quarta-feira, setembro 28, 2011
segunda-feira, junho 27, 2011
sexta-feira, junho 17, 2011
Verdades Absolutas
Etiquetas: Verdades Absolutas
quinta-feira, junho 16, 2011
Meteorologia da Vida
Etiquetas: sobre o Caminho
quinta-feira, junho 09, 2011
quarta-feira, junho 08, 2011
Verdades Absolutas
Etiquetas: Meu Amor, Verdades Absolutas
sábado, junho 04, 2011
A Insustentável Relatividade das Proporções
Há três dias que não telefonas. Há uma semana que não me vês. Há muito tempo que não dizes que me amas. É proporcionalmente inverso ao tempo que nos conhecemos a tua afeição por mim. No início, ligavas-me a toda a hora. Enviavas mensagens [tontas] durante todo o dia. Querias saber como estava, dizer onde estavas, o que fazias, o que faziam os que te rodeavam. Tudo era pretexto, argumento, para ouvires a minha voz. Eu, ao contrário, esquecia-me que existias, não fossem os sms a entrarem-me, constantemente, no telemóvel. Eras um espaço mínimo na minha vida, um fino contorno no meu mundo. Com o tempo, foste ganhando espessura, conquistando espaço, rompendo o círculo que te delimitava de mim, preenchendo o meu quotidiano. De uma linha passaste a uma grossa pincelada, um forte traço, borrando os meus sentimentos, conquistando os meus afectos. É proporcional ao tempo que nos conhecemos o meu amor por ti. Hoje, sinto [tremendamente] a tua falta quando não estás. Um dia contigo é pouco. Uma noite, uma migalha. Uma semana, nada. Quero mais. Quero tudo a que tenho direito, porque para mim − para nós, mulheres − o tempo num investimento afectivo é um factor que nos prende, nos amarra cumulativamente, a cada dia que passa, a quem com ele o despendemos.
Etiquetas: Meu Amor
terça-feira, maio 24, 2011
Perfeição
É assim − tão perfeito que chega a fazer inveja − o amor dos meus pais.
Etiquetas: Eterno Amor
terça-feira, março 22, 2011
É muito complicado competir nas audiências com o novo PEC… mas o Simão não desiste!
domingo, março 20, 2011
segunda-feira, março 07, 2011
My darling,...
I know you will come and carry me out into the palace of winds. That's all I've wanted — to walk in such a place with you, with friends, on earth without maps."
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
domingo, fevereiro 13, 2011
É pegar ou largar!
Tirei a máscara. Não me apetece mais fazer de conta. Vejam como sou por dentro. Os vermes que tenho, as bactérias que me habitam, como são feias as minhas entranhas. Reparem nos meus defeitos, nas minhas imperfeições, nas cicatrizes que me mapeiam o corpo; a alma. Esta sou eu, é pegar ou largar! Cansei-me de fingir. Não sou feliz, não sou perfeita, não sou bonita. Visitam-me fantasmas, guardo esqueletos no armário, atormentam-me pesadelos.
Estou cansada. Tão cansada. Corre-me o sangue para o chão… Um rio. Uma poça. Um lago de sangue. Um mar de alivio.
terça-feira, fevereiro 08, 2011
Simão, o Senhor das Terras
• Eu
Cenário:
Para falar verdade, entrei no FarmVille por causa dos meus sobrinhos. Custava-me vê-los ali, esfalfarem-se por uma propriedade fictícia e eu, de braços cruzados, sem lhes dar uma mãozinha. Sendo eles a minha descendência – uma vez que não tenho filhos – senti-me responsável por lhes deixar uma herança: terra, tecto, meios de subsistência, mesmo que num mundo virtual. Criei uma quinta minha, para lhes poder enviar árvores, animais, presentes. Depois, vendo-me facilmente ultrapassar-lhes o nível, senti-me culpada e providenciei a posse das suas passwords para os poder ajudar ainda mais. Ou melhor, da sua password – a do Simão – porque o Martim, na sua independente adolescência, ma negou. Assim, todos os dias, alimento os seus animais, colho as suas frutas, lavro as suas terras. Todos os dias deixo a “herdade” do Simão um brinco. Mas o meu empenho foi proporcional ao seu desleixo. Arranjada a “caseira”, sua excelência dedicou-se ao ócio e apenas lá vai de vez em quando para “controlar” as actividades. Sentindo-me injustiçada, confrontei-o com o facto. Ele, com a soberba de um grande latifundiário, respondeu:
Acção:
– Nunca lá vou porque não tenho tempo. Sou um homem muito ocupado.
Só lhe faltou estar refastelado numa poltrona, com o cachimbo ao canto da boca. Aos pés, até já tinha o labrador.
Etiquetas: simão
sábado, fevereiro 05, 2011
O Sentido da Vida
Nessa tarde, Lunata foi dar com o amigo deitado numa cama impessoal, prostrado, oscilando entre a vigília e o sono, entre a lucidez e a demência. Vê-lo assim fê-la consciencializar-se de que, ao contrário do que muitas vezes nos querem fazer acreditar, não há dignidade, sapiência, beleza na velhice. Pegou-lhe na pata, mais sarapintada do que nunca pelo tempo, acariciou-lhe os nódulos das artroses, as rugas do tempo, beijou-as com ternura. Desejou poder levá-lo para o seu mundo da lua, o mundo de faz de conta onde os seres são eternos, como ela, onde não existem doenças, onde a morte não entra. Mesmo velhinho, pensou, Pato Preto era tão bonito!, o bico arrebitado, perfeitinho… Continuava vaidoso: pediu-lhe que lhe ajeitasse a gravata branca que lhe desce sobre o papo, que lhe alisasse as penas. Ela fê-lo com carinho. Ele fechou os olhos, profundos como todo tempo que já percorrera, vagos, como o tempo que ainda lhe restava e chamou-lhe “mãe”. “Mãezinha”. Ela comoveu-se. Aquela inversão de papéis rebentou-lhe o coração, despedaçou-a. Ele, o forte, que sempre fora um pai para ela, a menina, a frágil. Para essa inversão, não estava preparada. Ela que precisava ainda tanto dele! Desatou num pranto por dentro. Respondeu-lhe que era a sua “filha”, a sua “filhinha”.
Pensou revoltada: onde estaria, agora, Demiurgo que lhe jurara amor, na alegria e na tristeza? Onde estava a esperança que nos prometem na infância? A felicidade em que nos fazem tanto acreditar? Depois resignou-se. Pensou que a vida é uma longa caminhada, uma complexa aprendizagem, um caminho tortuoso que nos faz crescer e que no fim deve − tem de! − ter um qualquer propósito.
Etiquetas: Lunata
sábado, janeiro 29, 2011
terça-feira, janeiro 25, 2011
No comboio do amor
Depois, ela começa a afeiçoar-se a ele, à sua voz a horas certas no telemóvel, ao seu riso e às suas graças, ao seu corpo e ao seu cheiro, à sua boca e ao seu hálito, assim, devagarinho, com calma, para que toda a informação captada pelos sentidos seja interpretada correctamente pelo cérebro de forma a que não haja enganos, de forma a que se criem laços, capazes de se tornarem fortes, duradouros. Nesta fase, estão os dois em sintonia, pois também ele a descobre com prazer, lhe desvenda a alma, lhe desnuda o corpo, lentamente, fazendo render o sabor desse sentimento inebriante que é a paixão. Nenhum tem defeitos aos olhos do outro. Um e outro são perfeitos. São virtudes os vícios; os tiques, particularidades engraçadas. O que vinte anos mais tarde juntos achariam exasperante tem agora piada. É giro. Nesta fase chamam-se de “querido” e “querida”, riem por tudo e por nada, parecem tontos − estão tontos! − de amor. Correm juntos um para o outro.
Depois, de repente, ele muda. Torna-se esquivo, menos presente. Ausente, até. Diminuem os seus telefonemas, escasseiam as suas mensagens. As dela, por seu lado, aumentam na proporção inversa das dele. Tudo assim, de repente, sem ela entender porquê. Ela bombardeia-o para o perceber, ele retrai-se − ainda mais − para não ter de dizer. As suas respostas soam a falso. As perguntas dela a maçadoras. É ela a agarrá-lo e ele a fugir.
É sempre assim. E se ela soubesse exactamente qual o momento em que esse volte-face se dá, saltaria da carruagem do comboio do amor no preciso momento antes de ele chegar. É que risco de se magoar, esse, seria consideravelmente menor.
Etiquetas: Meu Amor
quarta-feira, janeiro 19, 2011
segunda-feira, janeiro 17, 2011
Simão e os argumentos de peso
• Simão, 10 anos
• Eu
Cenário:
Depois do jantar, ainda à mesa, eu e o Simão conversamos.
Já não me lembro a propósito de quê, a certa altura, ele pergunta-me:
Acção:
− Mas afinal que idade é que tu tens? Trinta e cinco, não é?
− Não, − respondo resignada. − Quarenta e três.
− Ah, − exclama ele, parecendo chocado com a resposta − mas não pareces nada!
Esqueci-me de dizer que ele queria muito, mas mesmo muito, que eu o levasse ao cinema nessa noite.
Etiquetas: simão
Antes que seja tarde demais
domingo, janeiro 02, 2011
quarta-feira, dezembro 22, 2010
terça-feira, dezembro 21, 2010
terça-feira, dezembro 14, 2010
Verdades Absolutas
Terei saudades da tua casa [como já tenho], do teu carro, da tua praia.
Sentirei falta dos passeios, das conversas, dos jantares. Das confissões, dos sorrisos, dos silêncios. Até dos “desgostos” que, na brincadeira, dizia me dares!
Lembrar-me-ei de ti quando passear ao pé do mar, quando me sentar em frente ao Forte, quando voltar ao nosso restaurante. Lembrar-me-ei de ti quando ouvir a tua música, quando escutar a minha e todas aquelas que nos dedicamos.
Terei saudades de fazer amor contigo, de te tocar, de te olhar nos olhos até de madrugada. Terei saudades tuas.
É que, às vezes, [Meu Amor,] o que parece ser um capricho de criança, uma teimosia, uma exagerada tempestade num copo de água, serve apenas para nos fazer lembrar coisas simples que tendemos a [querer] esquecer: é que tu, na verdade, nunca foste meu. E, eu, nunca fui tua.
Etiquetas: Meu Amor
domingo, dezembro 12, 2010
Percebem, agora, por que eu não me importo de ter asas?
"A star is a star,
It doesn't have to try to shine.
Water will fall,
A bird just knows how to fly.
You don't have to tell a flower how to bloom,
Or light how to fill up a room,
You already are what you are,
And what you are is beautiful."
Etiquetas: anjas
quinta-feira, dezembro 09, 2010
A Mulher sem Coração (V)
Etiquetas: A mulher sem coração
sexta-feira, novembro 12, 2010
O meu Segredo
Para lá de mares e de terras, de rios e de florestas, de gentes estranhas… à tua espera.
Anseia nos meus dedos, enquanto te aguardo, a saudade do toque dos teus. Conto por eles as horas para saber de ti, os dias para te [re]ver. Para me voltar a aninhar nos teus braços e o tempo parar. Como nos livros. Tu [Meu Amor] és o meu segredo.
Etiquetas: Meu Amor
quinta-feira, novembro 11, 2010
Venha o diabo e escolha
Etiquetas: Desabafos
quarta-feira, novembro 10, 2010
I'm one of your secrets
Yes, I belong to you;
I belong to you...
And you belong to me.
Etiquetas: Momentos [quase] Perfeitos
O Grito
Depois, com o tempo, fui-me habituando. A experiência dizia-me que nada de mal dali advinha, que aquele horror era passageiro e inconsequente, que daria lugar novamente à calma e à ordem. Apercebi-me, contudo, que não era a horas certas. Umas vezes à tarde, outras de madrugada, outras aos fins-de-semana de manhã, era aleatória a sua exclamação. Previsível era a rotina que se lhe seguia e em que comecei a reparar: um descer de escadas, um bater da porta da entrada, um ligar de carro na rua.
Um dia, a curiosidade foi mais forte do que eu e segui-o. Depois de o ouvir, colei o olho à mira da porta, espiando as escadas do prédio. Vi-o descer descontraído, assobiando, aliviado. Vi um homem alto, entroncado, ligeiramente calvo, mas de viris braços peludos, aquele mesmo que um dia, à entrada de casa, vira roubar um beijo à cinquentona inquilina de cima e percebi finalmente o porquê de todo aquele clamar: aquele grito de dor, de aflição, de tormento, mais não era do que o orgasmo histriónico do histriónico namorado da vizinha.
Originalmente. postado aqui
Etiquetas: crónica
segunda-feira, novembro 08, 2010
Constatações
Etiquetas: Agent Provovateur
quarta-feira, novembro 03, 2010
terça-feira, novembro 02, 2010
O Vendedor de Sonhos
Etiquetas: Meu Amor
segunda-feira, outubro 25, 2010
domingo, outubro 24, 2010
... mas esse teu mundo era mais forte do que eu.
Rui Veloso - A Paixão
Nada mais por nós havia a fazer;
A minha paixão por ti era um lume
Que não tinha mais lanha por onde arder.
Etiquetas: canções de embalar em noites de insónias
sábado, outubro 23, 2010
Votos
Eu, que sei de cor o azul dos teus olhos, o dourado dos teus cabelos, que te conheço desde menino, eu, Meu Amor, − mesmo que, às vezes, não pareça − prometo ser-te leal, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, durante toda a nossa vida. Ainda.
Etiquetas: Meu Amor
terça-feira, outubro 12, 2010
segunda-feira, outubro 11, 2010
É deixá-las passar!
Ele, atendeu-a, com a voz mais bonita que alguma vez conhecera a um homem, aquela mesma que a prendera, muito antes de o conhecer fisicamente, muito antes de o ver, de conhecer o seu toque, o seu cheiro.
Depois dos cumprimentos iniciais, ela atirou sem grandes rodeios:
− Sinto-me na merda!
Não gostavam de asneiras mas ambos não se privavam de as utilizar quando só elas pareciam expressar na perfeição o que queria ser dito. Vezes sem conta haviam admitido que o amor não era difícil, não era tramado, não era complicado, o amor, esse só podia mesmo ser fodido!
Ele quis saber:
− Física ou emocionalmente?
Ela confessou com a voz embargada:
− Emocionalmente.
Há uns anos atrás, aquele seria o momento de ele mudar de assunto, começar a falar do tempo, dos CD`s que lhe tinham oferecido ou de outra coisa qualquer e, em última instância, se se sentisse muito encurralado, sem saber o que fazer com todo aquele tremelicar de voz, com aquele beicinho feminino, bater em retirada, justificando-se com trabalho.
Contudo, passados todos aqueles anos, solidarizando-se com ela, ironizou:
− Oh pá, esse é o meu departamento! Disso posso falar com experiência de causa! − E adivinhou-se-lhe o esboço de um sorriso empático.
Ela perguntou-lhe:
− Quais são os meus maiores defeitos?
Ele disse-lhe que a resposta não era simples. “É que, às vezes, os maiores defeitos são também as melhores virtudes”, afirmou sabiamente. Depois, elucidou com um exemplo: “Estás a ver quando uma mulher nos chateia?” Ela anuiu do outro lado da linha, sem contudo o verbalizar “sim, se estava!”, e ele concluiu: "É que isso aborrece-nos, mas a verdade é que ela é tão importante para nós que queremos ser chateados!”
Aquela figura de estilo, rude e tosca, masculina, arrancou-lhe um sorriso enorme, pois era assim que ela se sentia, a maior chata, e era assim que se queria sentida: ser amada por isso. Por gostar ao ponto de querer ter − e dar − atenção, afecto, amor, exclusividade.
− E as minhas maiores qualidades? − Continuou.
Ele não hesitou na resposta:
− Já nem vou falar na tua beleza e inteligência porque isso é óbvio. Tens princípios, és talentosa, tens um fantástico sentido de humor o que é fundamental numa pessoa, e tens essa coisa maravilhosa, tão tua, que é andares sempre à procura de ti, andares sempre em busca de algo mais e que faz de ti uma eterna descontente. Neste processo erras apenas numa coisa: em quereres pôr sempre os ponteiros à frente, no relógio, antevendo um final menos positivo.
Ela sabia que tinha esse defeito, tinha consciência disso, mas a experiência dizia-lhe que não existiam finais felizes.
Ele falou-lhe ainda da possibilidade de nunca ser tarde para recomeçar vidas novas, dos anos que ela ainda tinha pela frente e das capacidades que tinha para mudar o futuro que, naquele momento, lhe poderia, subjectivamente, parecer menos risonho.
E, no fim, disse-lhe aquilo que ambos sabiam que não era verdade, aquilo que ambos sabiam que nunca iria acontecer, porque, como num rio que corre e passa várias vezes no mesmo lugar nunca são as mesmas as águas que por ele passam, também todas as paixões têm o seu timming, todas as decisões nos relacionamentos têm o seu tempo certo.
− Vais ver, ainda nos vamos divertir imenso, os dois!
Ela ficou em silêncio, não respondeu.
Despediram-se cordialmente, ele agradecendo ela ter ligado; ela, ele a ter ouvido. Depois riram-se deste formalismo e desligaram, prometendo como sempre faziam − às vezes até com anos de intervalo pelo meio − voltar a falar-se em breve.
Ela sentou-se na borda da cama, olhando o telemóvel, já bastante mais calma. Lembrou-se que o seu amor por aquele homem a havia, um dia, num acto tresloucado de desespero, de tentativa vã de fazer sobrepor a dor física à insuportável dor emocional, levado a arrancar, com força, um punhado de cabelo. Sorriu ao constatar o absurdo que esse episódio, agora, lhe parecia. Sorriu ao tomar consciência que a paixão é efémera e que por ela não vale a pena sofrer pois não passa de um conjunto destrambelhado de reacções químicas, obsessivo-compulsivas, que o nosso corpo produz. Levantou-se, vestiu o casaco e saiu para a rua. É deixá-las passar!
Etiquetas: Meu Amor
Há dias assim...
Etiquetas: Há dias assim, Natalia Vodianova
domingo, outubro 10, 2010
Encores
Se eu experimentar outras peles, provar outras bocas, tocar outros sexos, não te importes. Eles, meu querido, – asseguro-te – jamais preencherão o teu vazio.
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Incapacidades
© Foto: Sofia Bragança Buchholz
Etiquetas: Meu Amor
domingo, outubro 03, 2010
O homem que não sonhava sequer o que era o amor
Antes de ser cativada, foi instruindo-o das regras, como se as houvesse, quando de sentimentos se trata, como se existissem certezas adquiridas quando se mexe com o coração. Ele ouviu-a, compreendeu-a e foi esperando, pacientemente, por ela, que acabou por vir todos os dias, primeiro à mesma hora, com a razão ainda a controlar, depois já um pouco mais cedo e, no fim, já muito, muito tempo antes, totalmente entregue à emoção.
Foram assim preenchendo o espaço em branco que os separava, pincelando a tela da descoberta, confessando gostos e preferências, maneiras de ser e de pensar, sorrindo como garotos, agindo como garotos, felizes como garotos, primeiro atrás de um ecrã de computador, depois em jantares românticos, depois já nos braços um do outro em quartos de hotel.
Dançaram juntos, andaram de mãos dadas, furtivamente, pela cidade, roubaram beijos um ao outro no meio da multidão, sem medo de serem vistos, não se importando com nada a não ser com estarem um com o outro, arriscando serem reconhecidos, serem, inconvenientemente, identificados. Ficaram horas acordados: oito, dez, dezasseis seguidas, mesmo quando a distância os apartava. Almoçavam juntos pelo telefone, trabalhavam juntos por e-mail, viam-se, falavam, tocavam-se pela Internet.
E o coração dela foi enchendo. Enchendo-se de dúvidas quanto às certezas que tinha como adquiridas na sua vida passada, enchendo-se de brechas por onde o amor dele foi entrando, avassaladoramente, como a água de uma barragem que rebenta; enchendo-se de afecto, de ternura, de desejo por ele.
E, quando ela, à deriva naquele turbilhão, lhe perguntou o que fazer com tantos sentimentos, o que fazer com aquele coração tão cheio, tão cheio que ansiava por ele todos os minutos, todos os segundos a que a paixão, no seu principio, tem direito, ele respondeu-lhe assim, como se fossem casados há muito, muito tempo: “vais trabalhar, deitares-te cedo, distraíres-te, ter uma vida normal”. E ela foi. Definitivamente embora da vida dele.
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