonei. É sem dúvida um génio da literatura portuguesa, e consegue, nos seus poemas, transmitir mensagens de uma densidade incomparável e única. O descontentamento sentido pelo o autor e a consequente busca constante que este desencadeia, são estados que também eu experimento uma vez que me defino como uma Eterna Descontente.
(Sofia Bragança Buchholz no Programa Livro Aberto - Os Livros da Minha Vida, Maio de 2004
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