quinta-feira, julho 08, 2010

Percebem, agora, por que não me importo de ter asas?

Foto: ? / Na foto: Candice Swanepoel

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quarta-feira, julho 07, 2010

Uma batalha perigosa

Às vezes, Lunata ainda se lembra de Demiurgo. Lembra-se do tempo em que o seu coração se amarrara num nó que parecia não querer desfazer-se, por causa dele. Lembra-se das noites sem dormir, da solidão (mesmo vivendo acompanhada), do medo da sua partida. Agora, a milhões de luas de distância − que é como se mede o tempo das fadas − não percebe porque arrastou tantos anos aquela dor. O que a prendeu tanto tempo àquele suplício, àquele sofrimento. Parece-lhe tudo uma tolice. Um episódio de adolescente, inexperiente, à mercê de hormonas impostoras. Mas na altura, Lunata teria sido capaz de morrer por ele. Teria sido capaz de arrancar as suas asas de fada e viver para sempre enclausurada na tristeza daquele amor. Lunata não acreditava que havia, para além dele, um futuro. Lunata não acreditava que, sem ele, poderia ser feliz. Vivia no passado, agarrada aos tempos que haviam sido bons, forçando-se a ignorar um presente miserável, enganando-se a si própria. Apanhava migalhas de felicidade no chão e tentava convencer-se que eram suficientes para alimentar aquela relação. Mastigava-as devagar para as fazer render, para fazer durar o seu sabor. Vivia com fome, em anorexia, pele e osso, mas sempre em negação.
Hoje Lunata é robusta e forte, elegante, e gosta de si assim. Hoje Lunata é feliz. Mas sabe que o amor é uma ratoeira e que, quando vem, com os seus perigos, é uma batalha arriscada que nem a experiência pode valer.

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Love is a Losing Game. Ponto final.


Amy Winehouse - Love is a Losing Game

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segunda-feira, julho 05, 2010

A culpa não é minha; é dele!

Um fim de tarde magnifico. Uma amiga telefona-me, desafiando-me para um passeio à beira mar. Eu resisto. Digo que não, que tenho de trabalhar. Sem vontade, arrasto o portátil para a varanda − na tentativa de me iludir de que não estou a perder os últimos raios de sol − e preparo-me para rever o meu próximo trabalho literário, pendente há uma data de tempo. O silêncio reina, as ruas estão desertas, pois na televisão joga um dos favoritos do campeonato do mundo de futebol. Só a natureza, ao longe, dá sinais de vida com o piar ávido das gaivotas sobrevoando o Atlântico. Sento-me. Rodeio-me das várias versões do manuscrito, abro o Word. Esforço-me para me concentrar. Aqueço os dedos, como um pianista, preparando-me para debitar a primeira palavra. Mas eis que sou interrompida pelo som estridente do grilo que habita a gaiola em cima do frigorífico. Um som agudo, alto, muito alto, que me agride os ouvidos, me fere os tímpanos, levando-me constantemente, quando estou perto dele, a equacionar pô-lo porta fora, quebrando, desta vez, com a tradição anual de todas as Primaveras, pelas festas populares, comprar um destes insectos cujo cantar anuncia o Verão.
Desligo o portátil, pego no telemóvel e marco:
− Estou, Ana? Onde estás que vou ter contigo?!

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