sexta-feira, abril 29, 2005

IMAGEMdoDIA



"Masked Palestinian militants rest before a Hamas movement rally at the Nusserat refugee camp in the Gaza Strip April 29, 2005. Palestinian forces have arrested two militants over rocket attacks on Jewish settlements in the Gaza Strip following President Mahmoud Abbas's pledge to use an "iron fist" to enforce a truce, security sources said on Friday."

29 Apr 2005
REUTERS/Suhaib Salem

Fonte: Reuters

quinta-feira, abril 28, 2005

IMAGEMdoDIA



"Models pose with masks of British Prime Minister Tony Blair outside a press conference by the Labour Party leader in central London April 28, 2005. A leak of secret pre-war advice from Britain's top lawyer, Attorney General Lord Peter Goldsmith questioning the legality of an invasion of Iraq buffeted Blair just a week before polling day in the UK's general election."

28 Apr 2005
REUTERS/Dylan Martinez

Fonte: Reuters

quarta-feira, abril 27, 2005

IMAGEMdoDIA



"A relative holds the ID card of Lame'a Abed Khadawi, who was a member of caretaker Prime Minister Iyad Allawi's political party, who was shot dead outside her house in eastern Baghdad, April 27, 2005. Gunmen assassinated an Iraqi woman member of parliament on Wednesday in a fresh shock to politicians whose failure to form a government three months after elections has allowed violence to thrive unchecked."

27 Apr 2005
REUTERS/Akram Saleh

Fonte: Reuters

Não vou abrir precedentes…

na multiplicidade de imagens do dia. Vou dormir sobre o assunto, e logo…escolherei… UMA.
Bolas, que indecisão! Será sinal de insegurança?...

terça-feira, abril 26, 2005

IMAGEMdoDIA (IV)



"Syrian army troops parade during a farewell ceremony at Riyyak airbase in the Bekaa valley April 26, 2005. Syria pulled its last troops and intelligence agents ending three decades of domination over Lebanon. The last Syrian soldiers and intelligence agents left Lebanon on Tuesday, ending three decades of Syria's direct involvement in its small neighbour. As their buses crossed the frontier, many Lebanese hailed the completion of a withdrawal that had taken seven weeks as the start of a new era. But although Damascus's domination is past, many believe its influence in Lebanon is far from over."

26 Apr 2005
REUTERS/Jack Dabaghian


Fonte: Reuters

IMAGEMdoDIA (III)



"A Chinese man looks at a poster showing leaders attending the Nationalist-Communist negotiation in 1945 inside the former presidential palace in Nanjing, the capital of Jiangsu province April 26, 2005. Taiwan's opposition leader Lien Chan began a historic "journey of peace" to China on Tuesday, seeking to reconcile with an old enemy even as hundreds of pro-independence supporters staged protests. Centre right is Chiang Kai-shek and centre left is Zhou Enlai."

26 Apr 2005
REUTERS/Jason Lee

Fonte: Reuters

IMAGEMdoDIA (II)



"A South Korean woman uses a mobile phone in front of a currency exchange sign at a bank in Seoul April 26, 2005. The South Korean won finished flat in domestic trade on Tuesday, giving up mild early gains, with dealers citing dollar-buying intervention a day after the local unit posted its highest close in over seven years."

26 Apr 2005
REUTERS/Kim Kyung-Hoon


Fonte: Reuters

IMAGEMdoDIA (I)



"An ultra-Orthodox Jewish man prays during Passover prayers at the Western Wall in Jerusalem's Old City."

26 Apr 2005
REUTERS/Oleg Popov

Fonte: Reuters

segunda-feira, abril 25, 2005

IMAGEMdoDIA



"An Iraqi soldier stands at the scene of a burning oil pipeline following an attack in the Bay Hassan area near the northern city of Kirkuk April 25, 2005. Militants frequently attack Iraq's oil infrastructure as part of efforts to disrupt the country's reconstruction. Oil exports are Iraq's major source of foreign income."

25 Apr 2005
REUTERS/Showan Rasheed


Fonte: Reuters

Um domingo em família (cont.)

Personagens:
• Simão, quatro anos
• Pai do Simão
• Tomás, irmão do Simão, de sete anos

Cenário: O pai, na cozinha, prepara o jantar, distraído, entre panelas, talheres e máquina de lavar louça avariada, enquanto os dois filhos se guerreiam com onomatopeias, biqueiros, jogos de bayblade , chapadas e gargalhadas.

Acção:

O Simão reclama a atenção do pai, para lhe contar as suas “aventuras” no Parque da Cidade nessa tarde.

Simão: − Ó pai, o gancho é o mais pior de todos!
Pai: (com o pensamento a léguas…) − Quem, filho?
Simão: − O GANCHO!
Pai: (com um ar ausente) − O Capitão Gancho?
Simão: (estica-se no alto dos seus quatro anos para falar ainda mais alto, mas é interrompido pelo irmão)
Tomás: (implacável) − Não é gancho, seu burro, é GANSO!

Um domingo em família

Personagens:
Eu
O meu sobrinho mais novo, Simão, de quatro anos

Cenário:
Parque da Cidade: lagos a espelharem o pôr-do-sol; o mar ao fundo; o cheiro intenso da vegetação misturado com a humidade da maresia; patos, cisnes, gansos, gaivotas e outras aves de todos os tamanhos e feitios; peixes; cães; crianças, adultos, os últimos sobreviventes de um dia de passeio…

Acção:

Cena 1: Eu e o meu sobrinho Simão passeamos junto aos lagos − num companheirismo e cumplicidade que tem vindo a reforçar-se nos últimos tempos − com um saquinho com pão e tostas na mão. Aproximam-se de nós patos, cisnes, gaivotas, gansos… reclamando comida.

Eu: (apontando para um grande pato preto com uma listra branca que lhe desce do pescoço até ao papo) − Olha, Simão, está ali o Senhor Pato!
Simão: (procura-o com o olhar)
Eu: − Este, todo de preto com a gravata branca, vês? É um pato muito atarefado, trabalha tanto que nem ao fim-de-semana tem tempo para tirar a gravata!
Simão: (pensativo)…
Eu: − É meu amigo, o Senhor Pato, sabias?
Simão: (a sorrir, mas desconfiado) − Estás a enganar a mim, não estás?!
Eu: (piscando-lhe o olho para lhe confirmar a desconfiança, dou por mim a responder a mim própria, em pensamento: − Sei lá, … quem acredita que tem um gnomo como amigo, pode bem ter, também, um pato executivo…)

Cena 2: Na beira de um dos lagos está um imponente cisne aninhado.

Eu: − Aquele cisne está a chocar os ovinhos para nascerem os filhotes…
Simão: (com voz esganiçada, indignado) − Os cisnes não põem ovos!!!
Eu: (também indignada, que desta vez estava a falar verdade, verdadinha, explico) − Põem, Simão, os cisnes são aves como os patos e as galinhas… as galinhas põem ovos, não é?
Simão: (assentiu com cabeça e completou) −… e nascem os pintinhos.
Eu: − Isso mesmo (confirmei, continuando a explicação) − As galinhas, os patos, os cisnes e todas as aves põem ovos, e para os filhinhos nascerem têm de os manter quentinhos, por isso sentam-se em cima deles.
Simão: (entusiasmado por ter aprendido algo novo, mas essencialmente feliz por desfrutar deste nosso companheirismo, dá-me − com aquele seu ar de rato traquinas − a resposta que lhe parece mais gratificante para mim) − Ai, que tu sabes tanto! Tu sabes mesmo tanto!! Tu sabes tudo?!
Eu: (pensando que nada sei… e que quem me dera ter quatro anos, para achar que, quem sabe quem põe os ovos, sabe tudo, respondi) − Tudo, tudo, não, mas esta coisa dos ovos… eu sei.

domingo, abril 24, 2005

IMAGEMdoDIA


"Bishops walk to the inaugural Mass of Pope Benedict in St. Peter's Square in the Vatican April 24, 2005. Setting the tone for his papacy, Pope Benedict XVI on Sunday urged humanity to re-discover God if it wanted to transform the world's "deserts" of poverty, pain and privation into gardens of peace and progress."

24 Apr 2005
REUTERS/Jerry Lampen

Fonte: Reuters

sábado, abril 23, 2005

Enganos

Sabias, perfeitamente, que não vinhas para ficar, Meu Amor, mas continuaste a mentir, e a dizer que era essa a tua vontade…

IMAGEMdoDIA



"An Angolan vendor sells fruits on the streets of the nation's capital Luanda April 23, 2005. Angola's farming sector is slowly recovering after decades of civil war, but landmines and destroyed infrastructure hamper progress and a million people still rely on food aid, United Nations experts say. Thousands of refugees have returned to abandoned fields since a 27-year civil war ended in 2002. Some have lost farming skills altogether and for those who have them, getting produce to market is all but impossible."

23 Apr 2005
REUTERS/Mike Hutchings

Fonte: Reuters

UNITED CHICKS OF BENETTON???



"Coloured chicks on display for sale at a local market place in Amman February 20, 2002. Traders coloured the chicks as a ploy to attract children as thousands of Jordanian shoppers rush to the markets to buy goods and food ahead of the Muslim Eid al-Adha feast, a major Muslim holiday this Friday."

20 Feb 2002
REUTERS/Ali Jarekji

Fonte: Reuters

sexta-feira, abril 22, 2005

Papa e Rock`n`Roll





Que Deus me perdoe se for sacrilégio o que digo, mas, sinceramente, ver aquelas freirinhas, a correr pela Praça de São Pedro fora, todas eufóricas, por causa da eleição de um velho decrépito… lembra-me a histeria dos Beatles nos anos sessenta.

Pergunto-me se não terão daquelas “imagenzinhas” em papel, com a fotografia do Papa, e se lhe darão beijinhos à noite, antes de adormecer, como fazem as adolescentes com os ídolos que têm em posters, mesmo ao lado da cama.


IMAGEMdoDIA





"A seven-year-old Indian girl, Rameshwari, works in a brick kiln on the outskirts of the northern Indian city of Jammu April 22, 2005. India's constitution bans children younger than 14 from working but human rights group estimate up to 115 million children, roughly twice the entire population of Britain, work for a living."

22 Apr 2005
REUTERS/Stringer/india


Fonte: Reuters

quarta-feira, abril 20, 2005

BENEDICTVM XVI

E pronto, foi, logo, eleito Papa o último cardeal que devia ter sido!…

Os Medos irracionais e a Maternidade

Personagens:
·
Eu
· A minha amiga Mena, mãe pela primeira vez, aos 38 anos, de um rapaz chamado Luís Pedro
· Luís Pedro, com cerca de dez meses de idade
· Uma abelha

Cenário:
Fim de tarde de um belo dia de Outubro, na casa de fim-de-semana da Mena e do Pedro, algures no meio do nada, perto de Viseu.

Cor de fundo:
Verde, muito verde.

Acção:

Cena 1:
Abeira-se do Luís Pedro uma abelha que teima em zumbir de volta dele. O simpático e sempre bem disposto rapaz, com um sorriso de orelha a orelha, gesticula para chegar ao insecto.

Cena 2: A minha amiga levanta-se num ápice, e desata a estalar o indicador contra o polegar (de ambas as mãos) num ritmo frenético, numa tentativa de afastar a abelha, o que parece divertir ainda mais o Luís Pedro.

Cena 3: (diálogo)
Eu: − Achas que isso adianta alguma coisa, Mena?

Mena: (continuando numa espécie de dança tribal em redor do filho) − Não sei querida, só sei que se me mandassem fazer o pino para afastar a abelha, eu fazia!

Cena 4:
Fico a reflectir naquelas palavras e apercebo-me, mais uma vez, da grandeza e da responsabilidade da maternidade.

As "cadeias" já chegaram à blogosfera...

... e eu fui "apanhada" por uma!

Vamos lá, então, às perguntas.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Assim, de repente, acho que o mais proveitoso para a Humanidade era ser um livro pornográfico, daqueles, tipo, Gina. É que, enquanto eu “entretinha” os bombeiros, safavam-se livros preciosos! (O que não faz uma pessoa em nome do SABER, hein?! ;-) )

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Oh, tantas! Apaixono-me, desta ou daquela forma, por quase todos os personagens que crio.

Qual foi o último livro que compraste?
Foi o “Crime do Padre Amaro”, do Eça de Queirós. A renite alérgica é tramada, faz-me gastar dinheiro a dobrar (triplicar, quadruplicar, …) sempre que quero reler uma obra!

Qual o último livro que leste?
O último livro que li...? Pois, assim de repente, confesso que não tenho bem a certeza, mas penso que foi o “Por detrás da Magnólia”, do Vasco Graça Moura. Só espero que, se errei − e, por questões de dias, foi outro o último livro que li − isto não implique − como é costume nas “cadeias” − sete anos de azar, e mais uma dúzia de maleitas e afins ;-)

Que livros estás a ler?
São vários… Embora não seja meu hábito "pular" de leitura em leitura (especialmente quando se trata de livros do mesmo género, ou seja, ficção/romance) o facto é que, nos últimos meses, assim tem acontecido. Estou a ler:
1) O “Anjos e Demónios”, do Dan Brown, que obedece à mesma “fórmula” do Código da Vinci: os “maus”; os “bons”; o “artista”; a “rapariga”; o mensageiro dos maus… a intriga (bem tecida). Pela novidade, preferi o Código.
2) “A Filha do Capitão”, do José Rodrigues dos Santos: bem narrado, bem estruturado, uma agradável surpresa.
3) Um manuscrito que me foi entregue para corrigir (e dar parecer), que se encontra a concurso no Prémio FNAC/Editora Teorema. Como é óbvio, não poderei divulgar o nome do autor, nem da obra, pois ainda não se encontra editado.
4) “Expiação”, de Ian MacEwan, que não ato nem desato há uma série de meses, vai-se lá perceber porquê…

Cinco livros que levarias para uma ilha deserta?
Pois não levaria nenhum! Levava, era, resmas de papel e algumas das minhas canetas de estimação (não fosse a tinta acabar) para poder escrever as “minhas histórias”. E se o papel terminasse, escreveria nas folhas das bananeiras, das palmeiras, na areia, e fosse lá onde fosse!
Se a dita ilha fosse, como lembrou, muito bem, a SonecasS, um resort de luxo, algures num lugar tropical… ah, aí, levava, mesmo, era o meu portátil!

Três pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?
Está visto qual será a resposta a esta pergunta: não passo a ninguém. Não gosto de “cadeias”! Acho que o medo que temos do azar que elas nos podem trazer é irracional, comparável à necessidade que sente um “obsessivo-compulsivo” face a um impulso que sabe ilógico, mas que não consegue reprimir. Morrermos ou ficarmos sem o “amor da nossa vida”, se não reenviarmos um mail/ carta, é absurdo (e ainda mais, quando a infelicidade associada é inversamente proporcional ao número de reenvios feitos), mas por outro lado… não custa nada… é só irmos, ali, num instantinho, à lista de contactos e… ficamos, logo, muito mais descansados! É que, já dizia o ditado: “Não acredito em bruxas… mas… que as há, há!”

terça-feira, abril 19, 2005

Quer se goste ou não... Hoje fez-se História!

HABEMVS PAPAM

BENEDICTVM XVI

BENEDETTO XVI

19 aprile 2005

Annuntio vobis gaudium magnum;
habemus Papam:

Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum Josephum
Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger
qui sibi nomen imposuit Benedictum XVI


segunda-feira, abril 18, 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...

Ao todo foram talvez quatro, as vezes que nos encontramos na clínica para nos amarmos.
E se, da primeira vez, a iniciativa foi dele, de todas as outras a ideia partiu de mim. Ele hesitava, sem nunca mencionar porquê, sugeria o hotel ou então acabava por aparecer em minha casa. Mas daquelas três vezes, o tempo — escasso — jogara a meu favor, e ele, apanhado na teia do desejo, fora forçado a ceder.
Encontrar-me ali com ele foi a maneira melhor que arranjei de entrar no seu mundo, de partilhar a sua vida oficial sem ser de uma forma clandestina. E isso excitava-me. Excitava-me profundamente, o que acabava por se reflectir nele também, pois era arrastado por mim.
Os nossos melhores encontros de amor foram ali, onde o sexo era rápido, mas intenso, onde o cenário era pobre, mas a performance perfeita. Na sua cadeira, encostados à parede, na mesa, com parte da roupa colada a nós, deixávamo-nos ir para onde a paixão nos levava, algures onde não havia limites. Abafávamos gemidos, evitávamos barulhos, e ao fazê-lo explodíamos em prazer, porque uma mão que nos tapa a boca e um corpo que se move mais devagar estimula fantasias e elas aumentam de dimensão quando adquirem o gosto do pecado, o sabor do fruto proibido. Ali era a sala do responsável máximo por aquela clínica, onde deviam ser atendidos doentes, onde era suposto estar o médico, o técnico altamente especializado a fazer diagnósticos e prognósticos. Ali estávamos nós, misturados um no outro, um só, confundidos no suor, na saliva, no ritmo cardíaco. Ali estávamos nós, entregues um ao outro, colados, como uma lapa a uma rocha, em que só uma pancada certeira, apanhada de surpresa, nos faria descolar.
Naquele dia tocou o telefone, e não sei aonde o João arranjou folgo, pois a voz tremia-lhe, como me tremeria a minha se tentasse falar. Estava sentada em cima dele, com ele dentro de mim, as minhas costas contra o bordo da secretária a deixar-me um vergão vermelho na altura da cintura, quando ele passou a mão direita sobre a minha cabeça numa ginástica que não sei explicar, alcançou o telefone e voltou a passá-lo para o mesmo lado, mas agora por detrás das minhas costas. Com a outra mão desviou a minha cara do bocal, e eu fiquei a arfar contra o seu peito, descompassadamente.
— Sim, Isabel... — ouvi-o engolir para disfarçar ou controlar o “el” que lhe saiu de uma forma esquisita, ou talvez para ganhar fôlego para prosseguir a frase —, diga-lhe que espere cinco minutos, que eu estou a acabar de atender uma doente.
E desligou o telefone. Soltou a mão esquerda que, pousada na minha cabeça, me puxava contra si e, juntamente com a direita, passou-a nos cabelos num gesto nervoso, respirando fundo como se tentasse recompor-se. Eu continuei encostada a ele, a ouvir o seu coração, a sentir o seu latejar dentro de mim. As suas mãos pousaram agora nas minhas costas e interpretei-as como um sinal para recomeçar. Lentamente o meu corpo começou a mover-se, à procura do seu, do seu ritmo, do nosso ritmo, mas ele tentou parar-me com a voz, com o som do meu nome.
— Mariana...Eu continuei, e, como ele não se mexia, concentrei-me em mim, porque às vezes, no amor, somos egoístas. Movi-me, beijei-o, voltei a mover-me. Queria dar ao meu corpo o que ele pedia, queria terminar o que começáramos.
— Mariana... — repetiu.
E eu encostei-me mais a ele, usei as mãos para o persuadir.Mas de repente senti a pancada, certeira, o som oco da pedra contra a pedra, bem na minha cabeça.
— A Luísa está lá fora...
O meu corpo traía-me, falava por mim.
— Deixa que ela nos veja assim abraçados...
O meu corpo não sabia que, quando as lapas não se separam da rocha à primeira pancada, acabam geralmente desfeitas à segunda.
— Mariana, por favor, a minha mulher está lá fora. Eu não posso...
E eu levantei-me rapidamente. Olhei à minha volta à procura de pedaços de mim. Estava inteira. Felizmente saíra dele antes de ser esborrachada.
Ele tentou ainda agarrar-me a mão, mas esta, no lado oposto da sala, ajudava-me já a vestir a camisola de gola alta que, ao passar-me na garganta, ainda a apertava mais.
Quando o olhei antes de sair, lembro-me de me ter questionado como é que a mulher dele não iria perceber que ele estivera a fazer amor comigo, porque eu perceberia pelos seus olhos, pelos seus cabelos, pela sua voz... E lembro-me de isso me ter dado um certo gozo, um gostinho de vingança!
— Mariana...
Parecia que era a única coisa que conseguia dizer ou fazer, porque continuava sentado na cadeira e, apesar de ter vestido as calças, a camisa continuava desabotoada e a gravata e a bata espalhadas pelo chão.
Eu resolvi facilitar-lhe a vida e, se o fiz, não foi por altruísmo, mas sim porque entendi que assim facilitava a minha também. Fiz um gesto com a mão, como se lhe pedisse para parar.
— Ouve, João, não digas nada... não digas nada.
Esta fora apenas a primeira etapa da prova de engolir sapos em que me metera.
No corredor estava a mulher dele, à espera que eu saísse para entrar. E se na primeira prova eu perdera, nesta queria sair vencedora. Passei por ela e, sem verdadeiramente a olhar, medi-a de alto a baixo. Tive a sensação, mas pode ter sido só a sensação, que ela fez comigo a mesma coisa. Era morena, de cabelos lisos pelos ombros. Devia ser sensivelmente da minha altura, mas a sua estrutura óssea era bastante mais larga. Ao contrário do que sempre pensei, não a achei bonita, mas tinha “pinta” e estava muito bem vestida.
Quando nos cruzámos, levantei bem a cabeça, como a minha mãe sempre nos ensinara a fazer nas situações difíceis. E o que mais me surpreendeu e me apanhou mais uma vez desprevenida, é que ela me olhou, me sorriu e me dirigiu a palavra:
— Boa tarde.
Eu entupi. Não saiu nenhum som. A segunda prova estava superada, mas a pontuação era zero. Senti a minha cabeça baixar e, quando deixei a clínica e me dirigi ao elevador, achei que eu não era eu, mas sim uma tartaruga e que a minha cabeça se escondera na carapaça. Fiquei parada em frente ao elevador, lenta como as tartarugas, e só depois de muitos minutos estendi o dedo para o chamar.
A porta abriu-se e saiu o Francisco. Decididamente não estava nos meus dias, se bem que desta vez até nem me tenha saído muito mal.
— Olá Mariana, como está?
— Olá Francisco, bem disposto?
— Nem por isso, mas, depois de ver uma pessoa tão bonita como a Mariana, fica-se logo bem disposto.
Eu sorri maliciosamente e estendi-lhe a mão, porque sabia que o Francisco era um gentleman, um beija-mãos.
E esse foi o momento de glória desse meu dia tão inglorioso e valeu a pena, porque foi a única coisa nesse dia que me fez sorrir. A minha mão, aquela mesma mão que momentos antes passeara no João e em mim própria, estava agora perto dos lábios do Francisco. A minha mão, aquela mesma mão que testemunhara há momentos o nosso amor e que cheirava a sexo, pousava agora perto do seu nariz. E quando entrei no elevador, para descer até ao rés-do-chão, imaginei o Francisco na sua sala, agarrado à sua mão, que cheirava à minha, a fazer aquilo que eu e o João não acabáramos.
Segui até ao carro com o meu pequeno triunfo a esconder as minhas grandes derrotas.
Entrei no parque de estacionamento e passei pelo carro do João, que estava a dois lugares de distância do meu. Veio-me a tristeza, a humilhação, a falta de dignidade à memória. E a vingança, esse sentimento mesquinho e primário veio também, e instalou-se nas minhas mãos, que seguravam as chaves do meu carro. Contornei o seu automóvel lentamente, uma, duas vezes. As chaves apontadas a ele, prontas a arranharem, a magoarem.
Mas outro sentimento protegeu-me deste, e não foi o bom senso. Enquanto o exteriorizava, deixei que uma série de expressões faciais e verbais acompanhassem o meu raciocínio, baixando assim o nível, até ao limite aonde a minha raiva me obrigou.
— Puta! O que é que esta tipa tinha que vir fazer aqui?! Ela não o larga! Não o larga!Provavelmente está lá em cima toda meiguinha a...
E imaginá-los a fazer amor deixou-me ainda mais furiosa. Entrei no carro e bati a porta com força. Ainda o sentia dentro de mim e, se me tocasse a mim própria, provavelmente ainda encontraria o espaço que o seu corpo conquistara ao meu. E era de sexo que falava, porque já não queria falar de outras coisas. Não queria falar do meu filho, porque com ele não conquistara só espaço no meu corpo, mas também na minha alma, na minha vida.
Tive vontade de vomitar, cheguei mesmo a abrir a porta do Golf. Não o queria partilhar com ninguém, queria-o só para mim. E, provavelmente, ela também. E se lutava por ele estava no seu pleno direito, mas eu detestava-a, ai como a detestava!"



© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição" págs. 153-157; Editorial Presença 2003

domingo, abril 17, 2005

Tenho saudades do Natal

Da casa cheia, da lareira acesa, do riso dos miúdos… e até das discussões.
Do pai à cabeceira da mesa, da mãe atarefada com o jantar, do irmão (embriagado), da irmã (sempre) atrasada.
Tenho saudades dos enfeites – os mesmos desde que me conheço – dispostos sem arte nem encanto, num amontoado sem harmonia.
Tenho saudades da árvore – invariavelmente inclinada, qual Torre de Pisa – decorada mesmo ali, à pressa, no último instante, na noite de consoada.
Tenho saudades da empregada – que nessa altura do ano nos “trocava” pela família biológica – das suas rabanadas, filhós e sonhos.
Tenho saudades do namorado – vindo de terras distantes, de sotaque agreste – e dos seus presentes teenagers, comprados com um par de marcos ganhos nas férias.
Tenho saudades do gato – mesmo que me cortasse o coração sabê-lo na rua em noite de frio – e do peru e bacalhau desfiados com o carinho de quem embrulha um presente para um amigo especial.
Tenho saudades daquela bola transparente – que sobreviveu a sótãos e a anos – que parecia de sabão e reflectia as cores do arco-íris.

Tenho saudades do Natal.
Hoje o vento sopra lá fora, a chuva fustiga as janelas, a casa está tão vazia… e eu… tenho tantas saudades do Natal!


sexta-feira, abril 15, 2005

19 de Abril de _ _ _ _

Recordo cada canto do teu corpo: o teu peito, o teu abdómen, o teu sexo... (macio).
Relembro cada linha das tuas mãos: aquelas que percorri, — encruzilhadas — para me perder.
Recordo o teu cheiro, o teu riso, o teu movimento ao andar. O fumo do tabaco a ser expelido pelos teus pulmões.
Respiro lentamente, com a dificuldade dos peixes que são privados de água. E o mesmo olhar — arregalado e aflito — de quem se sente a morrer.
E conheço a resposta, mas insisto em perguntar: se padecer de amor... estarás presente no meu funeral?

quinta-feira, abril 14, 2005

Ainda dizem...

que os gatos não têm personalidade...
Este tem, aposto!


quinta-feira, abril 07, 2005

Gato Escondido...




Detesto esta coisa de comparar desgraças, mas devo dizer-lhe que teve sorte, e muita! O que são seis ovitos (ainda para mais caseiros) putrefactos comparados com um “felino” em decomposição?! É isso mesmo, passei por drama idêntico: o de um odor não identificado durante dias - que me pareceram séculos - na minha singela viatura. Sob o risco de não voltar a ser capaz de utilizar o meu mais precioso meio de locomoção, vi-me forçada a recorrer a uma garagem em busca de auxílio. E se já é costume os marmanjos de fato-macaco se “entusiasmarem” com a entrada, no seu local de trabalho, de um espécimen do sexo feminino, dando azo a piadinhas atrevidas e cotoveladas mal disfarçadas, imaginem o meu espanto quando a garagem INTEIRA desata a miar! Se bem que o meu ego não andasse nada por baixo, logo percebi que não estavam a tentar chamar-me “gatinha” nem coisa parecida, mas sim, a gozarem-me, violentamente, por ter um gato morto no motor do carro. O pobrezinho devia estar doente e ter escolhido aquele local, quente, para se abrigar, escondendo-se de tal forma (daquela que só os felinos são capazes) que nem a cauda deixou de fora, a denuncia-lo.
Só espero que tenha morrido quentinho e confortável, de morte natural… é que neste episódio tão macabro, o odor do carro passou a ser secundário e o da dúvida do que motivou a morte do gatinho a moer-me (e remoer-me) o coração…


(Comentário ao Controversa Maresia em 24/03/05)

quarta-feira, abril 06, 2005

SOLITÁRIO

Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz
Por isso te quero tanto
E tantas mágoas me dás

Perguntas-me o que é morrer
Meu amor, minha alegria,
Morrer é passar um dia
Todo inteiro sem te ver


Francisco Menano