segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Dia de S. Valentim


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domingo, fevereiro 13, 2011

É pegar ou largar!

Olhem, sou eu, cortei os pulsos! Este é o meu sangue, a minha vida, a minha desgraça.
Tirei a máscara. Não me apetece mais fazer de conta. Vejam como sou por dentro. Os vermes que tenho, as bactérias que me habitam, como são feias as minhas entranhas. Reparem nos meus defeitos, nas minhas imperfeições, nas cicatrizes que me mapeiam o corpo; a alma. Esta sou eu, é pegar ou largar! Cansei-me de fingir. Não sou feliz, não sou perfeita, não sou bonita. Visitam-me fantasmas, guardo esqueletos no armário, atormentam-me pesadelos.
Estou cansada. Tão cansada. Corre-me o sangue para o chão… Um rio. Uma poça. Um lago de sangue. Um mar de alivio.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Simão, o Senhor das Terras

Personagens:
• Simão
• Eu

Cenário:
Para falar verdade, entrei no FarmVille por causa dos meus sobrinhos. Custava-me vê-los ali, esfalfarem-se por uma propriedade fictícia e eu, de braços cruzados, sem lhes dar uma mãozinha. Sendo eles a minha descendência – uma vez que não tenho filhos – senti-me responsável por lhes deixar uma herança: terra, tecto, meios de subsistência, mesmo que num mundo virtual. Criei uma quinta minha, para lhes poder enviar árvores, animais, presentes. Depois, vendo-me facilmente ultrapassar-lhes o nível, senti-me culpada e providenciei a posse das suas passwords para os poder ajudar ainda mais. Ou melhor, da sua password – a do Simão – porque o Martim, na sua independente adolescência, ma negou. Assim, todos os dias, alimento os seus animais, colho as suas frutas, lavro as suas terras. Todos os dias deixo a “herdade” do Simão um brinco. Mas o meu empenho foi proporcional ao seu desleixo. Arranjada a “caseira”, sua excelência dedicou-se ao ócio e apenas lá vai de vez em quando para “controlar” as actividades. Sentindo-me injustiçada, confrontei-o com o facto. Ele, com a soberba de um grande latifundiário, respondeu:

Acção:
– Nunca lá vou porque não tenho tempo. Sou um homem muito ocupado.

Só lhe faltou estar refastelado numa poltrona, com o cachimbo ao canto da boca. Aos pés, até já tinha o labrador.

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Percebem, agora, por que não me importo de ter asas?

© Foto: ? / Na Foto: Erin Heatherton

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sábado, fevereiro 05, 2011

O Sentido da Vida

Finalmente, aconteceu o inevitável, aquilo que Lunata sabia que mais tarde ou mais cedo acabaria por suceder: Pato Preto deu entrada no hospital. Estava velhinho, Pato Preto, e Lunata tentava com toda a sua fé ludibriar o destino e adiar a ideia deste desfecho, mas o destino não se deixa enganar e o que tem de ser tem muita força.
Nessa tarde, Lunata foi dar com o amigo deitado numa cama impessoal, prostrado, oscilando entre a vigília e o sono, entre a lucidez e a demência. Vê-lo assim fê-la consciencializar-se de que, ao contrário do que muitas vezes nos querem fazer acreditar, não há dignidade, sapiência, beleza na velhice. Pegou-lhe na pata, mais sarapintada do que nunca pelo tempo, acariciou-lhe os nódulos das artroses, as rugas do tempo, beijou-as com ternura. Desejou poder levá-lo para o seu mundo da lua, o mundo de faz de conta onde os seres são eternos, como ela, onde não existem doenças, onde a morte não entra. Mesmo velhinho, pensou, Pato Preto era tão bonito!, o bico arrebitado, perfeitinho… Continuava vaidoso: pediu-lhe que lhe ajeitasse a gravata branca que lhe desce sobre o papo, que lhe alisasse as penas. Ela fê-lo com carinho. Ele fechou os olhos, profundos como todo tempo que já percorrera, vagos, como o tempo que ainda lhe restava e chamou-lhe “mãe”. “Mãezinha”. Ela comoveu-se. Aquela inversão de papéis rebentou-lhe o coração, despedaçou-a. Ele, o forte, que sempre fora um pai para ela, a menina, a frágil. Para essa inversão, não estava preparada. Ela que precisava ainda tanto dele! Desatou num pranto por dentro. Respondeu-lhe que era a sua “filha”, a sua “filhinha”.
Pensou revoltada: onde estaria, agora, Demiurgo que lhe jurara amor, na alegria e na tristeza? Onde estava a esperança que nos prometem na infância? A felicidade em que nos fazem tanto acreditar? Depois resignou-se. Pensou que a vida é uma longa caminhada, uma complexa aprendizagem, um caminho tortuoso que nos faz crescer e que no fim deve − tem de! − ter um qualquer propósito.

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