quinta-feira, junho 30, 2005

CRÓNICAS DA ABELHA MAIA EM MISSÃO HUMANITÁRIA – QUÉNIA: Crónica 5

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cronicas do quenia - 5 -
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Jambo!
Algumas fotos ja estao em Portugal! Ja comecei a trabalhar para o projecto do curso de fotografia e levei a minha camara velhinha para Lamu...
Depois de insistentes pedidos, junto fotos da casa em Nairobi.
É importante referir que descobri as teclas com é, ç e è. Estavam mesmo bem escondidinhas, demorei quatro meses para as encontrar. Ainda nao consegui descobrir os acentos para os as, e os os...
Uma pequena informacao: o meu numero de telefone agora e + 254 733 xxxxxx.
Maia
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Convidados para o pequeno almoco...
O Quenia é, apesar de tudo, o pais mais estavel desta regiao. Os conflitos etnicos sao esporadicos e a situacao nao se compara com a dos paises vizinhos na zona dos grandes lagos! Pelo menos por enquanto... Em 2002 ha eleicoes e “as coisas estao a aquecer”. A maior parte das pessoas que por ca passam, nomeadamente os turistas que vem aos magotes, nem se apercebem que estao numa “panela de pressao”.
Para a MSF, este escritorio tem funcionado como o ”Regional Office for East Africa.
Nairobi dispoe de excelentes ligacoes aereas com a Europa, o resto de Africa e a Asia. O resultado esta a vista: praticamente todos os dias ha pessoas de passagem a caminho do Burundi, do Sul do Sudao, da Etiopia ou do Uganda. E essas pessoas “em transito” vem ca a casa – a Guest House de Nairobi!
Como a maior parte dos avioes chegam da Europa bem cedinho, por volta das sete e meia tenho convidados para o pequeno almoco.
Levanto-me, vou correr a meia hora do costume (1 minuto de corrida , 29 de caminhada...) e depois do duche... toca a campainha!
-
Ola! Eu sou a Abelha Maia e tu? Fizeste boa viagem?
Passados alguns minutos de interrogatorio mutuo, ja sei quem tenho a minha frente. Com um pouco de sorte até da para conversar!
Ansiosos por comecar, assustados com as ultimas novidades, confusos; medicos, enfermeiras, logisticos, jornalistas, responsaveis de programa em visita para fazerem analise da situacao; eles vao passando a caminho das missoes.
De regresso, normalmente fazem escala em Nairobi e dormem ca em casa.
Cansados, tristes por terem acabado a missao, aliviados porque chegaram ao fim, perdidos no conforto ocidental desta grande cidade, entusiasmados com o que encontram no supermercado, “de boca aberta” quando eu digo: - japones, chines, italiano, libanes... que restaurante preferes? - a falar ininterruptamente da realidade que deixaram para tras, passam, a caminho do “debriefing” em Paris.
Ja se tornou uma rotina.

Enfim so!
Claro esta que nao é assim todos os dias!
Hoje, por exemplo estou sozinha em casa!
O Eric foi para a Liberia montar um campo de refugiados, volta daqui a duas semanas.
O Karim, medico antropologo que veio ca como consultor para um dos programas em Homa Bay foi embora ontem a noite.
O Jerome, responsavel logistico do programa nutricional em Ngozy, no Burundi, esteve ca em casa durante a semana de repouso e foi embora hoje.
Tomei o pequeno almoco com ele e com o Renau, logistico que acabou a missao em Kayanza, também no Burundi.
Acompanhei-os a porta e vi-os partirem no taxi...
Fechei a porta, olhei para o relogio e ...
- O.k., sao sete e meia e estou sozinha! Ooops, estou sozinha em casa. Que susto, nao estava a espera! Assim, de repente, nem sequer me preparei. O que é isto que estou a sentir? É panico? Talvez... Acalma-te, Maia! Calma!
Bem, as nove tinha aula de kiswahili, por isso voltei para a cama, para ler um pouco... adormeci.
Quando acordei o panico tinha passado e senti um enorme alivio. Estava sozinha. Uau! Posso ficar em casa, passar o Domingo entre a sala e o jardim, a apanhar sol, a escrever, a ler, coisas simples que so da para fazer quando nao ha pessoas por perto, com historias interessantes para contar!

Abelha Maia

IMAGEMdoDIA (atrasada)


"Fireworks explode over tallships sailing in the Solent off the coast of Portsmouth, southern England, during events to mark the 200th anniversary of the Battle of Trafalgar June 28, 2005. Britain's Queen Elizabeth on Tuesday conducted the world's biggest naval review, off the southern English coast, to commemorate British naval hero Horatio Nelson's victory at the Battle of Trafalgar 200 years ago."

REUTERS/Stephen Hird

Fonte: Reuters

quarta-feira, junho 29, 2005

19 de Dezembro de _ _ _ _

Diz-me a verdade, Meu Amor, diz-me a verdade...
Mesmo que doa, diz-me.
Como se chama o teu cavalo
Aquele que nunca vi, mas que sei de cor?

Diz-me a verdade, diz...

Hoje vi o teu pai que me lembrou de ti...
Nem sei porquê, não o conheço,
Mas em cada palavra sua,
Procurei-te a ti, Meu Amor,
Nesta busca constante de te encontrar,
De te perceber...

Diz-me a verdade, diz
Mesmo que faças de conta,
Mesmo que ela não exista...

Prometeste-me um dia a Lua, (lembras-te?)
Redonda como uma Bola...
Do Tamanho do Mundo,
Brilhante como o futuro...
(E) Eu vi-a, lá no alto, quando ma sussurraste ao ouvido,
Eu vi.
Mas encontro apenas uma caixa,
Onde guardo pedaços de ti!

Diz-me a verdade, diz, Meu Amor
Tu que és mais velho, mais crescido... mais criança
Onde se lê o futuro?
Onde se arruma o passado?
Onde se sofre o presente?

“Fosse eu Mágica e roubaria para sempre o coração do Velho Sábio
e habitaria com ele eternamente o Reino das Fadas...”

Diz-me a verdade, Meu Amor, diz...

CRÓNICAS DA ABELHA MAIA EM MISSÃO HUMANITÁRIA – QUÉNIA: Crónica 4 (cont.)

Dificil de descrever...
Em Homa Bay costuma chover por volta das 5 horas.
O ceu fica carregado. Depois da chuva assume um dramatismo que ainda nao consegui captar nas minhas fotografias.
O por do sol e impressionante! As nuvens têm cores muito fortes, entre o vermelho, o rosa e o cinzento! Muito forte! Muito escuro dum lado, rosa vivo do outro, ou com alguns relampagos a mistura...
Quando paro, respiro fundo e olho para o ceu sinto uma alegria extrema! E tao dificil de descrever o que vejo, partilhar as emocoes que sinto ao fim do dia!

Kwa heri...
De regresso, a caminho do aeroporto, sao 2 horas de estrada. A primeira hora em terra batida, depois vem meia hora de alcatrao todo esburacado (prefiro a terra batida!...) e meia hora de boa estrada.
Muitas casas, casinhas, vacas, cabras, burros, sempre muito movimento!
Durante todo o caminho ha casas a vista. Sempre presentes. Na planicie. Ao longe, nas colinas. As paredes em adobe e os telhados de palha ou em zinco.
E animais. Atravessam a estrada em manadas ou presos por uma corda e acompanhados por uma crianca. A solta, a pastar na berma da estrada ou em grupos, nas planicies.
Dum lado as montanhas, do outro a planicie e o Lago.
E chegamos a Kisumu, capital da provincia e terceira maior cidade. O aeroporto e pequeno e e utilizado por um aviao com cerca de 50 lugares, o Flamingo.
O Flamingo faz tres viagens de ida e volta por dia. Desde que estou no Quenia fiz quatro vezes a viagem com ele e ja nos damos muito bem. Quando ele comeca aos solavancos eu ja sei que nao e grave, que acontece sempre que passamos por cima do Lago Naivasha. Tambem ja sei que, se nao chover, o Flamingo precisa de 40 minutos para fazer a viagem, senao demora uma hora... Acho que estao criadas as condicoes para um bom relacionamento!...

Abelha Maia

terça-feira, junho 28, 2005

Chuva

Tanto me queixei do calor, que ela aí está. Furiosa e traiçoeira, num dia de Verão.


Reuters/ Tim Wimborne

Resumo do dia:

Porra, detesto as Antas. Detesto a VCI, e a Circunvalação e este calor na cidade. E o cabrão do gajo da EDP. E a EDP. Como é que uma pessoa sozinha, numa casa minúscula, pode ter uma conta de oitenta e tal euros por mês?! Qual hábitos do consumidor qual quê, o senhor não está a ver que só depois da mudança para o contador bi-horário é que esta porcaria aumentou?! Não. Já lhe disse que os hábitos são os mesmos! Não, o cilindro não está avariado, nem o fogão que é a gás… Outra vez? Já lhe disse que não! Porra! E o cabrão a ameaçar, que os técnicos vão lá, mas são mais sessenta euros… Mais sessenta euros???!!! E EU QUERO LÁ SABER, QUERO A PORCARIA DO CONTADOR ANTIGO, para quê que o fui mudar, vigaros de um raio, ladrões de uma figa!
E este calor! E o arrumador. E a VCI outra vez.____ Pára, arranca___ pára, arranca__ pára, arranca outra vez____ e outra__ e outra____ e outra e outra___ Porra!

quinta-feira, junho 23, 2005

Nota:

Alterei a data do post de hoje − imagens QUE falam − e coloquei-o mais abaixo porque achei que era aí que fazia sentido... enfim, esquisitices!


quarta-feira, junho 22, 2005

Conversa de Imposto(r)

imagens QUE falam

... e que dizem muita coisa!


IMAGEMdoDIA



"A displaced boy from south Sudan holds his schoolbooks at Oliji primary school during a visit of U.N. High Commissioner for Refugees Antonio Guterres in northern Uganda, June 21, 2005. Guterres told recently displaced refugees from south Sudan on Tuesday that the international community must do more to translate a peace agreement for the region into reality, UNHCR said."

21 Jun 2005
REUTERS/Radu Sigheti

Fonte: Reuters

É Bom Escrever Assim: Pés

"Lembro-me de ficar conhecido por «não gostar de pés». Isto num círculo familiar, claro. Eu teria uns oito anitos e devo ter feito essa observação a um adulto que, por qualquer razão, achou piada e resolveu espalhá-la pela família. Ainda hoje a minha mãe se lembra e graceja quando qualquer assunto se aproxima da problemática da estética dos pés - «não eras tu que não gostavas de pés?». Já tentei explicar-lhe que a minha visão crítica nesse campo sofreu uma considerável evolução: continuo a abominar patorras feias, mas fico doido com um pé feminino perfeito." [continua no CagaFogo]

segunda-feira, junho 20, 2005

Raispartam as hormonas!

Em conversa com uma amiga, que se queixava de um tratamento, dei por mim numa conversa solidária de gajas contra essa putas que se chamam hormonas.
Dizia a outra que a bem dos seus ovários, onde um cabrão de um quisto se decidira alojar sem pedir licença − de férias, esperemos − lhe fora sentenciada a toma dessas bestas, que nos deixam descontroladas e histéricas, a bem dizer, completamente vulneráveis e à sua mercê. E eu que nem tinha pensado no assunto, dei por mim a sublinhar os sintomas da outra, do cansaço à lágrima no olho, do irritanço ao aluamento, que não há quem aguente!
Deu-me para depois de velha ter doença de miúda nova, bem que dispensava este piropo do meu organismo, mas o tipo é cavalheiro, e toma lá mais uma auto-imune, faz favor, com direito a vénia e porta aberta para uma série delas que espero nunca ter. E controla, não controla, análise para aqui, cintigrafia para acoli, lá me receitaram a pastilhinha milagrosa, pequenina mas póderoooooosa até dizer chega.
E eis que as hormonas me deixam tótó de todo, desconcentrada e molengona, a dormitar em todos os sofás, cadeiras, puffes e apeadeiros. E o pior nem é isso, pois eu que sempre me pude gabar da minha esbelta silhueta, do meu metro e sessenta e quatro, por quarenta e nove quilitos de peso, não é que incho e desincho, numa média de dois quilos por semana, enquanto o diabo esfrega um olho, que é como quem diz, entre uma toma e uma pausa de uma puta dessas pastilhas. Uma coisinha assim, minúscula, imaginem, vai lá a gente perceber! É que neste embucha e estica não há calças que aguentem, camisas que assentem direito, nem vestidos que se portem bem! E com o Verão aí à porta, bolas… já nem quero pensar nos bikinis!…

Hei, tolo!...







Faz-se silêncio.
A multidão aguarda expectante. Um leque corta o ar impaciente.
Os dois fitam-se.
Une-os a fúria e a irracionalidade.
Resta-lhe(s) pouco tempo...








Que crueldade, meu Deus!...




Fotos: Reuters/ Victor Fraile

domingo, junho 19, 2005

imaginar_ _ _

Uma hora e meia de espera. Antes tinha sido outra hora e meia para comer porco na brasa, perfaz um total de três horas para ver vinte minutos de espectáculo. A culpa foi da parada que se atrasou, demorando mais tempo do que o previsto, para percorrer as ruas da cidade.
Vieram do céu, mais do que muitos, encapuçados, como espermatozóides futuristas. Uniram-se em círculos, ésses, rectas e ús. Ficaram brancos, rosa, amarelos, violeta. E jorraram água. Uma chuva miudinha que refrescou o mar de gente que os observava de pescoços inclinados e olhos fitos no ar. O som era alto, ensurdecedor, vibrante, enquanto eles se contorciam, se esticavam, se baloiçavam e se voltavam a alinhar. De repente terminou e ficamos, ali, à espera de um bis que jamais chegou.
Dissolvemo-nos na multidão e, confesso, angustiou-me a claustrofobia de saber-me cercada de tanta gente. Ao longe a
música chamava e seguimos, magicamente, o seu encantamento. Como um rio humano, que corria, que não era nunca o mesmo, que reflectia tonalidades diferentes. Deixei-me levar. Desaguei em frente ao palco e dei por mim a dançar, a lançar, violentamente, os braços no espaço até as mãos se encontrarem num estalo compassado. Ritmado, feliz. E cantei: zahh zahh zahhhhhh zahh zahh! Acompanharam-me os outros, cada um, todos, o rio inteiro! Disseram que eram palavras de sorte. Não sei. Não interessa. Mas sei, sim, que a alegria, essa é certo, esteve comigo esta noite.


Vitor Azeredo

[Foto colocada a 11.07.05]

sábado, junho 18, 2005

Suicídio

Vou pintar a minha vida a pastel... que o vento leva de um sopro!

(baseado num texto do
knuque em O Talento da Mediocridade)

Bem que me avisaram mas…

comi o Lobo Mau.
Não resisti aos seus grandes olhos, à sua boca…
Ainda hoje sinto a azia das consequências desse meu acto selvagem.

imagens QUE falam


© Reuters/ Rafiqur Rahman

É Bom Escrever Assim: Os vermes dos dias iguais

"Combinaram encontrar-se no cartório, que ficava exactamente por cima da conservatória onde, um mês antes, um velho de voz enrodilhada e articulações rangentes lhes decretara o divórcio e ela vomitara o almoço aos pés da funcionária que assessorava o acto. Desta vez, porém, segurara o estômago com um jejum prolongado e apresentava-se calma, decente, vá, de sapatinho de salto e saia travada, a emanar respeitabilidade suficiente para aquietar qualquer desconfiança negocial da contraparte."[No Controversa Maresia]

sexta-feira, junho 17, 2005

A banda toca lá fora e...

Junho cheira a romaria.

Eu confesso...

que também não conhecia!
O que um sacana de um insurrecto b
oo vermelho consegue fazer pelo nosso estado de espírito num dia abrasante de calor?!!! Espantoso! Só um cabrão de um boo vermelho me poderia arrancar, hoje, um bom par de gargalhadas!
Obrigada,
Possidónio!

quinta-feira, junho 16, 2005

IMAGEMdoDIA



"A Chinese security guard walks in front of a giant painting of a Chinese opera mask outside a construction site in Beijing's business district June 16, 2005. The black mask symbolises roughness and fierceness and indicates either a rough and bold character or an impartial and selfless personality."

16 Jun 2005
REUTERS/Reinhard Krause

Fonte: Reuters

3 de Dezembro _ _ _ _

Há muito tempo que não escrevo...
Fui “obrigada” a “trancar-te” aqui, neste espaço cuja chave, sob a forma de palavra, apenas eu conheço.
É tão difícil “fechar-te”...
É-me tão doloroso esconder-te...
Vives dentro de mim, fervilhas em cada um dos meus poros, reencontro-te a todo o momento em cada recanto da minha memória... é tão difícil fazer de conta... que não existes... mais.
Não sei se estava traçado no destino, ou se fomos nós a escrever a história, sei apenas que cada página da minha vida se transformou num conto que um dia pensei poder vir a ser de fadas. Sou menina... tenho esse direito! Sou menina... permitam-me a ingenuidade!... Essa fraqueza... ou beleza de acreditar que um dia se pode viver feliz — se não para sempre (tão menina também já não sou!), pelo menos por uma eternidade, esse tempo abstracto que temos a liberdade de definir.
Assim não quiseste.
Desconheço a razão, mas consigo imaginá-la... pressenti-la.
Assim não quiseste... e aceitei o teu “jogo” na esperança de o conseguir ganhar.
Fintei Peões...
Imaginei Cavalos...
Escondi-me em Torres...
Ouvi Bispos (falarem)...
Fiz “cheque” à Rainha... para chegar ao Rei.
Esgotei-me nas mentiras...
Cansada das correrias...
Ouvi o eco dos meus passos...
Nada percebi.
Pobre Rainha... não existe Rei!
Assim não quiseste e é-me difícil viver nesta ausência de cor, — sentindo a vermelho vivo — e ver a vida a preto e branco nesta espécie de xadrez que aceitei jogar contigo.
Não existem Contos de Fadas... mas não me digam... por favor! Sou menina...
Não existem Contos de Fadas, e o teu perfume que hoje trago comigo — “roubado” num tester de uma perfumaria — desaparecerá... mais tarde ou mais cedo... um dia.
Estou cansada, dói-me a ausência. Vou afasta-la com a lembrança daquela noite em que nos teus braços, recebi beijos e carícias — uma ilusão de protecção —, e acreditei que podia ser sempre assim...

imagens QUE falam



© AP Photo/ Emilio Morenatti

CRÓNICAS DA ABELHA MAIA EM MISSÃO HUMANITÁRIA – QUÉNIA: Crónica 4 (cont.)

Figo...
Se consigo sair do escritorio cedo, entao pego na bicicleta e vou dar um passeio pela borda do lago. Paro, falo com as pessoas que encontro, sobretudo pescadores. Pessoas simples, curiosas, que se aproximam e perguntam quem sou, o que faco... Nao e preciso fazer nenhum esforco para encontrar alguem com quem conversar, naturalmente comecamos com os cumprimentos, em kiswahili, com certeza! Depois rimo-nos da minha falta de jeito e comecam as perguntas. Ha sempre alguem que fala melhor o ingles e que assume o papel de tradutor.
- Donde es?
- Portugal.
- Oh! Luis Figo! E portugues, nao e? Conheces?
- Claro que conheco, agora esta a jogar em Espanha! digo eu para mostrar que a conversa pode continuar, que ja temos alguma coisa em comum.
- Gostas de futebol? O que fazes aqui?
E assim, numa distante provincia do Quenia, na zona dos Grandes Lagos, o Luis Figo serve de pretexto para uma conversa...

© Abelha Maia

quarta-feira, junho 15, 2005

Conversa…

entre dois urologistas a jogar ao mata:

Urologista1: − Opá, ganhei!
Urologista2: − Qual quê?! Quem ganhou fui eu que lhe retirei os dois rins!

terça-feira, junho 14, 2005

IMAGEMdoDIA




"A supporter of Iranian presidential candidate Mohammad Baqer Qalibaf listens to a speech by Qalibaf during a rally in Tehran June 14, 2005. Allies of Akbar Hashemi Rafsanjani, front-runner in Iran's presidential race, said on Tuesday he would probably fall short of an outright win in polls on Friday which analysts say are the closest in the Islamic state's history."

14 Jun 2005
REUTERS/Raheb Homavandi

Fonte: Reuters

Esta ideia...

... de vir para a varanda escrever foi feliz, mas não foi boa. O sol afrouxa-me os pensamentos e a falta de posição contrai-me os músculos, fazendo doer cada um deles no meu corpo.
Tinha em mente dissertar sobre o filme que vi ontem* à noite, mas esta moleza faz-me divagar, desconcentrando-me as ideias, indo estas desaguar, desordenadamente, ao documentário que vi na Sic-Notícias sobre a hiperactividade.
Comecemos, então, pelo documentário. Quem ligasse, assim, de repente a televisão pensaria que a Sam, uma rapariguinha aí de uns dez anos idade, estava possuída por um daqueles “espíritos” terríveis que costumam apoderar-se das crianças nos (maus) filmes de terror. Os cabelos compridos loiros, desgrenhados, ajudavam a convencer-nos e as correrias desenfreadas, comparáveis às de um potro selvagem, davam-nos a certeza. Mas não, a menina sofria de TDAH/THD, ou seja, a doença a que vulgarmente chamamos de hiperactividade. E se ser pai de uma criança destas não deve ser fácil – assim só a título de exemplo: eles batem, mordem, fogem, destroem tudo e mais alguma coisa, são impulsivos, não medem os riscos… e sobretudo, mexem-se muito, muito, TANTO que, só de ver, ficamos cansados – ser uma destas crianças – ou adultos – deve ser ainda mais complicado. É que o cérebro de um hiperactivo dá várias “ordens” de acção ao mesmo tempo… como o meu agora, bolas, que me está a dizer para escrever, para me levantar, para ir telefonar, para me ir arranjar… ai, cum caraças, que não é hoje que termino este texto… bolas, bolas, bolas e rebolas!...

* 6 de Março

CRÓNICAS DA ABELHA MAIA EM MISSÃO HUMANITÁRIA – QUÉNIA: Crónica 4 (cont.)

O que faco no terreno...
Sempre que vou ao terreno, procuro visitar os 4 programas em curso, mas ate hoje so visitei 3.
Ir ao hospital e sempre uma experiencia dificil.
Da primeira vez que fui o que mais me impressionou foi saber qual e taxa de seropositivos na regiao. Cerca de 30%! E nas enfermarias do hospital... 75%! Impressionante! (Mais uma razao para assinar a peticao em:
www.msf.org).
No hospital temos uma Clinica HIV – onde queremos iniciar o tratamento ARV dos doentes com sida.
Ainda com um cariz medico temos um programa de combate a tuberculose. Apoiamos a equipa distrital na supervisao de 25 centros de saude e estamos a iniciar uma experiencia numa ilha – Rusinga - com cerca de 20 mil habitantes, em que pretendemos que a comunidade assuma parte das tarefas normalmente confiadas aos centros de saude.
Tambem incentivamos a construcao de poços comunitarios numa das divisoes de Homa Bay – cerca de 20 poços, em que a MSF fornece os materiais, supervisiona os trabalhos e a comunidade participa com a mao-de-obra. Pretende-se combater as doencas transmitidas pelo consumo de agua nao potavel – normalmente vinda de charcos formados com a agua da chuva...
Por fim, e foi aqui que eu consegui “entrar” – IPP farmacia para os doentes internados no hospital. E frequente haver falhas no aprovisionamento de medicamentos no hospital. Os precos praticados nas farmacias privadas sao muito altos. A MSF iniciou em 1999 um projecto em conjunto com o hospital para a criacao de uma farmacia que funciona com o pessoal do hospital. O objectivo e garantir a disponibilidades de medicamentos a precos acessiveis aos pacientes mais carenciados. Ora, a MSF tem fornecido os medicamentos gratuitamente, mas esta chegada a altura de “passar o testemunho”. Para tal e necessario assinar um “Memorandum of understanding” e definir qual a taxa de recuperacao de custos pretendida, estabelecer qual vai ser a participacao da MSF no futuro (qual a lista de medicamentos que continua a ser fornecida gratuitamente) criar uma serie de procedimentos de controlo interno, quer de stocks, quer de movimento de fundos, etc, etc. Bem, mas antes e preciso compreender o que se passa no armazem, quais sao os medicamentos que vem da MSf e que vem directamente do Governo... Uma barafunda! E este o meu desafio nos proximos tempos!
Entretanto continuo a fazer a supervisao financeira e administrativa do Programa Homa Bay, incluindo os projectos que ja falei.
...
© Abelha Maia

Festival Internacional de Teatro de Rua
Santa Maria da Feira

segunda-feira, junho 13, 2005

imaginarius `05

Este ano com os La Fura Dels Baus...

... a não perder!

domingo, junho 12, 2005

CRÓNICAS DA ABELHA MAIA EM MISSÃO HUMANITÁRIA – QUÉNIA: Crónica 4

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cronicas do quenia - 4 -
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Ola a todos!
Decidi alterar a forma como vos escrevo. O streque aumentou e ja nao consigo arranjar tempo para vos escrever individualmente... "No hard feelings, I hope!" Assim, a partir de agora, escrevo uma vez por mes, uma especie de cronica. Vamos tentar? Desta forma voces ajudam-me a deixar escrita a memoria desta missao.
Maia
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Jambo!
Primeiro, o mais importante, os cumprimentos. No Quenia da-se muita importancia aos cumprimentos e nao ha conversa ao telefone, encontro, reuniao que nao comece por uns bons minutos de "Ola!" - Jambo!, resposta - Jambo! - Esta troca de "galhardetes" continua, normalmente com "Entao, tudo bem?" - Habari gani? - A resposta e, invariavelmente, "Tudo muito bem, obrigada" - Nzuri sana, asante - ao que se segue "Tudo bem la por casa?" - Habary ya nyumbani? com "Tudo calmo" - Salama tu - como resposta.

8:00 a. m. Despertar para a vida...
Ontem de manha cedo, estava eu no escritorio, em Homa Bay e ouço o Tom, o chefe dos guardas, a chamar:
- Daktari, daktari!
Eu nao sou medica, por isso nao e por mim que ele chama.
- Mas o que e que se passa? - perguntei,
- Uma mulher esta em trabalho de parto aqui fora, na rua! – disse ele esbaforido.
Corri a chamar a Diane, ela sim, medica e fomos ver o que se passava.
Sentada na berma, no outro lado da rua, uma rapariga ja com um bebe nos bracos... O bebe tinha acabado de nascer, era preciso “fechar” o cordao umbilical. Fui buscar a mala de emergencia que estava no jipe e quando cheguei a Diane informou-me que havia outro bebe a caminho. Pusemos a mama dentro do jipe e la partiram todos...
Mais tarde soube que nasceram duas meninas, saudaveis, e que a mais velha nao tinha nenhum traumatismo apesar de ter caido ao chao quando nasceu. Fiquei tambem a saber que foi assim que o cordao umbilical se rompeu, quando a pequenina nasceu e caiu! Por isso ja estava cortado quando chegamos...

Ndazi acabadinhos de fritar...
O que eu mais gosto quando estou em Homa Bay e dos passeios que dou!
Saio de casa bem cedinho, por volta das sete e meia e vou a pe ate ao escritorio. Pelo caminho cruzo-me com as criancas que vao para a escola, e, a medida que desco a rua, vou olhando para o Lago Vitoria, calmo, enorme, mesmo a minha frente.
A meio da manha, se ainda nao sai do escritorio para ir ao hospital, aproveito para ir la abaixo a cidade comprar um ou dois ndazi. Estes bolos, tipo farturas, mas triangulares, sao a minha perdicao. Hummmm, que delicia! E o empregado ja me conhece. Convida-me a sentar. E quase como em Portugal, quando vou ao cafe do Sr. David!
Quando vou ao hospital, cerca de 10 minutos de passeio, escolho o caminho mais longo.
Quando passo pelo bairro da policia ha sempre um grupo de criancas que vêm a correr ter comigo ou entao que espreitam pela janela, com um enorme sorriso e que me acenam enquanto me chamam “Branca, branca! Como estas?”.
- Mzungu, mzungu! How are you?
...
© Abelha Maia

sábado, junho 11, 2005

Finalmente...

HABEMUS LINKEN(S)!!!

sexta-feira, junho 10, 2005

Que me perdoe...

a Charlotte, pelo plágio da ideia, mas


Eu hoje acordei assim...


Calvin

quinta-feira, junho 09, 2005

ATENÇÃO:


O Contra-Indicado...

continua a deixar crescer as suíças!



Reuters/ Dylan Martinez

Uma triste notícia

Já tinha bastante idade, mas andava ali todo fresco.
Ontem - devido às temperaturas elevadas que se fizeram sentir - desmaiou, acabando por vir a falecer em minha casa por volta das 21.45h.
Era um AEG – Öko- Santo com congelador de 50 litros incorporado.

imagens QUE falam



© Reuters/ Shaun Best


© Reuters/ Peter Macdiarmid

O desejo (???)

Ai que vontade, de chegar a casa, descalçar os sapatos, tirar o vestido e atirar-me para cima da cama, nua, à espera de… ver o burro Pavaroti na TVI!

quarta-feira, junho 08, 2005

A Sociedade Protectora dos Animais…

Não me processou por eu ter metido o macaco debaixo do carro.
O pneu sobresselente, esse sim, queixou-se, mais tarde, quando guinou no calor do asfalto.

Façam o favor de não (me) chatear

Junho...

Gosto dos fins de tarde de Primavera. Dos sons, nítidos, misturados com os odores, intensos, da terra e do calor. Do chilrear dos pássaros que recolhem às árvores, do ladrar dos cães − à desgarrada − ao longe, perdido no infinito. Das vozes das crianças, vindas de lado nenhum e de toda a parte, suspensas, no ar, algures.
E o sol a descer sobre o oceano… O cheiro da comida a fundir-se num ballet de aromas: ali o peixe, acolá a carne, além o pão…
Os olhos a habituarem-se ao indefinido do crepúsculo, a voz que chama para o jantar e aquela outra, resistente, que se agarra à brincadeira… num “já vou…” reticente.

terça-feira, junho 07, 2005

IMAGEMdoDIA



(Front row, L-R) Beijing's Mayor Wang Qishan, Belgium's King Albert II and Belgium's Foreign Minister Karel De Gucht watch a 3D movie at the Beijing Planning Exhibition Hall June 6, 2005. King Albert and Queen Paola are on an eight-day state visit to China.

06 Jun 2005
REUTERS/Thierry Roge

Fonte: Reuters

segunda-feira, junho 06, 2005

Ai, é(s) tão linda…


Que não resisti em colocar aqui esta “preciosidade estética” criada pela empresa alemã Schildkröt especialista em bonecas de colecção desde 1873.
Esta belezura – para o ignorante que não reconhece logo à primeira vista, pois que é chapadinha no original – é, nada mais, nada menos, − estava-se mesmo a ver! − do que o papa Bento XVI!
É a primeira boneca com
Progeria (Doença do Envelhecimento Precoce), ou seja, que, sendo puto, já tem os cabelos (e as sobrancelhas!!! Reparem só no pormenor) todos brancos e que é detentora de um cargo tradicionalmente ocupado por maiores de 75 anos! Todas estas qualificações, acrescidas do facto de só existirem 999 (será que não se enganaram e são 666? É que tamanho atentado à estética só pode ser obra do Belzebu…) exemplares e de as vestes serem de altíssima qualidade (são Dior, aposto! Foi o Galliano que as criou, não há dúvidas…) comparáveis às do Santo Padre fazem com que ela valha a módica quantia de 139 euros!
´Bora lá pessoal, todos comprar!

hOjE...

Apetece-me trepar uma escada de “agás”:

H
H
H
H
H
H
H

Para espairecer

Ela abriu a porta de casa e saiu. Para trás, fechados no escuro, ficaram os medos, os problemas, a solidão. Assim, à luz daquele sol de fim de tarde, o mundo parecia mais feliz. As suas ideias mais claras, as suas passadas mais sólidas. Ela sorriu. Afinal, caramba, a vida vale mesmo a pena!

domingo, junho 05, 2005

...

Tu, Meu Amor, que te julgas, o mais belo, o mais integro, o mais sábio… não passas de um tonto.

Porque há coisas que, de tão raras e preciosas, não se afastam. E tu, meu pobre tonto, insistes em rejeitar o meu amor…

sábado, junho 04, 2005

imagens QUE falam



© Reuters/ China Newsphoto


© Reuters/ Alessia Pierdomenico

XYvsXX?

Mas o que é que se passa…

com o raio do template do meu blog, que o comentário que o Exactamente deixou no post abaixo (e o meu de resposta) não há maneira de aparecerem???

Bem, vou coloca-los aqui...

sexta-feira, junho 03, 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...
Eram sempre bons os nossos reencontros, embora aquele tenha tido um sabor especial.
Em primeiro lugar, porque foi nesse dia que urinei para um frasquinho transparente com tampa vermelha, que me ia finalmente confirmar se trazia dentro de mim um filho do homem por quem estava apaixonada. Em segundo lugar, porque íamos pela primeira vez trocar presentes e o meu era muito especial.
Alguns dias antes, no mesmo em que retirara as surpresas dos ovos de chocolate para o Miguel, reservara um ovo para o João. Mas, em vez de o voltar a encher com bombons e guloseimas, coloquei nele uma cópia das chaves do meu apartamento. Voltei a fechá-lo, a embrulhá-lo com o maior cuidado e a guardá-lo para lho entregar na segunda-feira como combinámos. Ele traria também uma prenda, que eu não fazia a mínima ideia o que seria.
Nesse dia almoçámos juntos em minha casa. Uma pausa de três horas que iria ser compensada com trabalho até muito tarde, como ele próprio dissera.
E, depois de termos matado as saudades e a fome, foi a vez de trocarmos os presentes.
Estávamos deitados em cima da cama, ele vestido com umas calças de um fato azul marinho e uma camisa ainda completamente desabotoada. Eu em roupa interior branca, de algodão macio, que me dava um ar ainda mais frágil e me fazia parecer uma adolescente.
Pousei o meu presente no seu colo. Ele, gozão, passou-lhe as mãos, abanou-o, fez um ar intrigado, negou com a cabeça como se não fizesse ideia do que se tratasse, depois voltou a abaná-la afirmativamente, como se finalmente descobrisse o enigma.
Eu ri-me das suas expressões. Era óbvio que era um ovo. A sua forma, a maneira como estava embrulhado, não deixava qualquer dúvida. Mas o seu sentido de humor divertia-me.
— Acho que é um ovo — arriscou finalmente, quando se decidiu a abri-lo.
Fê-lo muito devagar, o que provocou protestos da minha parte.
— Vá lá, João, depressa! Estou mortinha para ver a minha prenda!
— Vês? Adivinhei! — concluiu, quando deu com um ovo embrulhado num papel amarelo metalizado.
Fiz-lhe sinal para continuar a abri-lo.
— O quê... queres que continue?
Eu própria o ajudei a rasgar um bocado do papel.
As duas metades de chocolate separaram-se e as chaves da porta do meu prédio e as do meu apartamento ficaram visíveis. Ele olhou-me com um olhar malicioso.
— Vais encontrar-me muitas vezes na tua cama quando chegares a casa...
— Espero bem que sim.
— E vou-te assaltar o frigorífico, quando estiveres para Lisboa.
Eu ri-me.
Mas depois falou a sério. Falou com o olhar e com o beijo que me deu. E com as palavras, porque o João era bom com as palavras e nunca as dispensava.
— Obrigado, minha querida.
E depois foi a minha vez, que, ao contrário dele, destruí rapidamente o papel do embrulho e que à primeira tentativa me fez perceber de imediato do que se tratava. Perdi o entusiasmo e veio-me uma atrapalhação que não soube esconder. Preferia voltar a embrulhá-lo, mas os olhos dele cravados em mim obrigaram-me a continuar. As letras estavam lá, na caixa, e a forma longa e rectangular não me deixavam enganar. Restava-me a esperança que dentro estivesse uma coisa completamente diferente, como eu fizera com ele.
— Eu não posso aceitar isto — admiti, desolada.
— Porquê?
Mas era óbvio porquê. Dentro da caixa estava um relógio simples, rectangular, com mostrador branco e numeração romana. Dentro de um estojo sofisticado, estava uma jóia lindíssima em ouro, onde se podia ler Cartier.
— Porque é que não podes aceitar? — insistiu, levantando-me com a mão o queixo, que entretanto ficara pregado nas minhas mãos, que seguravam frouxamente o relógio.
— Porque isto foi caríssimo.
— Não foi nada — garantiu, para me convencer.
Mas quase me irritou, porque eu não era parva.
— Não posso, João, desculpa. Isto vale imenso dinheiro.
— Não vale mais do que o que tu me deste.
— Não brinques comigo.
— A sério.
— Por favor, João, não me faças de estúpida.
E preparava-me para lhe entregar o relógio, mas ele travou-me a mão a meio do caminho.
— Ouve, Mariana, se bem entendi deste-me a chave que me permite entrar e sair da tua vida sem ter de te pedir licença.
— Preferia que só entrasses... — confessei, timidamente.
Ele sorriu e reformulou o que havia dito.
— Deste-me aquilo que me permite entrar na tua vida sempre que quiser, sem ter de te dizer nada, sem ter de te avisar.
Fez uma pausa à espera de uma expressão da minha parte que confirmasse o seu raciocínio.
Mas como não obteve resposta, tentou com o sentido de humor.
— Posso entrar aqui sempre que quiser, roubar-te um projecto, um quadro... este, por exemplo. — Apontava para um Cargaleiro que me tinha sido oferecido pelo meu pai.
E conseguiu o que pretendia, porque arrancou de mim um sorriso.
— A liberdade não tem preço, e eu tenho aqui um pedacinho da tua.
Abanou ligeiramente as chaves que segurava na mão direita.
— És muito bom, João...
— Sou? — perguntou, sem saber bem a que é que eu me referia.
— A argumentar. Darias um excelente advogado.
E, embora ele tenha feito os possíveis para disfarçar, pareceu-me vê-lo sorrir por dentro, triunfante, porque o João adorava ganhar.
— Mas a mim não me convences! — disse por fim, concluindo o meu pensamento.
Olhei novamente para o relógio cheia de vontade de ficar com ele. Era lindo. Como era lindo ele ter-se lembrado de mim daquela forma, e saber que o meu preço era alto... Mas era exactamente por aí que eu não queria entrar. Toda a minha vida dividira contas com os meus namorados e, mesmo quando não o fizera, a diferença a meu favor fora perfeitamente aceitável. Toda a minha vida fora assim e agora estava ali, diante de uma situação que nunca me ocorrera. Diante de um homem com muitíssimo mais poder de compra do que eu, que nem meu namorado era, porque, bem vistas as coisas, e chamando-as pelos verdadeiros nomes, por mais que eles doessem, era amante. Não queria ter um preço, porque algo dentro de mim, provavelmente fruto da minha educação, me dizia que essas coisas mais tarde ou mais cedo se pagavam.
Voltei a fechar o relógio no estojo e procurei as palavras que menos pudessem magoar.
— Adorei, é mesmo muito bonito, mas sei que entendes que não posso aceitar.
— Por favor, Mariana.
Tive vontade de colocar o relógio no pulso, atirar-me para cima dele, enchê-lo de beijos e pagar-lhe na moeda mais valiosa que tinha, que era o meu amor por ele.
Coloquei o estojo sobre as suas pernas.
Ele as chaves sobre as minhas.
— O que é que queres dizer com isto? — perguntei, surpreendida.
— O que já te disse... que isto vale tanto ou mais do que o que te dei e que, por isso, também não vou poder aceitar.
— Isso é chantagem!
— Não é, não, minha querida.
— Mas...
Rodou sobre mim e tapou-me a boca com a mão.
— Não se fala mais no assunto, decidimos assim, está decidido.
Imobilizou-me com o peso do seu corpo. Prendeu-me as mãos ao nível da cabeça e, com os dentes, puxou-me a camisola interior para cima de forma a poder beijar-me os seios.
— Amo-te — deixei escapar pela primeira vez desde que nos conhecíamos.
— Quanto?
— Quanto? — perguntei, por entre uma gargalhada.
— Sim, quanto? Diz um número.
Tentei lembrar-me do número maior que conhecia. Ia começar a enunciar um composto por muitos noves, quando me lembrei de repente das aulas de matemática.
— Mais infinito — respondi, deixando-me ir para onde os movimentos do seu corpo me faziam tender.


Quando entrei na casa de banho, já ele tinha saído há mais de meia hora. Vi pousado em cima do bordo da banheira o estojo que ele me oferecera.
Soltei uma exclamação de surpresa, mas, ao mesmo tempo, não consegui deixar de sorrir.
Abri-o. Dentro estava o relógio e um pedacinho de papel higiénico que a tinta da Montblanc borratara completamente. Mesmo assim consegui ler: “Se pensavas que abdicava da minha prenda, estavas bem enganada. E, pelos vistos, este era o único processo de a conseguir. Já devias saber que não desisto facilmente. Beijos João”.
Pus o relógio no pulso. Ficava-me bem, ficava-me mesmo muito bem!
Corri para o quarto e peguei no telemóvel. Dava sinal a chamar. Óptimo, significava que ele ainda não o tinha desligado. Quando ouvi a sua voz do outro lado, disse:
— És tramado.
— E tu já o devias saber.
— Vemo-nos logo à noite?
— Amanhã.
— Hoje — ordenei, disposta a não ceder desta vez.
— Está bem, mas aponta lá para muito tarde, e pouquinho tempo, pode ser?
— Pode.
Desliguei o telefone.
Deitei-me em cima da cama e voltei a olhar para o relógio. Reparei que não estava certo. Mas, naquele momento, estava-me perfeitamente nas tintas para o que estava certo ou errado."

In "De Mãos Dadas com a Perfeição" págs. 76-80; Editorial Presença 2003

IMAGEMdoDIA (atrasada)



A model displays a design by Italian designer Donatella Versace during 'Una notte a Roma' (A night in Rome) Haute Couture fashion show in Rome's Navona Square June 1, 2005. The fashion show featured special collections by Italian designers Valentino, Giorgio Armani, Donatella Versace and Gianfranco Ferre.

01 Jun 2005
REUTERS/Alessia Pierdomenico

Fonte: Reuters

quinta-feira, junho 02, 2005

Não há pachorra!

Pois que me apetecia ter um amigo, sem merdas nem inseguranças, nem medos nem depressões que me fizesse companhia nas coisas simples da vida, que são as idas ao cinema, as noitadas nas discotecas ou os passeios no Parque da Cidade.
O que é feito dos machos de barba dura que não abalam na tristeza, nem secumbem na adversidade, que nos abrem a porta do carro e que nos acompanham a casa, ficando ali, a velar por nós, até que o nosso aceno desapareça na segurança do hall da entrada.
É que já não há pachorra para tristezas, que essas já bastam as nossas, pois se Deus nos dotou de hormonas histéricas, dores de parto e sangria mensal, poupe-nos agora do que é suposto ser anti natura e de ter de aturar machos sensíveis!

Não é que, nos últimos tempos, tenho vindo a constatar que já não se fazem homens como antigamente e que essas mudanças nos machos são tudo menos positivas?
Ora vejamos: sábado à tarde, estamos nós prontinhas - e sem ir a lado nenhum - pegamos no telemóvel e procuramos o amigo que pensamos ser a companhia perfeita para a altura. Marcamos o número do XY1. O sinal de chamada toca uma, toca duas… onze vezes até que dispara a caixa de voz, ai, que não há pachorra! Dez minutos depois, estamos nós, novamente, a consultar a lista de potencias companheiros para essa tarde e beep, entra-nos uma mensagem escrita no telemóvel. Esperançosas de uma mensagem do género “estou no duche, já te ligo”, sai-nos uma do tipo “querida X, espero que estejas bem. Não me leves a mal, mas eu não estou e não me apetece falar com ninguém. Fica bem, um beijin…” Foda-se! Às cinco da tarde de um sábado de sol radiante, um gajo, sim UM GAJO, não está bem?? E nem lata tem de atender e de − depois de ter aproveitado para desabafar − nos mandar bugiar, porque isso sim, seria o que nós, seres detentores de dois cromossomas X, faríamos!
Seja! Tentemos, então, o XY2 que é um tipo porreiro e divertido q.b., nada dado a essas coisas. A cena repete-se. Ao quinto sinal de chamada já estamos nós a bufar e quando nos atende a caixa de voz só nos apetece dizer “caralhadas”, ai, que porra, porque é que este caralho não atende?! Furiosas, ligamos outra e outra vez! Mas nada. Deste, nem uma mensagem de retorno a desculpar-se da crise − da qual só ficamos a saber mais tarde por outro amigo −, pois que isso cria stress e para stress já basta o com que ele está.
E assim, percorremos os amigos, todos, da lista, numa busca em vão de − boa − companhia, e damos por nós, já lá fora é noite escura, que se lixe, vou sozinha, nem que seja ali ao shopping que agora quem está com a telha e irritada sou eu!

quarta-feira, junho 01, 2005

imagens QUE falam


© Reuters/ Radu Sigheti

... porque hoje é o Dia Internacional da Criança.

"Não há machado que corte...

a raíz ao pensamento..."
Mas, bolas,... cansaço, há!

A blogosfera está em festa: nasceu ontem a Leonor!

Mandei fazer um bolo, em nome da blogosfera, para a pequena Leonor e para os felizardos “papás” Papoila e Senhor Carne.

E para brindar, arranjei um vinho muito, mas mesmo muito, especial (reparem só no rótulo)

Enviei-os para a tia Vieira, para que esta os faça chegar ao destino.

Um beijinho muito grande e muitos parabéns!





PS: o bolo é um bocadinho piroso, mas era o que havia e a intenção… essa foi a melhor.
PS1: O pasteleiro era estrangeiro e negou-se a colocar o acento no “a”. Enfim, esquisitices de quem tem 3 estrelas “Michelin”! ;-)

SMS entre dois amantes

SMS: de x para y
Beijo?

SMS: de y para x
Beijo.

SMS: de x para y
Na quinta estou aí. Queres que te telefone para estarmos juntos?



(silêncio)

Moral da história:
Quem cala, consente, ou quem cala, está-nos a mandar à merda?!