Sempre que como um iogurte, tenho por hábito agitá-lo e depois infligir uma lambidela eficaz na película da tampa, removendo o excesso que lá ficou, reminiscências, quiçá, da minha vida anterior felina, quando o meu polegar ainda não tocava o indicador e muito menos sabia manejar uma singela colher.
Nos últimos tempos, tenho reparado que os meus iogurtes falam comigo: da primeira vez, pude ler na dita película, para grande espanto meu, a seguinte afirmação: “Puro carinho.”. Aquilo passou, pensei que os cérebrozinhos tontos do Marketing tinham decidido decorar as tampinhas com aquela frase idiota ternurenta. Da segunda vez, ainda a língua ia a meio, sai-me um “Puro sonho”. Estaquei, fiquei a olhar para aquilo a abanar a cabeça, feita cãozinho de feira, incrédula, a pensar na estupidez de tal campanha. Mas o melhor veio com o terceiro iogurte quando o gajo, o iogurte, atrevido, se dirige a mim com a maior das latas, e me diz: “Se não existisses tinhas de ser inventada!...”. Inventada, sim, com “a” no fim, como se me conhecesse ou me estivesse a observar! Passei-me! Seguiu-se um retirar desenfreado de tampas. Queria saber o que sabia mais o meu iogurte sobre mim! “Dás-me mimos de andar na lua!...”, cabrão, o gajo sabia que eu tinha uma Lua; És “puro sonho”… imbecil, com piropos de chacha; “Logo trazes-me um mimo?”… olha-me o desplante, a pedir-me coisas!, e assim por diante, até que me fui acostumando a vê-lo falar.
Hoje, tiro o chapéu às ditas cabecinhas tontas do Marketing da Danone: conseguiram fazer de mim uma cliente fiel! É que, muito sinceramente, com o crescente de intimidade, estou ansiosa pelo dia em que, ao retirar a tampinha, o meu iogurte me peça em casamento.