Personagens:
• Simão
• Francisco
• Eu
Cenário:
Mais um serão a tomar conta dos meus sobrinhos.
Sentada na sala, leio tranquilamente um livro. Ao longe, vindo provavelmente do quarto dos brinquedos, oiço como ruído de fundo o habitual som das brincadeiras de dois miúdos que se adoram, mas que se tratam como cão e gato: gritarias, lutas, gargalhadas, esboços de choradeiras, enfim.
De repente, apercebo-me que a casa ficou silenciosa. Estranho. Chamo-os, mas nenhum me responde. Adivinhando prenúncio de asneira da grossa, levanto-me e galgo a escada num pulo. Do último andar reconheço, vindo da casa de banho, um som metálico, contínuo, que não identifico. Chamo-os novamente e, no mesmo instante, o ruído desaparece. Entro na casa de banho e vejo-os sentados, de rostos angélicos a olharem para mim. Desconfiada, pergunto:
Acção:
– O que estavam a fazer?
– Estávamos aqui a conversar – responde o mais pequeno, mestre na arte de endrominar.
– Que barulho era aquele? – Insisto.
– Barulho, que barulho? – Devolve-me a pergunta novamente o treteiro mais novo.
– Aquele que parecia uma máquina… – reparo que, estranhamente, têm as calças de pijama arregaçadas até aos joelhos e que o mais velho esconde alguma coisa atrás das costas. Imediatamente inquiro:
– O que tens na mão, aí atrás, Francisco?
Hesita, mas, acaba por confessar:
– Estávamos a experimentar a máquina de tirar pêlos da mãe – esclarece, ao mesmo tempo que estende a mão para ma mostrar.
Eu, atónita, olho para a máquina. Depois, olho para eles. Vejo nas suas caras a súplica pelo segredo. Volto a olhar para a máquina e… solto uma sonora gargalhada!
– Ó rapazes, isso não é uma máquina para tirar pêlos das pernas! Isso é um aparelho para tirar borboto às camisolas!