sexta-feira, setembro 29, 2006
quinta-feira, setembro 28, 2006
A tatuagem
Foi dar com o Pato Preto, sem gravata, descontraído, parecendo plenamente feliz pela primeira vez, desde que o conhecia. Nas patas uma belíssima tatuagem Mehndi fazia sobressair, ainda mais, o laranja vivo das mesmas. Que bonito está!, exclamou Lunata mentalmente com tal convicção que lhe saiu em som, oralmente, também.
− Obrigado − agradeceu ele orgulhoso, dando uma volta sobre si próprio, para que ela o pudesse mirar melhor − São costumes antigos. Fazem-se, em ocasiões especiais, com hena, no Norte de África, no Médio Oriente e no Sul da Ásia − explicou, esticando muito as patas delicadamente enfeitadas de cima abaixo − Fez-mas um primo acabado de migrar do sul. Um primo berbere! − exclamou, enchendo muito o papo, vaidoso, como que orgulhoso dos seus dizeres.
− E o que faz um primo teu berbere aqui nesta altura do ano? Não é precisamente agora que rumam, vocês, para sul? − Perguntou, ela, intrigada, desconfiada de mais alguma informação que ele lhe estivesse a ocultar.
O Pato Preto tossiu. Um quack seco, engasgado, seguido de mais três que parecerem a Lunata uma gargalhada nervosa.
− Veio para a festa − informou, dando mais uma volta, mas desta vez em torno dela.
− Festa? Mas que festa???
Ele voltou a gracitar. E agora ela teve a certeza que foram gargalhadas. Gargalhadas felizes.
− Vou-me casar, Lunata − E desarmado, com um sorriso babado que lhe agraciou a expressão, acrescentou: − É pata, é marreca, eu sei, mas, caramba, é a mulher da minha vida!
E para Lunata que começava a não acreditar no amor, a vê-lo e a senti-lo escuro como um poço sem fundo, aquilo brilhou como um raio de sol na manhã. Fazia anos que o Pato Preto e a Senhora Pata estavam juntos. Tantos, quantos os que ela os conhecia, o que é o mesmo que dizer, desde sempre. E, queriam eles, ainda, selar para a eternidade (seja lá o que ela for) essa união?! Lunata sorriu. Afinal, sempre era possível!
− Obrigado − agradeceu ele orgulhoso, dando uma volta sobre si próprio, para que ela o pudesse mirar melhor − São costumes antigos. Fazem-se, em ocasiões especiais, com hena, no Norte de África, no Médio Oriente e no Sul da Ásia − explicou, esticando muito as patas delicadamente enfeitadas de cima abaixo − Fez-mas um primo acabado de migrar do sul. Um primo berbere! − exclamou, enchendo muito o papo, vaidoso, como que orgulhoso dos seus dizeres.
− E o que faz um primo teu berbere aqui nesta altura do ano? Não é precisamente agora que rumam, vocês, para sul? − Perguntou, ela, intrigada, desconfiada de mais alguma informação que ele lhe estivesse a ocultar.
O Pato Preto tossiu. Um quack seco, engasgado, seguido de mais três que parecerem a Lunata uma gargalhada nervosa.
− Veio para a festa − informou, dando mais uma volta, mas desta vez em torno dela.
− Festa? Mas que festa???
Ele voltou a gracitar. E agora ela teve a certeza que foram gargalhadas. Gargalhadas felizes.
− Vou-me casar, Lunata − E desarmado, com um sorriso babado que lhe agraciou a expressão, acrescentou: − É pata, é marreca, eu sei, mas, caramba, é a mulher da minha vida!
E para Lunata que começava a não acreditar no amor, a vê-lo e a senti-lo escuro como um poço sem fundo, aquilo brilhou como um raio de sol na manhã. Fazia anos que o Pato Preto e a Senhora Pata estavam juntos. Tantos, quantos os que ela os conhecia, o que é o mesmo que dizer, desde sempre. E, queriam eles, ainda, selar para a eternidade (seja lá o que ela for) essa união?! Lunata sorriu. Afinal, sempre era possível!
© Texto e Foto: Sofia Bragança Buchholz. Reprodução interdita
terça-feira, setembro 26, 2006
Os Agradecimentos:
Obrigada, à distintíssima Miss Pearls (sim, porque a vida não é, de facto, a mesma coisa sem Pérolas); ao Knuque que espero que, muito em breve, seja capaz de conduzir uma ambulância do INEM, vulgo, dos bombeiros (mesmo que seja com um autocolante de 90, atrás); à Joaninha; ao Papo-Seco que me alegra as sextas-feiras; ao Palhaço-Voador (amanhã, lá estaremos, no mesmo sítio, à hora mágica do costume); à simpática noiv` Inha; à Samantha; ao Padrinho, Mestre, Senhor e grande amigo JN.
segunda-feira, setembro 25, 2006
Sobre o Caminho (VII): Ser Mulher
© Foto: REUTERS/Yannis Behrakis (2005)
Chateia-me, esta minha incapacidade para te resistir, esta minha passividade perante a tua vontade que me deixa, fragilmente, à mercê dos teus desejos e apetites.
Irritam-me, as horas que passo à tua espera, nos dia em que, simplesmente, decides excluir-me da tua vida, em pensamento e em facto, enquanto eu, ao invés, gasto a minha, a fantasiar como seria se estivéssemos, ou quando estivemos, juntos.
Assusta-me, esse teu alheamento, esse teu esquecimento, essa tua disciplina de, tão facilmente, me banires do teu pensamento, do teu dia-a-dia.
Magoa-me, a injustiça de me teres arrastado (à força da tua persistência e capricho) para o teu mundo, arrancando-me do meu, tirando-me do meu (parco) equilíbrio, prometendo-me mundos e fundos, acenando-me com a felicidade, para depois te fartares, qual criança mimada que enjoa as guloseimas que, voluntariosamente, tanto desejou.
Dói-me, a tua indiferença face à minha dor, quando a medo e em desespero ta confesso, e a ignoras ou subestimas, ao contrário de mim que te velo a tua, que a expio e a sofro, como se de minha se tratasse.
Exaspera-me, esta tua disponibilidade e responsabilidade para com o trabalho e os outros, aqueles que, ao pé de mim, nada te querem, cujo o amor que te têm, comparado com o meu, é ínfimo, cuja dedicação que te concedem, à beira da minha, é nula.
Enoja-me, esta minha disponibilidade, esta minha fraqueza, esta minha quase doença, que ao estalar dos teus dedos me faz, qual discípulo hipnotizado, seguir-te para onde quer que (me) queiras ou vás.
Agonia-me, deprime-me, mata-me, enfim, esta minha dedicação, este meu amor por ti.
E choca-me, mais do que tudo, perceber ser isso, seres tu, Meu amor - sejas, lá, tu quem fores - o que me move, o que verdadeiramente (me) interessa, o que, afinal, dá sentido à minha vida.
© Sofia Bragança Buchholz, 2006. Reprodução interdita.
Chateia-me, esta minha incapacidade para te resistir, esta minha passividade perante a tua vontade que me deixa, fragilmente, à mercê dos teus desejos e apetites.
Irritam-me, as horas que passo à tua espera, nos dia em que, simplesmente, decides excluir-me da tua vida, em pensamento e em facto, enquanto eu, ao invés, gasto a minha, a fantasiar como seria se estivéssemos, ou quando estivemos, juntos.
Assusta-me, esse teu alheamento, esse teu esquecimento, essa tua disciplina de, tão facilmente, me banires do teu pensamento, do teu dia-a-dia.
Magoa-me, a injustiça de me teres arrastado (à força da tua persistência e capricho) para o teu mundo, arrancando-me do meu, tirando-me do meu (parco) equilíbrio, prometendo-me mundos e fundos, acenando-me com a felicidade, para depois te fartares, qual criança mimada que enjoa as guloseimas que, voluntariosamente, tanto desejou.
Dói-me, a tua indiferença face à minha dor, quando a medo e em desespero ta confesso, e a ignoras ou subestimas, ao contrário de mim que te velo a tua, que a expio e a sofro, como se de minha se tratasse.
Exaspera-me, esta tua disponibilidade e responsabilidade para com o trabalho e os outros, aqueles que, ao pé de mim, nada te querem, cujo o amor que te têm, comparado com o meu, é ínfimo, cuja dedicação que te concedem, à beira da minha, é nula.
Enoja-me, esta minha disponibilidade, esta minha fraqueza, esta minha quase doença, que ao estalar dos teus dedos me faz, qual discípulo hipnotizado, seguir-te para onde quer que (me) queiras ou vás.
Agonia-me, deprime-me, mata-me, enfim, esta minha dedicação, este meu amor por ti.
E choca-me, mais do que tudo, perceber ser isso, seres tu, Meu amor - sejas, lá, tu quem fores - o que me move, o que verdadeiramente (me) interessa, o que, afinal, dá sentido à minha vida.
© Sofia Bragança Buchholz, 2006. Reprodução interdita.
domingo, setembro 24, 2006
sexta-feira, setembro 22, 2006
quinta-feira, setembro 21, 2006
Um Ano/ 200 Fotos
© Foto: Sofia Bragança Buchholz
O meu fotoblog NAVEGANDO no TEMPO fez um ano a 4 de Agosto, e recebe hoje a 200 fotografia.
A 4 de Agosto de 2005 coloquei a primeira foto, “O Turista”, ainda no antigo endereço, no Fotolog. Posteriormente, algures em Setembro, com a preciosa ajuda do meu querido amigo JN que me fez este template, mudei-me para o Blogspot.
O meu fotoblog NAVEGANDO no TEMPO fez um ano a 4 de Agosto, e recebe hoje a 200 fotografia.
A 4 de Agosto de 2005 coloquei a primeira foto, “O Turista”, ainda no antigo endereço, no Fotolog. Posteriormente, algures em Setembro, com a preciosa ajuda do meu querido amigo JN que me fez este template, mudei-me para o Blogspot.
quarta-feira, setembro 20, 2006
Em busca das origens
Ah, não sabia! Procurou, com a curiosidade das meninas-mulheres, e encontrou. Pequenina, nostálgica, romântica, perdida no meio do nada… afinal, como ela mesma. Sempre pensara que lhe viera de Lua. Uma serenata de Lua. Ou, talvez, a nata, o âmago, a essência da Lua. Mas, não. E nem imaginava, sequer, quando deitada no seu Quarto Minguante, com a perna fugindo-lhe, baloiçando, fora da sua imaculada cama celeste, inquiria o Pó-Lunar. Ele, atarefado, afastava-se, para se voltar a aproximar, agregado, já, de forma diferente, com as suas tenuíssimas partículas dispostas de nova maneira, sempre em movimento, sempre mutante, apenas consistente na sua alvura. Dizia-lhe que não sabia, que a recordava eterna, desconhecendo-lhe ascendência ou genealogia, deixando-a, assim, com a resposta, ainda mais só naquele seu Mundo da Lua.
Mas Lunata era persistente, e como um felino, mal a noite caía, sob um céu estrelado que a iluminava, caçava o conhecimento com o entusiasmo e a sofreguidão daqueles para quem o saber é precioso.
E encontrou. Perdida na romântica Toscana, na – como ela – antiquíssima Itália, cercada a oeste por Lucca, a norte por Lammari, a este por Fratina e a sul por Cappanori, aquela que lhe esconde as origens, a que lhe enterra as raízes, a que, enfim, lhe dá nome, a bela e graciosa vila Lunata.
Mas Lunata era persistente, e como um felino, mal a noite caía, sob um céu estrelado que a iluminava, caçava o conhecimento com o entusiasmo e a sofreguidão daqueles para quem o saber é precioso.
E encontrou. Perdida na romântica Toscana, na – como ela – antiquíssima Itália, cercada a oeste por Lucca, a norte por Lammari, a este por Fratina e a sul por Cappanori, aquela que lhe esconde as origens, a que lhe enterra as raízes, a que, enfim, lhe dá nome, a bela e graciosa vila Lunata.
© Texto e Foto: Sofia Bragança Buchholz. Reprodução interdita.
[clique na imagem para a ver ampliada]
terça-feira, setembro 19, 2006
Percebes, agora, porque é que eu não me importo de ter asas?
Adriana Lima
Eh lá! Não sei se neste caso não me importaria de ter umas asas um bocadinho mais discretas…
Eh lá! Não sei se neste caso não me importaria de ter umas asas um bocadinho mais discretas…
Simão, o Higiénico
Personagens:
• Simão, 5 anos
• Eu
Cenário:
No Parque da Cidade, depois de termos mexido em patinhos, cavalinhos, cãezinhos, gatinhos… dirijo ao Simão, numa pronúncia manhosa africana, o “nosso grito de guerra”, selo de eterno companheirismo e sinal de bons momentos passados juntos:
Acção:
Eu: − Simão, Istála, aí, a bárebátána!*
Simão: − Não posso, tenho a mão cheia de mircóbios e não os quero espalhar.
* “Estala, aí, a barbatana” é a mesma coisa que “dá cá cinco”. Esta nossa expressão foi retirada do filme “O gang dos tubarões”.
• Simão, 5 anos
• Eu
Cenário:
No Parque da Cidade, depois de termos mexido em patinhos, cavalinhos, cãezinhos, gatinhos… dirijo ao Simão, numa pronúncia manhosa africana, o “nosso grito de guerra”, selo de eterno companheirismo e sinal de bons momentos passados juntos:
Acção:
Eu: − Simão, Istála, aí, a bárebátána!*
Simão: − Não posso, tenho a mão cheia de mircóbios e não os quero espalhar.
* “Estala, aí, a barbatana” é a mesma coisa que “dá cá cinco”. Esta nossa expressão foi retirada do filme “O gang dos tubarões”.
Volver
© Foto: Paola Ardizzoni/ Emilio Pereda
Mais uma vez, fantástica a banda sonora de Volver, composta pela mão de Alberto Iglesias. Para ouvir, ali ao lado, na Caixinha de Música, o tema homónimo interpretado por Estrella Morente.
Mais uma vez, fantástica a banda sonora de Volver, composta pela mão de Alberto Iglesias. Para ouvir, ali ao lado, na Caixinha de Música, o tema homónimo interpretado por Estrella Morente.
segunda-feira, setembro 18, 2006
Pedro Almodóvar...
© Foto: Paola Ardizzoni/ Emilio Pereda
Um dos poucos, capazes de me fazer soltar umas belas gargalhadas, enquanto me aperta o coração.
E conseguiu "volver" a fazê-lo.
E conseguiu "volver" a fazê-lo.
sábado, setembro 16, 2006
sexta-feira, setembro 15, 2006
quinta-feira, setembro 14, 2006
Em 1880 como agora, em 2006
“E ia-me resignando, como quem a uma table d`hôte mastiga a bucha de pão seco à espera que lhe chegue o prato rico de charlotte russe. As felicidades haviam de vir: e para as apressar eu fazia tudo o que devia como português e como constitucional: − pedia-as todas as noites a Nossa Senhora das Dores, e comprava décimos da loteria.” [Em “O Mandarim”, de Eça de Queiroz, Edições Livros do Brasil, págs 24-25]
Como Teodoro − e mais dez milhões de portugueses, constitucionais − também eu jogarei amanha no euromilhões, e rezarei, à noite, a Nossa Senhora para que se lembre de mim. As felicidades, essas, caramba, é desta que hão-de vir!
Como Teodoro − e mais dez milhões de portugueses, constitucionais − também eu jogarei amanha no euromilhões, e rezarei, à noite, a Nossa Senhora para que se lembre de mim. As felicidades, essas, caramba, é desta que hão-de vir!
quarta-feira, setembro 13, 2006
Simão, o Génio
Foi golpe de mestre, de sábio, de génio, aquela poderosíssima arma que o Simão inventou, capaz de superar a força e agilidade dos mais velhos e mais fortes, de os demover, de os fazer fugir a sete pés, enojados, e que eu, cria mais nova das três que presentearam o acasalamento dos meus pais, nunca, jamais, em tempo algum, infortunadamente, me lembrei de utilizar contra os meus irmãos: colocar os lábios em bico e, assim, numa boquinha ridícula e babosa, implorar apaixonada e repugnantemente:
"− Anda cá, minha princezinha Feiona!".
"− Anda cá, minha princezinha Feiona!".
terça-feira, setembro 12, 2006
(Im)pontualidade Britânica
Se há coisa que me transcende, confesso, é a pontualidade. Se até consigo fazer chegar a tempo e horas, um trabalho ou projecto, já a coisa muda de figura quando se trata de me apresentar, eu, je, ich, I, em pessoa.
Quando tal é estritamente necessário, os minutos são calculados ao ínfimo de forma que a minha chegada coincida, exactamente, com a última badalada do tempo limite permitido. A margem de manobra, raramente existe, e quando acontece, nos casos de extrema importância, nunca vai, igualmente, além da mínima prevista.
É verdade que tal já me causou alguns dissabores, desde concertos assistidos a partir do intervalo, a minutos roubados a exames na faculdade, passando por alguns sustos em check in de aeroportos, mas a verdade é que nunca nenhum deles foi superior ao prazer que me dá entrar numa sala repleta, já, de convidados, ou numa ópera, já, aperaltada, de olhos postos em mim, na plateia.
Acontece que tal, particular, característica me depara constantemente com situações inesperadas, algumas das quais, eu jamais alguma vez, sequer, sonhei. Assim, no passado fim-de-semana fui defrontada em St John`s Woods, na pontualíssima cidade de Londres, com mais uma delas. Um atraso de dez minutos no meu preciosíssimo Cartier, destabilizou a minha, precisa, estimativa de tempo na preparação da toilette que me iria abrilhantar num casamento. E, exactamente dez minutos antes da hora calculada, à porta do hotel, um táxi esperava por mim, que, na casa de banho, me debatia, ainda, com um secador apontado ao cabelo encharcado. Ah, mas como não sou pessoa de faltar a um compromisso − sim, porque uma coisa é dar o ar da sua graça numa entrada tardiamente aparatosa, outra é não cumprir com a palavra − dei comigo a entrar, ao contrário do que me está em natura, subtilmente na igreja de St. Mark`s, dirigir-me à casa de banho (que apenas sabia da existência, por filmes), sacar do meu secador e, ali mesmo, ao lado de Deus, da Virgem e de Nosso Senhor Jesus Cristo, alindar o meu rico cabelinho.
E que bem que eu, depois, desfilei perante o altar...! Diria, mais: estava DIVINA!
Charlotte Coleman/ Hugh Grant
Quando tal é estritamente necessário, os minutos são calculados ao ínfimo de forma que a minha chegada coincida, exactamente, com a última badalada do tempo limite permitido. A margem de manobra, raramente existe, e quando acontece, nos casos de extrema importância, nunca vai, igualmente, além da mínima prevista.
É verdade que tal já me causou alguns dissabores, desde concertos assistidos a partir do intervalo, a minutos roubados a exames na faculdade, passando por alguns sustos em check in de aeroportos, mas a verdade é que nunca nenhum deles foi superior ao prazer que me dá entrar numa sala repleta, já, de convidados, ou numa ópera, já, aperaltada, de olhos postos em mim, na plateia.
Acontece que tal, particular, característica me depara constantemente com situações inesperadas, algumas das quais, eu jamais alguma vez, sequer, sonhei. Assim, no passado fim-de-semana fui defrontada em St John`s Woods, na pontualíssima cidade de Londres, com mais uma delas. Um atraso de dez minutos no meu preciosíssimo Cartier, destabilizou a minha, precisa, estimativa de tempo na preparação da toilette que me iria abrilhantar num casamento. E, exactamente dez minutos antes da hora calculada, à porta do hotel, um táxi esperava por mim, que, na casa de banho, me debatia, ainda, com um secador apontado ao cabelo encharcado. Ah, mas como não sou pessoa de faltar a um compromisso − sim, porque uma coisa é dar o ar da sua graça numa entrada tardiamente aparatosa, outra é não cumprir com a palavra − dei comigo a entrar, ao contrário do que me está em natura, subtilmente na igreja de St. Mark`s, dirigir-me à casa de banho (que apenas sabia da existência, por filmes), sacar do meu secador e, ali mesmo, ao lado de Deus, da Virgem e de Nosso Senhor Jesus Cristo, alindar o meu rico cabelinho.
E que bem que eu, depois, desfilei perante o altar...! Diria, mais: estava DIVINA!
segunda-feira, setembro 11, 2006
Mãos
Lunata gostava de mãos. De longos dedos, como as dos pianistas, elegantes, como as dos bailarinos, sagazes como as dos homens de leis. Gostava delas conhecedoras, eruditas, distintas, como as dos diplomatas. Especialistas, investigadoras, persistentes, como as dos cientistas. Aventureiras, ágeis, exploradoras como as dos arqueólogos. E gostava delas, também, tímidas, sensíveis, sonhadoras, como as dos poetas. Mas as que ela preferia, as de que ela gostava mais, eram as dedicadas, cirúrgicas, curadoras, de médico, como as de Demiurgo.
sexta-feira, setembro 08, 2006
quarta-feira, setembro 06, 2006
Simão, o Erudito
Personagens:
• Simão, 5 anos
• Eu
Cenário:
No carro, à espera que alguém, com chave, chegue para nos abrir a porta de casa, eu e o Simão, matamos o tempo.
Acção:
Simão: − Não podemos ouvir música?
Eu: − Podemos, claro.
[Ligo o rádio e preparo-me para um zapping musical. A certa altura, de passagem pela Antena 2, ele exclama, para grande espanto meu:]
Simão: − Ah, Mozart, deixa ficar aí! Adoro Mozart!
Ora, parece que não foi em vão, o dinheiro gasto com a escola de música!
• Simão, 5 anos
• Eu
Cenário:
No carro, à espera que alguém, com chave, chegue para nos abrir a porta de casa, eu e o Simão, matamos o tempo.
Acção:
Simão: − Não podemos ouvir música?
Eu: − Podemos, claro.
[Ligo o rádio e preparo-me para um zapping musical. A certa altura, de passagem pela Antena 2, ele exclama, para grande espanto meu:]
Simão: − Ah, Mozart, deixa ficar aí! Adoro Mozart!
Ora, parece que não foi em vão, o dinheiro gasto com a escola de música!
terça-feira, setembro 05, 2006
O número do azar
© Foto: Sofia Bragança Buchholz
O que quer que tenha sido, terá, certamente, sido por azar o que o cão que defecou nesta calçada comeu.
Para ver aqui, no meu fotoblog NAVEGANDO no TEMPO
O que quer que tenha sido, terá, certamente, sido por azar o que o cão que defecou nesta calçada comeu.
Para ver aqui, no meu fotoblog NAVEGANDO no TEMPO
segunda-feira, setembro 04, 2006
domingo, setembro 03, 2006
Armas mortíferas
Numa rua de Londres, o Manuel Jorge Marmelo foi mandado parar e revistado. A explicação era esta:
Stop and Search Under Terrorism Powers or if Violence is Antecipated
• Sec. 60 Criminal Justice and Public Order Act 1994
The police also have powers to detain you and/or your vehicles (if it is with you) and search for offensive weapons and dangerous instruments. If it is believed that incidents involving serious violence may soon take place in the locality, or that persons are carrying dangerous instruments or offensive weapons in the locality. A senior officer must give written authority wich will be held at the police station
(in "Explaining Police Powers to Stop or Search You", da Ministry of Defense Police)
Esta semana, estarei eu por lá. Espero que não desconfiem de mim. É que também eu escondo comigo, há mais de três décadas, uma arma impiedosa de destruição, lenta e mortífera: a minha nostalgia.
Stop and Search Under Terrorism Powers or if Violence is Antecipated
• Sec. 60 Criminal Justice and Public Order Act 1994
The police also have powers to detain you and/or your vehicles (if it is with you) and search for offensive weapons and dangerous instruments. If it is believed that incidents involving serious violence may soon take place in the locality, or that persons are carrying dangerous instruments or offensive weapons in the locality. A senior officer must give written authority wich will be held at the police station
(in "Explaining Police Powers to Stop or Search You", da Ministry of Defense Police)
Esta semana, estarei eu por lá. Espero que não desconfiem de mim. É que também eu escondo comigo, há mais de três décadas, uma arma impiedosa de destruição, lenta e mortífera: a minha nostalgia.
Enganando a idade
Lunata sabia que lhe faria mal mas, mesmo assim, aceitou o convite para se encontrar com Demiurgo. Sabia que, como nos dias após as festas, sentiria no dia a seguir a ressaca da solidão, o nó no estômago, o aperto na garganta a roçar o vómito, mas falou-lhe mais alto a vontade do que a razão e, foi.
Em lugar da charret, da brilhantina e do monóculo, viu-o chegar de descapotável, de cabelo solto e óculos escuros. Em vez do paletó, encontrou-o bonito, de calças de ganga e t-shirt estampada. A substituir os botões de punho e o relógio de bolso, estranhou-lhe a pulseira no pulso, a tatuagem no tornozelo e o piercing, pequenino, no sobrolho.
Viu-o correr pela praia, fazer flexões, mergulhar de rompante nas águas geladas do Atlântico. E pareceu-lhe feliz, assim, a enganar a idade.
Lunata perguntou-se, então, se lhe bastaria a ela, também, apenas aquilo para se sentir feliz.
© Sofia Bragança Buchholz, 2006. Reprodução interdita.
Em lugar da charret, da brilhantina e do monóculo, viu-o chegar de descapotável, de cabelo solto e óculos escuros. Em vez do paletó, encontrou-o bonito, de calças de ganga e t-shirt estampada. A substituir os botões de punho e o relógio de bolso, estranhou-lhe a pulseira no pulso, a tatuagem no tornozelo e o piercing, pequenino, no sobrolho.
Viu-o correr pela praia, fazer flexões, mergulhar de rompante nas águas geladas do Atlântico. E pareceu-lhe feliz, assim, a enganar a idade.
Lunata perguntou-se, então, se lhe bastaria a ela, também, apenas aquilo para se sentir feliz.
© Sofia Bragança Buchholz, 2006. Reprodução interdita.
sexta-feira, setembro 01, 2006
Origem das Espécies: Um Ano
Ai, ai, ai… que cabeça a minha!
Penitencio-me, com uma curta-metragem, de estética duvidosa, é certo, mas feita com a melhor das intenções.
Parabéns, Francisco!
Penitencio-me, com uma curta-metragem, de estética duvidosa, é certo, mas feita com a melhor das intenções.
Parabéns, Francisco!