domingo, maio 25, 2008

Simão, o Crente

Personagens:
• Simão (7 anos)
• Eu

Cenário:
Mais uma noite a tomar conta dos meus sobrinhos, e estou eu e o Simão sentados na sala, a ver televisão. Nesta, passa uma telenovela que ele vê atento e onde uma mulher pergunta com voz desesperada e dramática a um homem como poderá aquilo ter acontecido?, como poderá fulaninha de tal ter engravidado?! Eu armo-me em esperta diante do Simão e respondo:

Acção:
– É simples, ora! Aquilo aconteceu porque ela e o namorado fizeram sexo!
Ele olha para mim e, devoto, argumenta, deixando-me a lamentar profundamente a oportunidade de ter ficado calada:
– Não necessariamente – refuta indignado. – Olha, a Maria, por exemplo, a mãe do Jesus, ela teve um filho e não fez sexo!

Eu hoje vou deitar-me assim...


Morrissey - There is a Light That Never Goes Out

Take me out tonight
Oh, take me anywhere, I dont care
I dont care, I dont care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I havent got one...
Oh, I havent got one

sábado, maio 24, 2008

Sons de Verão (IV)

Iupiii! Afinal, era só tímido!!!
© Imagem: ?

Sons de Verão (III)

quinta-feira, maio 22, 2008

Sons de Verão (II)

Quatrocentos paus sem recibo nem garantia, por uma barata que NÃO faz barulho com as asas porque deve ser fêmea!!!
Estou lixada!

Sons de Verão

© Foto: Sofia Bragança Buchholz

Quatrocentos paus por uma barata que faz barulho com as asas!!!
Que se lixe! Sinto-me uma mulher feliz!

terça-feira, maio 20, 2008

A Mulher Cobra

© Foto: ?/ Na foto: Rachel Weisz

Adoro uma romaria. Não sei se por ter nascido no dia de S. João e, na véspera, já eu quase cá fora, ter pressentido a turba popular feliz de martelinho em punho agredindo-se entusiasticamente, se por durante muito tempo ter vivido em frente a um largo, onde, todos os anos, no início do mês de Junho, a adrenalina do barulho das motas do Poço da Morte e o timbre melado da voz do Roberto Carlos davam som aos meus dias.
Aos quatro anos, pelava-me por uma voltinha no carrossel mais inocente; aos seis, por uma mais atrevida no Comboio Fantasma; aos oito (já a viver noutro lugar, mas ainda assim assídua nesta festa), pelo perigo dos carrinhos de choque; aos dez, fascinava-me a aberração de uma Mulher Cobra. Esta é, aliás, umas das imagens que melhor guardo na memória e um dos mitos que mais intensamente me perseguem desde a infância. É que ainda a estou a ver em cima daquela mesa, propositadamente de espessura finíssima para nos dissuadir de pensar o seu corpo escondido nela, de cabeça estática, mas bem-falante, coroando um fantástico corpo luzidio, enrolado, de Python reticulatus. Um homem – que a minha imaginação recorda de bigode farfalhudo e sotaque acentuado do norte – fazia-lhe perguntas a que ela calmamente respondia, deixava o público escolhido a dedo (provavelmente, contratado pelo próprio espectáculo) fazê-las também, e eu ali, de olhos esbugalhados, separada daquela coisa apenas por uma baixa grade de ferro, incapaz de abrir a boca de tão aberta de espanto que estava, sabendo-me enganada, mas não percebendo como o faziam.
Já na idade adulta procurei em vão insistentemente pelas feiras populares por onde passei tal atracção e ainda agora lamento na adolescência (onde a maturidade já me permitia perspicácia suficiente para perceber o fenómeno, mas a idade me conferia interesse por tudo menos por tal temática) ter deixado escapar – imaginem, que raiva! – uma mulher polvo.
Até hoje me interrogo como faziam eles aquilo, e amaldiçoo a ASAE, ou lá que entidade é que proíbe estas coisas, por as ter feito desaparecer, e não me dar oportunidade de finalmente desvendar tamanho engodo.

[Também publicado aqui]

sábado, maio 17, 2008

Gostar de Homens

Bryan Ferry fotografado por Nathaniel Goldberg para a revista GQ


E lá se foi o mito de que as fadas existem... merde!

Porque é que eu não entendo os homens e as mulheres são umas chatas?!

“Amizades Coloridas”

Quando se fala de “amizades coloridas”, acreditem, não é ao mesmo a que nos referimos, para homens e mulheres. Ainda que, à primeira vista, para ambos a sua definição seja igual – um relacionamento sexual, sem exclusividade e compromisso emocional, prolongado no tempo, com vista à satisfação de ambas as partes – na prática, este contrato de regras, aparentemente, tão bem definidas será assinado apenas por uma delas: a masculina. Para eles, é claro que este se trata de um relacionamento puramente sexual; para elas, mesmo que com ele tenham acordado a priori – e até acreditado ser possível – a coisa não é bem assim.
Se podemos conceber a ideia de que uma mulher, seja lá por que razões forem, tenha relações sexuais esporádicas com este ou aquele homem que com ela se cruze na vida, asseguro-vos, será muito rara aquela que invista tempo, atenção, afecto – e este, por incrível que pareça, está presente, para uma mulher, num envolvimento sexual quando este é prolongado no tempo – num relacionamento sem que fique, emocionalmente, ligada a ele. Para o sexo feminino, o que mais pesa é o investimento afectivo feito na relação e este é directamente proporcional ao tempo dispendido na mesma. Pelo contrário, para os homens, o que tem mais valor é o prazer dela retirado e o factor novidade. Por outras palavras, podemos dizer que eles se prendem a elas enquanto não as conquistam; e elas prendem-se a eles depois de terem sido conquistadas.
Senão como explicar, num relacionamento sem compromisso, que se passem quando descobrem que não são as únicas? Ou que justifiquem a ausência do “amigo colorido”? Este comportamento seria, então, perfeitamente desnecessário e elas fazem-no sistematicamente. Fazem-no, também, com o invariável argumento de eles serem muitíssimo ocupados, pais extremosos em missão baby-sitting, ou até mesmo detentores de uma particular personalidade, atípica e muito reservada, dada ao “anti-social”. E nem elas imaginam, a contar pelas vezes que o ouvimos, a quantidade de homens com este particular carácter que por, aí, há!
Mas quando se vão abaixo, quando apertadas na tristeza de tão desigual investimento de afectos, elas confessam. Confessam que o seu sonho era casar, ter um casalinho de filhos com eles, enfim, um ninhinho perfeito, e que mantêm viva a esperança – e vejam só, se eles as ouviam agora! – que eles, um dia, lhes digam que é isso que querem também. Senão, porque viajam eles com elas? Porque passeiam e jantam fora tantas vezes? Porque respondem a sms e a chamadas tardias? Porque CONTINUAM eles com elas? E é aqui, meus queridos leitores, que reside mais uma grande falha na comunicação entre homens e mulheres: é que elas interpretam todos os actos deles como sinais de ligação; e eles transmitem o sinal por pura cortesia [e, como acredito pouco no altruísmo masculino, para assegurarem – obviamente – a próxima queca].

Sofia Bragança Buchholz

Crónica publicada na Revista Atlântico de Março de 2008

sexta-feira, maio 16, 2008

Ontem, hoje e amanhã...


Imaginarius em Santa Maria da Feira.

Informações e programa disponíveis aqui

quinta-feira, maio 15, 2008

Eu hoje acordei assim…


Felicíssima por saber que elas estão aí, num cinema perto de mim, a partir do dia 5 de Junho.

terça-feira, maio 13, 2008

Os vermes da blogosfera

Pior do que aqueles que se escondem por detrás do anonimato, ou de um nick imbecil, e que, se divertem a mandar umas bocas, escondidos nas suas covardes carapaças, incapazes, contudo, quando desafiados, de se exporem e articularem, duas frases que seja, com sentido, são aqueles que plagiam. É que os primeiros, caros leitores, são apenas uns tristes; já os segundos, uns criminosos.
A Sofia Vieira foi novamente plagiada e como ela diz, e muito bem, já está na altura da protecção dos direitos de autor na Internet em geral, e na blogosfera em particular, ser levada a sério pela comunidade jurídica e pelas instâncias jurisdicionais e de estes vermes sociais começarem a ser condenados pelos seus actos. [Um tema para ler no Controversa Maresia].

segunda-feira, maio 12, 2008

Percebes, agora, porque é que eu não me importo de ter asas?

Na foto: Hana Soukupova (VS show) / © Foto: ?

domingo, maio 11, 2008

Fugir ao trabalho

O que mais me aborrece, quando tenho de trabalhar em casa, é que despendo mais energias na tarefa de fugir ao mesmo, do que a que seria necessária para o realizar.
Vejamos:

Preparo meticulosamente o ambiente à minha volta, rodeio-me dos dossiers e dos livros necessários, sento-me, ligo o portátil e … leio todos os meus blogs favoritos! Aproveito e dou também uma olhadela àqueles que nem gosto por aí além. Depois, levanto-me para ir buscar bolachas; é que, entretanto, já passaram duas horas e o meu estômago começa a ressentir-se. Em vez de duas, como seis, para adiar o timming em que tenho de olhar para a tal papelada. Finalizadas as bolachas (sim, porque acabou por ir à vida o pacote inteiro) decido que tenho de responder àqueles mails urgentíssimos que há mais de dois meses esperam na caixa do correio. Lá vai mais uma hora e meia nisto, intercalada com idas à casa de banho, telefonemas atendidos e feitos, e o stress do objectivo não cumprido a fazer-se acumular.
Quatro horas depois já não consigo estar sentada da cadeira. Dói-me a cabeça, as costas e concentrar-me é impossível. É urgente libertar energias. Decido ir correr. Visto umas calças de fato de treino, calço umas sapatilhas e é ver-me arfar pela marginal fora, num
jogging desenfreado.
Chego a casa exausta, suada e esfomeada e pela ordem inversa satisfaço estas três necessidades: lancho demoradamente, tomo um longo banho, e deito-me no sofá onde acabo por adormecer.

Acordo, já lá fora é noite escura, dorida e mal-humorada, em pânico com a minha improdutividade. A posição em que adormeci foi a pior e o trabalho espera-me ainda intacto. Bolas! Preciso de jantar!
Ligo a televisão enquanto como, e distraio-me com os telejornais de todos os canais; são onze da noite quando me sento novamente em frente do computador e abraço finalmente o trabalho porque sei que a meta final – a recompensa – está próxima: ir para a cama, daí a nada (mas, entretanto, aproveito, ainda, para escrever esta crónica).

[Publicada também
aqui]

Eu hoje vou deitar-me assim...


Ana Moura - Os Búzios

À espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados por norte
Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte
(...)

sexta-feira, maio 09, 2008

Porque é que eu não entendo os homens e as mulheres são umas chatas?!

Amigos homens

Os meus melhores amigos são homens. Neles – em dois ou três, note-se – confio os meus segredos mais íntimos. Aprecio no sexo oposto o companheirismo, a franqueza e a boa disposição. Acima de tudo, a ausência da “complicação feminina”. As mulheres são seres elaborados, complexos, sensíveis e consequentemente falsas, matreiras, invejosas. Estendem o ombro às amigas para logo em seguida, quando lhes convém, as crucificarem. Convidam-nas à confissão para, mais tarde, lha atirarem à cara. São ardilosas, rebuscadas, perigosas. Tramadas com o mesmo sexo! Guardam trunfos e nunca, mas mesmo nunca, os esquecem. Mulher que me esteja a ler e que já trabalhou com outras mulheres que me desminta, agorinha, se isto não for verdade. Os homens, não, são simples, pragmáticos, objectivos.
Mas dizia eu, adoro a “descomplicação” masculina. Pelo-me por um jantar a dois em que, depois do repasto, ficamos sentados a conversar, cuspindo, refasteladamente, o fumo de um bom charuto (o deles, porque o meu é sempre imaginário) falando de trabalho, da vida… de gajas. Este é um tema que aprecio particularmente com os meus interlocutores masculinos. Gosto de lhes ensinar os truques da mente – rebuscada – feminina. Digo-lhes o que devem fazer para conquistar esta ou aquela rapariga por quem manifestam interesse; passo horas com eles no hi5 a pesquisar sobre elas, a estudar-lhes os ângulos nas desfocadas fotos; comento-lhes o porte, o estilo, as habilitações literárias; dou-lhes dicas para um primeiro encontro. O problema surge precisamente aqui, quando a personagem em questão deixa de ser virtual e resolvem apresentar-ma. É que onde eles, geralmente, vêem beleza e elegância, eu vejo volume e banhas; onde eles vêem charme e classe, eu vejo vulgaridade e parolice; e onde eles vêem inteligência e simpatia, eu vejo que eles não estão a pensar com a cabeça certa.
E depois, quando já na ausência dela me pedem, ansiosamente, a opinião e lhes digo, “de homem para homem”, com toda a sinceridade – que é assim que deve ser entre machos – o que penso, olham-me de lado, sorriem maliciosamente e dizem-me com a maior das latas – os ingratos! – que estou com ciúmes. Ciúmes, eu?! Ora, bolas, vá lá a gente entender estes gajos (e eles entenderem-nos a nós)!

Sofia Bragança Buchholz

Crónica publicada na Revista Atlântico de Fevereiro de 2008

quinta-feira, maio 08, 2008

You are so beautiful

quarta-feira, maio 07, 2008

Há dias assim...


Nara Leão - Camisa Amarela

sábado, maio 03, 2008

Anita nos Dias de Hoje (2)

Ou ainda:

sexta-feira, maio 02, 2008

Anita nos Dias de Hoje


A alteração da capa do livro da Anita é da minha modesta autoria, obviamente.

Anita na Cama

Existe na convalescença da gripe um quê de conforto, de nostalgia do tempo da infância. Era nesta altura, passado o desconforto da febre e das mialgias, que finalmente conseguia dar atenção aos presentes que o meu pai me trazia, geralmente um livro da Anita, que ia engrossando, aos poucos, a minha vasta colecção, e que a minha avó me lia pacientemente à cabeceira da cama. Era também só agora, que conseguia ingerir a primeira refeição, esmeradamente preparada pela minha Jeju – a nossa querida empregada – e que consistia invariavelmente num bife suculento, partido em minúsculos pedaços, quase raspas de carne, que se misturavam com um saboroso molho de manteiga e eram envolvidos em pedacinhos de pão. Aquilo sabia-me deliciosamente e ainda hoje recordo esse pitéu, que a fome pós pirética exacerbava, e quase sou capaz de apostar que já não se criam vacas tão tenras e saborosas como as daquela altura.
Há uns dias, liguei a um amigo que me atendeu com uma voz febril, trémula e “entossicada”, desanimado com o seu estado gripal. Eu, lembrando-me desse lado positivo da doença, animei-o:
– Deixa lá, passa depressa. Ficas na cama… não tens ninguém que te vá ler a Anita à cama? – perguntei, na brincadeira, fazendo referência à minha infância, mas sem a explicar.
Ele, por entre dois cof, cof, retorquiu maliciosamente:
– Depende da Anita. Mas como estou, minha querida… – fez uma pausa para um suspiro resignado – acho que não a consigo ler nem em Braille!