terça-feira, abril 29, 2008

Simão e os Tempos Modernos

Personagens:
• Eu (como narrador)
• Simão, 7 anos (em intervalo, no estudo para o teste de amanhã)

Cenário:
Num caderno de trabalhos de casa o Simão tem anotadas as revisões da matéria para o teste de Estudo do Meio, do dia seguinte. A temática é os animais, a sua classificação, deslocação, alimentação e reprodução.
Folheio-o, e, numa das páginas, posso ver escritos com uma caligrafia mal desenhada os seguintes exemplos:

Acção:
Homem: são mamíferos, nascem no ventre da mãe, têm o corpo coberto por pêlos, deslocam-se andando e comem carne e plantas.
Galinha: são aves, nascem de ovos, têm o corpo coberto de penas, deslocam-se andando e comem grãos.
Cão: são mamíferos, nascem no ventre da mãe, têm o corpo coberto por pêlos, deslocam-se andando e comem ração Royal Canin Júnior.

Desabafos: um nojo de mundo

Chego a casa e, num movimento automático – uma busca, talvez, instintiva de companhia – ligo a televisão.
Desde o pai que manteve a filha em cativeiro numa cave durante 24 anos, passando pelo atentado em Gaza que vitimou uma mulher e quatro crianças, da rede de trabalho escravo para Espanha, da falta de segurança nas esquadras (e não só), até ao novo e violentíssimo jogo de computador que retrata o submundo do crime… as notícias seguem-se, umas atrás das outras, num desfilar assustador e enojante de desgraças.

[também postado aqui]

domingo, abril 27, 2008

Percebes, agora, porque é que eu não me importo de ter asas?

Na foto: ? (VS show) / © Foto: ?

sábado, abril 26, 2008

Sufoco

Sinto no peito um aperto, uma vontade incomensurável de o transcrever em palavras, como se, se não o fizesse, implicasse explodir de angústia.
Sinto na alma uma tristeza infinita que me cega a razão, me bloqueia a lucidez, me tolhe a capacidade de organizar o pensamento. Me impede de ordenar as ideias, estruturar os raciocínios, criar frases.
Sinto no corpo uma imensa saudade tua, que me dói como gumes dilacerando-me a carne tenra, como punhais expondo o meu amor em ferida aberta.
Porque [Meu Amor], trago, para sempre, cravado na minha pele em brasa, o gélido ferro da tua indiferença.

sexta-feira, abril 25, 2008

Porque eu acredito em Fadas

© Foto: Ed Fielding Photography/ Bryan Ferry Live @ Preston Guildhall

O meu velhinho de estimação (leia-se, Bryan Ferry) vem novamente a Portugal, para um concerto no Casino de Espinho dia 17 de Maio. Os bilhetes, com jantar incluído, custam 150 euros.
Vi-o no ano passado, em Julho, num concerto belíssimo no Vila Sol SPA & Golf Resort, no Algarve, por 30 euros. Um roubo portanto esta quantia cobrada pelo Solverde.
Será pouco provável (mas não se esqueçam que eu acredito em Fadas), e como um blog serve também para isto, se alguém, por alguma razão, tiver bilhetes de borla e os quiser vender por um preço mais razoável (dispenso o jantar), podem escrever-me para o endereço de mail aí ao lado, na barra lateral. Eu agradeço.

My Only Love


Roxy Music - My Only Love

Do I ever wonder?
More than words can say
Heaven knows it´s hard enough to pray
Let me tell you something
There´s a change in me
Even now you´re gone you´ll always be
My only love

Does it seem so funny
For a fool to cry?
Do you know the meaning of goodbye?
There´s a river flowing
By a willow tree
When you need to know remember me
My only love

Let me tell you something
More than words can say
But they´re all I have, no other way
There´s a river flowing
By a willow tree
When you find you´re there remember me
My only love

My Only Love, letra de Bryan Ferry

terça-feira, abril 22, 2008

A Apanhada

Na foto: Adriana Lima; © Foto: ?

Há três mil, duzentos e sessenta e seis dias que, de olhos vendados, conto, enquanto te escondes.
Percorres, calmamente, a minha vida, sem pressas, abrigas-te descontraidamente no meu armário – nesse onde guardo os esqueletos –, debaixo do meu tecto, sob os meus lençóis. Finjo-me de olhos tapados, enquanto enumero mentalmente o tempo gasto nesta brincadeira: um, dois… oito anos perdidos, de olhos fechados, duzentas, trezentas, quinhentas mil vezes de indiferença ao meu esforço, ao meu empenhamento neste árduo faz de conta. Continuo, já errante no cálculo, de cabeça contra as paredes, a deixar-te ocupar o meu quarto, a minha sala, o meu coração sem poder apanhar-te, eu a apanhada , porque no momento em que o fizer, ambos sabemos, Meu Amor, que inevitavelmente o jogo acabará.

domingo, abril 20, 2008

Na Redoma

© Imagem: Vladstudio (click na imagem para ampliar)

Lunata tem estado silenciosa. Fechada no seu mundo da Lua. Já não vê razões para de lá sair; para rever Demiurgo, procurar Paquito, estar com Pato Preto.
Chove na Terra e Lunata abriga-se, indiferente, na sua cratera. Faz vento, e ela nem sabe, porque na Lua não venteja. Revolta-se o mar, e ela nem imagina. Protegida no seu manto branco, ela não corre riscos. Não sofre. Não sente.
Pena é que, quando desabrocharem as flores, ela não vá presenciar tamanha beleza!

Etiquetas:

sábado, abril 19, 2008

Darling, My [poor liar] Darling!...



– Promise me you'll come back for me [My Darling Love!].
– I promise, I 'll come back for you. I promise, I'll never leave you.

quarta-feira, abril 16, 2008

New blog on the block

O Ciberescritas, um blogue do PÚBLICO, escrito pela Isabel Coutinho.

Blogosfera, um problema para as empresas ou um novo universo para as relações públicas?

Imprescindível ver:


Terceira edição das Conversas Unicer

O objectivo das Conversas Unicer é debater a Comunicação Institucional e a Gestão Empresarial.
Os temas discutidos prendem-se com os múltiplos patamares do processo de comunicação das organizações e com as suas etapas estratégicas.
Saiba mais sobre o assunto aqui

Post Politicamente Incorrecto

Foto retirada deste blog

Acordei a redigir uma reclamação num livro de reclamações. Maçada, sem paciência, aborrecida com o formalismo que o acto implica e indignada com a causa que me motivara a fazê-lo.
Sonhava com a piscina da Granja. Com a minha piscina da Granja onde, na infância, passei verões inteiros a dar mergulhos e a engolir pirolitos. Esse lugar elitista onde outrora só entrava quem tinha pedigree e poder de compra e que era a garantia de um dia bem passado no prazer da boa convivência, de níveis de cloro aceitáveis e espreguiçadeiras suficientes à disposição.
Depois de lhe terem retirado as pranchas, de a terem proletarizado através de um sistema de preços que a tornou acessível a qualquer um, de lhe terem retirado o “poço” de largos metros que tanto me fascinou, de terem abolido o trampolim, esse ultimo símbolo (capitalista?) sobrevivente à revolução de Abril, mas agora aniquilado definitivamente pela globalização e as suas normas, tinham-na, no meu sonho, transformado em dois tanques tão baixos e de comprimento tão ínfimo que era impossível dar duas braçadas, mas que, em compensação, eram seguríssimos. Mais: todo o restante edifício fora transformado em moderníssimas salas de aulas onde eram ministrados por sumidades internacionais seminários teóricos sobre natação.
Já não é a primeira vez que sonho com a piscina da Granja. Com a minha piscina da Granja. Da última, tinham-na transformado num jardim zoológico. Deve-me ter ficado na memória aquele dia, há uns anos, em que lá fui e vim corrida pela macacada em que aquilo se transformou. Mas desta vez não podia deixar passar; era urgente agir. Era imprescindível redigir um protesto! Nem que fosse à entidade responsável pelo meu subconsciente.

segunda-feira, abril 14, 2008

Coisas que combinam comigo


Bagagem Louis Vuitton desenhada para o filme "The Darjeeling Limited"

domingo, abril 13, 2008

Simão e as Verdades [quase] Absolutas

Personagens:
• Eu
• Simão, 7 anos
• O cão Spike, 3 meses

Cenário:
Procuro o Simão pela casa toda. Chamo, espreito, vasculho cada divisão, debalde grito o seu nome.
A intuição guia-me até ao jardim. De dentro da casota do cachorro, ouço sons de consolo, palavras meigas, ditos elogiosos. Espreito e vejo o pequeno labrador deitado e o Simão ao seu lado, entre ossos roídos e brinquedos lambuzados de baba canina, acariciando-lhe ternamente o pêlo azeviche aveludado, gabando-lhe as qualidades de carácter, de comportamento e de beleza.
Indignada, repreendo:

Acção:
– Sai já daí! Que porcaria, vais ficar todo sujo e a cheirar a cão! O que estás aí a fazer?!
Ele responde-me enobrecido, com a grandeza de quem fala as verdades absolutas:
– Estou em casa do meu melhor amigo!

sábado, abril 12, 2008

N Criativo: um blog sobre as Indústrias Criativas

Imagem retirada daqui

As Indústrias Criativas têm a criatividade como condição nuclear para o negócio. São actividades com origem na inovação, nas competências e no talento individual e que têm potencial para a criação de trabalho e riqueza através da valorização da propriedade intelectual. As Indústrias Criativas abrangem sectores que vão desde a arquitectura às tecnologias da informação, design, vídeo, fotografia, moda, artesanato, música, artes cénicas, edição, televisão, cinema e produção de conteúdos, entre outros.

A Fundação de Serralves, em parceria com a Junta Metropolitana do Porto, a Casa da Música e a Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense, estão a promover a realização de um estudo macroeconómico denominado “Desenvolvimento de um cluster de Indústrias Criativas na Região do Norte”.
O objectivo deste estudo é a avaliação do impacto destas actividades na região, conhecer a sua evolução e o papel que desempenham e poderão vir a desempenhar na economia e na sociedade.
O estudo está a ser desenvolvido por um consórcio constituído pelas empresas Tom Fleming Creative Consultancy, Horwath Parsus, Opium e Gestluz Consultores.

O N Criativo é o blog deste estudo em que eu própria estou também envolvida. Visitem-no, dêem opiniões, complementem-no enviando informações sobre o tema, partilhem connosco o vosso conhecimento, divulguem-no. Nós agradecemos.

sexta-feira, abril 11, 2008

Percebes, agora, porque é que eu não me importo de ter asas?

Na foto: Angela Lindvall (VS show) / © Foto: ?

quinta-feira, abril 10, 2008

Coisas giras para se fazer em Abril

Amanhã, dia 11 de Abril, pelas 19h00, terá lugar no Auditório do Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (IESF), um Seminário sob a alçada do Mestre José Augusto Nunes Carneiro, com o tema "Marketing do Livro".

Informações:
IESF - Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais
e-mail: info@iesf.pt
Telefone: 227 538 810 / 88
Fax: 227 538 855

Coisas que combinam comigo

Botões-de-punho nas camisas

quarta-feira, abril 09, 2008

A Tia e o Síndrome do Ninho Vazio

Personagens:
• Eu
• A empregada, Aurora
• O cão Spike, 3 meses

Cenário:
Entro em casa da minha irmã desejosa de afogar as mágoas de um dia de trabalho no conforto das brincadeiras dos meus sobrinhos, mas dou com a casa silenciosa. Estranhando, pergunto à empregada:

Acção:
– Aurora, onde estão os rapazes?
Ela elucida:
– O Tomás foi a casa da Catarina; o Simão está em casa do António.
Eu suspiro resignada de os ver crescer, de os ver criar asas.
Perdido, o meu olhar divaga e encontra o do pequeno labrador que, deitado com o focinho entre as patas, descansa, silenciosamente, no tapete da sala. Um rasgo de felicidade ilumina a minha alma e, animada, exclamo:
– Ah, ainda me restas tu, Spike!

terça-feira, abril 08, 2008

Coisas que combinam comigo

Broad collar of Princess Neferuptah, daughter of Amenemhet III
© The Egyptian Museum, Cairo

segunda-feira, abril 07, 2008

Senhor António e a festa de aniversário

Personagens:
• Um grupo de amigos reunidos num jantar de anos em casa de um deles

Personagens Fictícios:
• Senhor António, o empregado da restauração (aka Simão, 7 anos)

Cenário:
Toda a noite de ontem o senhor António serviu.
Os convidados gabaram-lhe o profissionalismo, a postura, a dedicação.

De mão atrás das costas e guardanapo no braço, assegurou-se de que todos estavam confortáveis, providenciou o vinho e as sobremesas, foi generoso nas doses do prato principal. Oportunamente perguntou se queriam mais alguma coisa e humildemente aceitou os elogios de cabeça baixa, embaraçado. Educadamente tratou-os por “senhores doutores” e acompanhou-os à porta, servil, para garantir que o seu trabalho seria reconhecido e que os clientes sairiam satisfeitos.
Mal esta se fechou o senhor António transformou-se, e, arrogante, reclamou:

Acção:
– Onde estão os cinco euros que me prometeste? Vá, passa-os para cá!

domingo, abril 06, 2008

Coisas que combinam comigo

Eu hoje vou deitar-me assim…


John Travolta e Uma Thurman no filme Pulp Fiction

Indecentemente a desafiar-te. E tu, Meu Amor, a fazeres o que eu digo!

sábado, abril 05, 2008

Paredes de Papel

Não conheço os meus vizinhos. Moro nesta casa há onze anos e não conheço nenhum. Nunca fiz questão de os conhecer. Diplomaticamente dou-lhes os bons dias e as boas noites, reconheço-lhes a fisionomia e os nomes, mas não sou amiga de nenhum. Contudo, sei-lhes os hábitos melhor do que os dos meus próprios amigos, a vida quase tão bem como a minha, os gostos quase de cor.
A vizinha de cima, mulher sozinha e mãe de um filho já homem, avó de uma neta pequena, fala noite adentro ao telefone. Começa a conversa à uma hora e prolonga-a até às três. Ás vezes, sai, também, à noite e chega tarde a casa conduzida por uma amiga que a deixa, impreterivelmente, às quatro da manhã.
Já o filho da vizinha de baixo, rapaz, aí, para uns vinte e sete anos, costumava chegar às cinco. Faz tempo que não o vejo e que não lhe sinto o bater da porta a essa hora da madrugada o que me leva a pensar que talvez tenha casado, quem sabe.
A vizinha do lado é estrangeira. Tem o sotaque rude (que me é tão familiar!) do norte da Europa. Dessa “cultura bárbara” herdou também a intolerância e a exigência por aquilo que nem ela própria consegue cumprir. Desloca-se sempre de bicicleta, é dada a depressões e já se tentou suicidar.
Do outro lado vive um médico. Deita-se cedo e levanta-se mais cedo ainda para passear os seus três melhores amigos: os dois cães e a mulher. Gosto destes vizinhos. Gosto do seu companheirismo de longa data, gosto das rugas e das feições magras da mulher, do seu sotaque também estrangeiro (mas desta vez, do sul), do ar robusto e sério – honesto – do marido. E gosto dos cães. De um enorme que já morreu, de pêlo crespo e farfalhudo a esconder uns olhos que se adivinhavam meigos e fiéis, e de um que se passeia agora com outro que não gosto, igualzinho a esse, mas em ponto pequeno.
Poderia ainda falar-vos da vizinha que sofre de osteoporose (lindíssima quando era nova! De fazer inveja à mais bela estrela de Hollywood!); do vizinho que mantêm a mesma amante há anos; ou ainda daquele outro que bebe “socialmente” um copo a mais. Tudo isto sem os conhecer. Tudo isto sem eles me conhecerem a mim. Porque as péssimas construções em Portugal, meus caros leitores, “promovem a convivência”, “facilitam as relações”, “fomentam a integração”! E pergunto-me, sinceramente, por entre estas paredes de papel, por onde a privacidade é nula, por onde se sabem vidas, por onde se ouvem histórias, quantas eles – os vizinhos que não conheço – não saberão [lamentavelmente] sobre mim!



[Também postado aqui]

sexta-feira, abril 04, 2008

Novos blogs na blogosfera

O Boavoa da melhor ilustradora do mundo!

© Ilustração: Joana Bragança

quinta-feira, abril 03, 2008

Simão, o Comerciante

Personagens:
• Simão, 7 anos
• O cão Spike, 3 meses
• Tomás, 10 anos (como figurante)
• A minha irmã (como figurante)
• Eu (como narrador)

Cenário:
Numa esplanada, eu, a minha irmã e os miúdos almoçamos tranquilamente ao sol desta serôdia Primavera.
Ao nosso lado, preso à perna de uma cadeira, está o adorável (para quem não conhece a sua faceta destruidora, claro!) labrador Spike, de olhar meigo e inocente, suplicante de festas e carícias.
Ao longe, um casal com duas crianças avista-o e dirige-se para ele com exclamações pueris e ternurentas, ajoelhando-se para o mimar. O Simão habituado, nos últimos tempos, a este cenário sempre que passeia o cachorro, atira, cinicamente, com o maior dos desplantes em alto e bom som:

Acção:
– Olhe que são cinco euros a festa! E isto porque já estou a levar barato!