quarta-feira, setembro 28, 2011

As Fadas mudaram de Casa


Agora estão no Sapo, [sempre] em busca do seu príncipe encantado.

segunda-feira, junho 27, 2011

"Sou apenas uma menina de porcelana"


Moby - Porcelain

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sexta-feira, junho 17, 2011

Verdades Absolutas

Não há finais felizes. Os finais, por si só, já são infelizes.

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quinta-feira, junho 16, 2011

Meteorologia da Vida

Não vi, hoje, o eclipse da Lua cheia, porque o céu estava encoberto. Constato, portanto, que nebulosidade tem sido uma constante, nos últimos tempos, na minha vida.

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quinta-feira, junho 09, 2011

Sobre o Caminho

É apanhar os cacos e seguir em frente.

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quarta-feira, junho 08, 2011

Verdades Absolutas

Não se pode prender pela força, o que o amor não prende.

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Percebem, agora, por que não me importo de ter asas?

© Foto: ? / Na foto: Adriana Lima

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sábado, junho 04, 2011

A Insustentável Relatividade das Proporções

Eu sabia que ia ser assim. Já antes fora. Não contigo, com outros. Com todos. Os poucos que tive.
Há três dias que não telefonas. Há uma semana que não me vês. Há muito tempo que não dizes que me amas. É proporcionalmente inverso ao tempo que nos conhecemos a tua afeição por mim. No início, ligavas-me a toda a hora. Enviavas mensagens [tontas] durante todo o dia. Querias saber como estava, dizer onde estavas, o que fazias, o que faziam os que te rodeavam. Tudo era pretexto, argumento, para ouvires a minha voz. Eu, ao contrário, esquecia-me que existias, não fossem os sms a entrarem-me, constantemente, no telemóvel. Eras um espaço mínimo na minha vida, um fino contorno no meu mundo. Com o tempo, foste ganhando espessura, conquistando espaço, rompendo o círculo que te delimitava de mim, preenchendo o meu quotidiano. De uma linha passaste a uma grossa pincelada, um forte traço, borrando os meus sentimentos, conquistando os meus afectos. É proporcional ao tempo que nos conhecemos o meu amor por ti. Hoje, sinto [tremendamente] a tua falta quando não estás. Um dia contigo é pouco. Uma noite, uma migalha. Uma semana, nada. Quero mais. Quero tudo a que tenho direito, porque para mim − para nós, mulheres − o tempo num investimento afectivo é um factor que nos prende, nos amarra cumulativamente, a cada dia que passa, a quem com ele o despendemos.

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terça-feira, maio 24, 2011

Perfeição

No dia em que ela fez oitenta anos, ele colocou o CD na aparelhagem, chegou-se ao pé dela e desafiou-a a dançar, perante os convidados. Ela, que há um mês atrás mal se mexia, mal falava, mal se tinha de pé, levantou-se, agarrou-lhe a mão e acompanhou-o, o melhor que pode. Quase juro que, a certa altura, o ouvi sussurrar-lhe ao ouvido:"Você é o sol da minha vida, a minha vontade. Você não é mentira, você é verdade. É tudo o que um dia eu sonhei prá mim.".
É assim − tão perfeito que chega a fazer inveja − o amor dos meus pais.

Martinho da Vila - Mulheres

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terça-feira, março 22, 2011

É muito complicado competir nas audiências com o novo PEC… mas o Simão não desiste!

Já aderiram à nova página dele?

domingo, março 20, 2011

É um pássaro? É um avião? Não, é o fantástico Simão!


Agora no Facebook. Com ilustrações!

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segunda-feira, março 07, 2011

My darling,...



"... I'm waiting for you — how long is a day in the dark, or a week? (...)
I know you will come and carry me out into the palace of winds. That's all I've wanted — to walk in such a place with you, with friends, on earth without maps.
"

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Dia de S. Valentim


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domingo, fevereiro 13, 2011

É pegar ou largar!

Olhem, sou eu, cortei os pulsos! Este é o meu sangue, a minha vida, a minha desgraça.
Tirei a máscara. Não me apetece mais fazer de conta. Vejam como sou por dentro. Os vermes que tenho, as bactérias que me habitam, como são feias as minhas entranhas. Reparem nos meus defeitos, nas minhas imperfeições, nas cicatrizes que me mapeiam o corpo; a alma. Esta sou eu, é pegar ou largar! Cansei-me de fingir. Não sou feliz, não sou perfeita, não sou bonita. Visitam-me fantasmas, guardo esqueletos no armário, atormentam-me pesadelos.
Estou cansada. Tão cansada. Corre-me o sangue para o chão… Um rio. Uma poça. Um lago de sangue. Um mar de alivio.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Simão, o Senhor das Terras

Personagens:
• Simão
• Eu

Cenário:
Para falar verdade, entrei no FarmVille por causa dos meus sobrinhos. Custava-me vê-los ali, esfalfarem-se por uma propriedade fictícia e eu, de braços cruzados, sem lhes dar uma mãozinha. Sendo eles a minha descendência – uma vez que não tenho filhos – senti-me responsável por lhes deixar uma herança: terra, tecto, meios de subsistência, mesmo que num mundo virtual. Criei uma quinta minha, para lhes poder enviar árvores, animais, presentes. Depois, vendo-me facilmente ultrapassar-lhes o nível, senti-me culpada e providenciei a posse das suas passwords para os poder ajudar ainda mais. Ou melhor, da sua password – a do Simão – porque o Martim, na sua independente adolescência, ma negou. Assim, todos os dias, alimento os seus animais, colho as suas frutas, lavro as suas terras. Todos os dias deixo a “herdade” do Simão um brinco. Mas o meu empenho foi proporcional ao seu desleixo. Arranjada a “caseira”, sua excelência dedicou-se ao ócio e apenas lá vai de vez em quando para “controlar” as actividades. Sentindo-me injustiçada, confrontei-o com o facto. Ele, com a soberba de um grande latifundiário, respondeu:

Acção:
– Nunca lá vou porque não tenho tempo. Sou um homem muito ocupado.

Só lhe faltou estar refastelado numa poltrona, com o cachimbo ao canto da boca. Aos pés, até já tinha o labrador.

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Percebem, agora, por que não me importo de ter asas?

© Foto: ? / Na Foto: Erin Heatherton

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sábado, fevereiro 05, 2011

O Sentido da Vida

Finalmente, aconteceu o inevitável, aquilo que Lunata sabia que mais tarde ou mais cedo acabaria por suceder: Pato Preto deu entrada no hospital. Estava velhinho, Pato Preto, e Lunata tentava com toda a sua fé ludibriar o destino e adiar a ideia deste desfecho, mas o destino não se deixa enganar e o que tem de ser tem muita força.
Nessa tarde, Lunata foi dar com o amigo deitado numa cama impessoal, prostrado, oscilando entre a vigília e o sono, entre a lucidez e a demência. Vê-lo assim fê-la consciencializar-se de que, ao contrário do que muitas vezes nos querem fazer acreditar, não há dignidade, sapiência, beleza na velhice. Pegou-lhe na pata, mais sarapintada do que nunca pelo tempo, acariciou-lhe os nódulos das artroses, as rugas do tempo, beijou-as com ternura. Desejou poder levá-lo para o seu mundo da lua, o mundo de faz de conta onde os seres são eternos, como ela, onde não existem doenças, onde a morte não entra. Mesmo velhinho, pensou, Pato Preto era tão bonito!, o bico arrebitado, perfeitinho… Continuava vaidoso: pediu-lhe que lhe ajeitasse a gravata branca que lhe desce sobre o papo, que lhe alisasse as penas. Ela fê-lo com carinho. Ele fechou os olhos, profundos como todo tempo que já percorrera, vagos, como o tempo que ainda lhe restava e chamou-lhe “mãe”. “Mãezinha”. Ela comoveu-se. Aquela inversão de papéis rebentou-lhe o coração, despedaçou-a. Ele, o forte, que sempre fora um pai para ela, a menina, a frágil. Para essa inversão, não estava preparada. Ela que precisava ainda tanto dele! Desatou num pranto por dentro. Respondeu-lhe que era a sua “filha”, a sua “filhinha”.
Pensou revoltada: onde estaria, agora, Demiurgo que lhe jurara amor, na alegria e na tristeza? Onde estava a esperança que nos prometem na infância? A felicidade em que nos fazem tanto acreditar? Depois resignou-se. Pensou que a vida é uma longa caminhada, uma complexa aprendizagem, um caminho tortuoso que nos faz crescer e que no fim deve − tem de! − ter um qualquer propósito.

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sábado, janeiro 29, 2011

Hoje, sinto-me demasiado apertada no corpo que tenho


Radiohead - Creep

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terça-feira, janeiro 25, 2011

No comboio do amor

Começa sempre assim: primeiro, ela cautelosa a querer perceber onde um relacionamento com ele a pode levar, a tentar conhecê-lo, perceber se é um tipo decente em que valha a pena investir tempo e afecto, a cheirar a compatibilidade das suas hormonas com as dele. Ele, ao contrário, a atirar-se de cabeça, a bombardeá-la de telefonemas e mensagens, sempre presente, sempre em cima, de palavras bonitas e promessas que sabe que não pode cumprir, mas que o entusiasmo da conquista o faz, verdadeiramente, acreditar que sim. É ele a correr atrás dela.
Depois, ela começa a afeiçoar-se a ele, à sua voz a horas certas no telemóvel, ao seu riso e às suas graças, ao seu corpo e ao seu cheiro, à sua boca e ao seu hálito, assim, devagarinho, com calma, para que toda a informação captada pelos sentidos seja interpretada correctamente pelo cérebro de forma a que não haja enganos, de forma a que se criem laços, capazes de se tornarem fortes, duradouros. Nesta fase, estão os dois em sintonia, pois também ele a descobre com prazer, lhe desvenda a alma, lhe desnuda o corpo, lentamente, fazendo render o sabor desse sentimento inebriante que é a paixão. Nenhum tem defeitos aos olhos do outro. Um e outro são perfeitos. São virtudes os vícios; os tiques, particularidades engraçadas. O que vinte anos mais tarde juntos achariam exasperante tem agora piada. É giro. Nesta fase chamam-se de “querido” e “querida”, riem por tudo e por nada, parecem tontos − estão tontos! − de amor. Correm juntos um para o outro.
Depois, de repente, ele muda. Torna-se esquivo, menos presente. Ausente, até. Diminuem os seus telefonemas, escasseiam as suas mensagens. As dela, por seu lado, aumentam na proporção inversa das dele. Tudo assim, de repente, sem ela entender porquê. Ela bombardeia-o para o perceber, ele retrai-se − ainda mais − para não ter de dizer. As suas respostas soam a falso. As perguntas dela a maçadoras. É ela a agarrá-lo e ele a fugir.
É sempre assim. E se ela soubesse exactamente qual o momento em que esse volte-face se dá, saltaria da carruagem do comboio do amor no preciso momento antes de ele chegar. É que risco de se magoar, esse, seria consideravelmente menor.

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quarta-feira, janeiro 19, 2011

Estou assustada comigo mesma

Ando a gostar de ir ao ginásio!

Once we were young, shiny and happy...


Música: OneRepublic - Secrets

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segunda-feira, janeiro 17, 2011

Simão e os argumentos de peso

Personagens:
• Simão, 10 anos
• Eu

Cenário:
Depois do jantar, ainda à mesa, eu e o Simão conversamos.
Já não me lembro a propósito de quê, a certa altura, ele pergunta-me:

Acção:
− Mas afinal que idade é que tu tens? Trinta e cinco, não é?
− Não, − respondo resignada. − Quarenta e três.
− Ah, − exclama ele, parecendo chocado com a resposta − mas não pareces nada!


Esqueci-me de dizer que ele queria muito, mas mesmo muito, que eu o levasse ao cinema nessa noite.

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Antes que seja tarde demais

Eu concordo com esta petição contra o Novo Código Contributivo. Se concordas (independentemente de te identificares ou não com a ideologia do CDS-PP), assina também. Depois, quando o código já estiver em vigor, será já tarde demais para nos queixarmos.

Ah, se eu pudesse ter um cão!*

Foto: RedandJonny

*título roubado à Lady oh my Dog

Outla vez aloz...

Eu juro que um dia... faço isto à minha vizinha de cima. Oh, pá, hoje outla vez!...

domingo, janeiro 02, 2011

Booom Ano!

Boom, boom, boom... even brighter than the moon, moon, moon!

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quarta-feira, dezembro 22, 2010

Bolas!

Hoje, já acordei com um QI bastante mais baixo!

terça-feira, dezembro 21, 2010

Há dias assim...

Hoje devo ter acordado, aí, com um QI de 270!

Eu sabia!

terça-feira, dezembro 14, 2010

Percebes, agora, por que não me importo de ter asas?

Foto: Daniella Rech/ Na foto: Lily Donaldson

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Verdades Absolutas

Terei saudades tuas. Dos telefonemas a horas certas. Da tua voz. Das tuas graças.
Terei saudades da tua casa [como já tenho], do teu carro, da tua praia.
Sentirei falta dos passeios, das conversas, dos jantares. Das confissões, dos sorrisos, dos silêncios. Até dos “desgostos” que, na brincadeira, dizia me dares!
Lembrar-me-ei de ti quando passear ao pé do mar, quando me sentar em frente ao Forte, quando voltar ao nosso restaurante. Lembrar-me-ei de ti quando ouvir a tua música, quando escutar a minha e todas aquelas que nos dedicamos.
Terei saudades de fazer amor contigo, de te tocar, de te olhar nos olhos até de madrugada. Terei saudades tuas.
É que, às vezes, [Meu Amor,] o que parece ser um capricho de criança, uma teimosia, uma exagerada tempestade num copo de água, serve apenas para nos fazer lembrar coisas simples que tendemos a [querer] esquecer: é que tu, na verdade, nunca foste meu. E, eu, nunca fui tua.

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domingo, dezembro 12, 2010

Percebem, agora, por que eu não me importo de ter asas?



"A star is a star,
It doesn't have to try to shine.
Water will fall,
A bird just knows how to fly.

You don't have to tell a flower how to bloom,
Or light how to fill up a room,
You already are what you are,
And what you are is beautiful
."

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quinta-feira, dezembro 09, 2010

A Mulher sem Coração (V)

Saíste da minha vida pela mesma porta que entraste. [Mas] Chegaste, pobre, de mãos vazias, [e] partiste, rico, com elas a transbordar. Levaste contigo os meus afectos, os meus sonhos, os meus projectos. Dei-tos, em troca de [falsas] promessas, mentiras, [infundados] votos. Por [efémeros] abraços, carícias, canções de embalar, entreguei-te o meu corpo, a minha alma, a minha auto-estima. Saíste de malas cheias, farto, de ego repleto e bagagem pesadíssima na mão. Sangrando por entre os teus dedos, levaste o meu coração; o meu amor, a minha existência, deixando-me, assim, despida, ao frio. Sem pulso. Sem sangue. Sem esperança. Sem vida.

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sexta-feira, novembro 12, 2010

Percebes, agora, por que não me importo de ter asas?

Foto: ? / Na foto: Marisa Miller

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O meu Segredo

Estou aqui. Do outro lado do mundo, à tua espera.
Para lá de mares e de terras, de rios e de florestas, de gentes estranhas… à tua espera.
Anseia nos meus dedos, enquanto te aguardo, a saudade do toque dos teus. Conto por eles as horas para saber de ti, os dias para te [re]ver. Para me voltar a aninhar nos teus braços e o tempo parar. Como nos livros. Tu [Meu Amor] és o meu segredo.

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quinta-feira, novembro 11, 2010

Venha o diabo e escolha

Em Portugal oiço o orgasmo histriónico do namorado da vizinha de cima; na Alemanha, o vizinho esganiçado a cantar em turco.

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quarta-feira, novembro 10, 2010

I'm one of your secrets


Seal - Secret

I belong to you,
Yes, I belong to you;
I belong to you...
And you belong to me.

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Há dias assim...

Alba Molina e Manuel Molina - Bulerias

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O Grito

No início, quase parecia uma pergunta filosófica: interroguei-me de onde vinha, quem o dava, por que razão. Era um grito intenso, assustador, forte, sofrido. Durava uns segundos, o que fazia com que o alarme inicial que me provocava nem sequer tivesse tempo de ser investigado ou socorrido, pois logo se instalava, de novo, a calma. Mas naquela fracção de tempo a casa tremia, as paredes tornavam-se de papel, trespassadas por aquele som angustiante, o meu coração acelerava de pânico e os meus cinco sentidos disparavam em alerta: Que raio era aquilo?!
Depois, com o tempo, fui-me habituando. A experiência dizia-me que nada de mal dali advinha, que aquele horror era passageiro e inconsequente, que daria lugar novamente à calma e à ordem. Apercebi-me, contudo, que não era a horas certas. Umas vezes à tarde, outras de madrugada, outras aos fins-de-semana de manhã, era aleatória a sua exclamação. Previsível era a rotina que se lhe seguia e em que comecei a reparar: um descer de escadas, um bater da porta da entrada, um ligar de carro na rua.
Um dia, a curiosidade foi mais forte do que eu e segui-o. Depois de o ouvir, colei o olho à mira da porta, espiando as escadas do prédio. Vi-o descer descontraído, assobiando, aliviado. Vi um homem alto, entroncado, ligeiramente calvo, mas de viris braços peludos, aquele mesmo que um dia, à entrada de casa, vira roubar um beijo à cinquentona inquilina de cima e percebi finalmente o porquê de todo aquele clamar: aquele grito de dor, de aflição, de tormento, mais não era do que o orgasmo histriónico do histriónico namorado da vizinha.

Originalmente. postado aqui

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segunda-feira, novembro 08, 2010

Constatações

Estou na Alemanha. Na sexta-feira, em Berlim, aproveitei para espreitar a loja da famosa marca de lingerie "Agent Provocateur". Tomei consciência que uma roupinha daquelas sexys de empregada doméstica custa, no mínimo, três salários mensais de qualquer "Rosa Maria" pátria. Deve ser por isso que, por cá, ter uma empregada é um luxo. As "fardas" devem ter a sua quota-parte nisso.

Agent Provocateur - Maid Fetish

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Eu ainda sou da família desta miúda

quarta-feira, novembro 03, 2010

Percebes, agora, por que não me importo de ter asas?

Foto: ? / Na foto: Leatitia Casta

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terça-feira, novembro 02, 2010

O Vendedor de Sonhos

És um verme, daqueles pequeninos, sem coluna vertebral. Sem palavra, rastejas à minha volta deixando um rasto viscoso, nojento, incomodativo que, dedicadamente, eu limpo com o meu amor incondicional por ti. Sem coragem, enrolas-te sobre ti próprio, qual bicho-de-conta, ao primeiro toque que te é desconfortável. Eu protejo-to, maternal, com as mãos em concha, como se de uma pérola rara te tratasses, recebo-te no meu seio, no meu leito. Deixo-te viver nos meus cabelos, na minha púbis, na minha pele, qual parasita. Suporto estoicamente o prurido que me provocas, aguento as pápulas feias, vermelhas, enormes que me ferras na epiderme. Às vezes, chego a coçar-me até sangrar, mas tu não percebes, porque escolho a área onde não estás naquele momento: se te perdes entre as minhas coxas, esgadanho a cara, a cabeça, o pescoço; se te focas nos meus olhos, arranco a carne do corpo, deixo os ossos à vista, expostos à minha dor. Nada me alivia a não ser as tuas palavras: esse verbo redondo, floreado, repleto de mesuras e salamaleques como o dos charlatães, unguento milagroso que deixas cair sobre mim com a perícia de um experiente vendedor da banha da cobra.

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segunda-feira, outubro 25, 2010

Com "O grito"...

Hoje, sou a convidada do Delito de Opinião. Vão ler, vão!

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domingo, outubro 24, 2010

‎... mas esse teu mundo era mais forte do que eu.


Rui Veloso - A Paixão

[E] foi nesse dia que percebi,
Nada mais por nós havia a fazer;
A minha paixão por ti era um lume
Que não tinha mais lanha por onde arder.

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Há dias assim...

© Foto: ? / Na foto: Kate Moss

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sábado, outubro 23, 2010

Votos

Eu, Meu Amor, não sei por que nos prega o destino esta partida. Porque razão teima em apartar-nos, quando era suposto não separar ninguém o que Deus uniu. Porque cava entre nós fossos que nos impedem de ter uma existência normal. Um relacionamento normal, uma família normal, uma vida normal. Não sei porque nos arrasta consecutivamente para esta penosa nostalgia, para esta sensação de impotência, de dor, onde as feridas − quando as tentamos a todo o custo ignorar − teimam em abrir-se e sangrar. Mesmo assim, cuidadosamente, voltamos a fechá-las, cicatriz após cicatriz, com a persistência daqueles que não desistem facilmente, com o carinho daqueles que se querem bem.
Eu, que sei de cor o azul dos teus olhos, o dourado dos teus cabelos, que te conheço desde menino, eu, Meu Amor, − mesmo que, às vezes, não pareça − prometo ser-te leal, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, durante toda a nossa vida. Ainda.

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terça-feira, outubro 12, 2010

Percebem, agora, por que não me importo de ter asas?

Foto: ? / Na foto: Miranda Kerr

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segunda-feira, outubro 11, 2010

É deixá-las passar!

Ela, sentindo-se fervilhar naquele turbilhão de sentimentos, naquela confusão de pensamentos, de emoções, resolveu fazer a coisa mais improvável para quem procura a razão como conselheira: telefonar à grande paixão da sua vida.
Ele, atendeu-a, com a voz mais bonita que alguma vez conhecera a um homem, aquela mesma que a prendera, muito antes de o conhecer fisicamente, muito antes de o ver, de conhecer o seu toque, o seu cheiro.
Depois dos cumprimentos iniciais, ela atirou sem grandes rodeios:
− Sinto-me na merda!
Não gostavam de asneiras mas ambos não se privavam de as utilizar quando só elas pareciam expressar na perfeição o que queria ser dito. Vezes sem conta haviam admitido que o amor não era difícil, não era tramado, não era complicado, o amor, esse só podia mesmo ser fodido!
Ele quis saber:
− Física ou emocionalmente?
Ela confessou com a voz embargada:
− Emocionalmente.
Há uns anos atrás, aquele seria o momento de ele mudar de assunto, começar a falar do tempo, dos CD`s que lhe tinham oferecido ou de outra coisa qualquer e, em última instância, se se sentisse muito encurralado, sem saber o que fazer com todo aquele tremelicar de voz, com aquele beicinho feminino, bater em retirada, justificando-se com trabalho.
Contudo, passados todos aqueles anos, solidarizando-se com ela, ironizou:
− Oh pá, esse é o meu departamento! Disso posso falar com experiência de causa! − E adivinhou-se-lhe o esboço de um sorriso empático.
Ela perguntou-lhe:
− Quais são os meus maiores defeitos?
Ele disse-lhe que a resposta não era simples. “É que, às vezes, os maiores defeitos são também as melhores virtudes”, afirmou sabiamente. Depois, elucidou com um exemplo: “Estás a ver quando uma mulher nos chateia?” Ela anuiu do outro lado da linha, sem contudo o verbalizar “sim, se estava!”, e ele concluiu: "É que isso aborrece-nos, mas a verdade é que ela é tão importante para nós que queremos ser chateados!
Aquela figura de estilo, rude e tosca, masculina, arrancou-lhe um sorriso enorme, pois era assim que ela se sentia, a maior chata, e era assim que se queria sentida: ser amada por isso. Por gostar ao ponto de querer ter − e dar − atenção, afecto, amor, exclusividade.
− E as minhas maiores qualidades? − Continuou.
Ele não hesitou na resposta:
− Já nem vou falar na tua beleza e inteligência porque isso é óbvio. Tens princípios, és talentosa, tens um fantástico sentido de humor o que é fundamental numa pessoa, e tens essa coisa maravilhosa, tão tua, que é andares sempre à procura de ti, andares sempre em busca de algo mais e que faz de ti uma eterna descontente. Neste processo erras apenas numa coisa: em quereres pôr sempre os ponteiros à frente, no relógio, antevendo um final menos positivo.
Ela sabia que tinha esse defeito, tinha consciência disso, mas a experiência dizia-lhe que não existiam finais felizes.
Ele falou-lhe ainda da possibilidade de nunca ser tarde para recomeçar vidas novas, dos anos que ela ainda tinha pela frente e das capacidades que tinha para mudar o futuro que, naquele momento, lhe poderia, subjectivamente, parecer menos risonho.
E, no fim, disse-lhe aquilo que ambos sabiam que não era verdade, aquilo que ambos sabiam que nunca iria acontecer, porque, como num rio que corre e passa várias vezes no mesmo lugar nunca são as mesmas as águas que por ele passam, também todas as paixões têm o seu timming, todas as decisões nos relacionamentos têm o seu tempo certo.
− Vais ver, ainda nos vamos divertir imenso, os dois!
Ela ficou em silêncio, não respondeu.
Despediram-se cordialmente, ele agradecendo ela ter ligado; ela, ele a ter ouvido. Depois riram-se deste formalismo e desligaram, prometendo como sempre faziam − às vezes até com anos de intervalo pelo meio − voltar a falar-se em breve.
Ela sentou-se na borda da cama, olhando o telemóvel, já bastante mais calma. Lembrou-se que o seu amor por aquele homem a havia, um dia, num acto tresloucado de desespero, de tentativa vã de fazer sobrepor a dor física à insuportável dor emocional, levado a arrancar, com força, um punhado de cabelo. Sorriu ao constatar o absurdo que esse episódio, agora, lhe parecia. Sorriu ao tomar consciência que a paixão é efémera e que por ela não vale a pena sofrer pois não passa de um conjunto destrambelhado de reacções químicas, obsessivo-compulsivas, que o nosso corpo produz. Levantou-se, vestiu o casaco e saiu para a rua. É deixá-las passar!

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Há dias assim...

© Foto: Bruce Weber / Na foto: Natalia Vodianova

Em que tomamos consciência que só podemos ser princesas por um dia.

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domingo, outubro 10, 2010

Encores

Se eu voltar a rir, dançar noite fora, regressar, alegre, a casa de madrugada, não faças caso; Mesmo quando não parece, Meu Amor, é em ti que penso.
Se eu experimentar outras peles, provar outras bocas, tocar outros sexos, não te importes. Eles, meu querido, – asseguro-te – jamais preencherão o teu vazio.

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Incapacidades

Há festa em tua casa. Silêncio na minha. Existem risos à tua volta, dor à minha. Brindes, luzes, vozes de crianças enchem a tua sala, o nada, a minha. Faz frio. Pôs-se o sol; foi-se, definitivamente, embora o Verão. Ficaram as ondas revoltas do oceano a rebentar na costa, galgando muros, arrancando pedaços à memória dos dias felizes nos bares de praia. Foste-te embora, [Meu Amor,] ficou a minha incapacidade para chorar.

© Foto: Sofia Bragança Buchholz

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domingo, outubro 03, 2010

O homem que não sonhava sequer o que era o amor

Se vieres sempre à mesma hora, algum tempo antes, vou começar a sentir-me feliz. Mas podes vir mais cedo!”, gracejou ele um dia, naqueles primeiros, em que se começaram a descobrir. Ela, mais cautelosa, advertiu-o que era rosa de um único jardim, mais importante ainda: que era rosa que se quer única num jardim, que se quer cuidada, regada com carinho, amada em exclusividade.
Antes de ser cativada, foi instruindo-o das regras, como se as houvesse, quando de sentimentos se trata, como se existissem certezas adquiridas quando se mexe com o coração. Ele ouviu-a, compreendeu-a e foi esperando, pacientemente, por ela, que acabou por vir todos os dias, primeiro à mesma hora, com a razão ainda a controlar, depois já um pouco mais cedo e, no fim, já muito, muito tempo antes, totalmente entregue à emoção.
Foram assim preenchendo o espaço em branco que os separava, pincelando a tela da descoberta, confessando gostos e preferências, maneiras de ser e de pensar, sorrindo como garotos, agindo como garotos, felizes como garotos, primeiro atrás de um ecrã de computador, depois em jantares românticos, depois já nos braços um do outro em quartos de hotel.
Dançaram juntos, andaram de mãos dadas, furtivamente, pela cidade, roubaram beijos um ao outro no meio da multidão, sem medo de serem vistos, não se importando com nada a não ser com estarem um com o outro, arriscando serem reconhecidos, serem, inconvenientemente, identificados. Ficaram horas acordados: oito, dez, dezasseis seguidas, mesmo quando a distância os apartava. Almoçavam juntos pelo telefone, trabalhavam juntos por e-mail, viam-se, falavam, tocavam-se pela Internet.
E o coração dela foi enchendo. Enchendo-se de dúvidas quanto às certezas que tinha como adquiridas na sua vida passada, enchendo-se de brechas por onde o amor dele foi entrando, avassaladoramente, como a água de uma barragem que rebenta; enchendo-se de afecto, de ternura, de desejo por ele.
E, quando ela, à deriva naquele turbilhão, lhe perguntou o que fazer com tantos sentimentos, o que fazer com aquele coração tão cheio, tão cheio que ansiava por ele todos os minutos, todos os segundos a que a paixão, no seu principio, tem direito, ele respondeu-lhe assim, como se fossem casados há muito, muito tempo: “vais trabalhar, deitares-te cedo, distraíres-te, ter uma vida normal”. E ela foi. Definitivamente embora da vida dele.

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Percebes, agora, por que não me importo de ter asas?

© Foto: ? / Na foto: Adriana Lima

Para voar para longe de ti.

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